Com a fotografia nas mãos, me perguntava: o que revela esse olhar voltado para a lente da câmara, eternizado em preto-e-branco? Tudo ou quase nada? Talvez a pose ensaiada deixasse mais pistas, embora me fixasse nos lábios entreabertos. Vendo-a assim, serena, com uma passividade absurda, perco o fio da discórdia que tal sensação me oferece, ignorando os dez anos que se passou desde então. É um espaço de tempo paradoxal: quando a vejo, não percebo a sua passagem; como se as marcas físicas que se impõe a todos não a atingissem, apenas havendo o lastro da memória. Memória, diga-se, bastante vasta. Mas onde cada experiência se guarda ou se mostra é um mistério para mim. Conheci somente algumas, de relance, camufladas na linguagem usada e nas histórias que conta quando as lágrimas se tornam irreprimíveis. Os olhos, quando úmidos, dão um sentido de peso, de aniquilamento definitivo. Nessas horas, tento imaginar que força se imprime através deles, mantendo-os em expressão terminativa, de ultrapassagem de toda dor que se mantém oculta. Permanece à flor da pele por instantes, até que o viço fascinante de seu jeito se aninha nas dobras do corpo, me prendendo a atenção. Quantas coisas se perderam dentro do seu coração sincero, quantas se juntaram, se estenderam, se resgataram...? Dúvidas que a imagem estática de um retrato tirado há dez anos não responde. Sim, dez anos, e todas suas escolhas a trouxeram até aqui, instigante como uma paisagem, promovendo o que minha imaginação já perfez sobre a foto.
[Para Samara]
Nenhum comentário:
Postar um comentário