Pense em uma tarde nublada e como as pessoas reagem às nuvens no céu. Em como ficam em suas casas, sem nadar para fazer e sem lugar para onde ir, pensando em suas vidas. Uma hora e a televisão ligada, uma forma estranha de companhia, com os comerciais cada vez mais demorados. Uma hora e vemos coisas inúteis na nossa frente; vemos nosso silêncio na janela. Você vai e decide ligar para a pessoa que não encontra há meses, esquecendo como é seu rosto. A pessoa atende e fica surpresa, mas não sabe bem o que falar. Você lembra do tempo em que era jovem, e isso não significa mais nada para ela. O constrangimento é tanto que você acha melhor se despedir e desligar, antes que se sinta realmente embaraçado. Minutos depois está de volta ao seu sossego na frente da televisão, ela pelo menos disfarça sua simpatia com estranhos. A televisão arranca seu falso interesse justamente como você faria em uma mesa com amigos de infância que agora perguntam simplesmente o que você anda fazendo. O que você faz não interessa realmente a elas, assim como a televisão não se incomoda se você prepara o jantar enquanto ela fala para a sala vazia. Mas o som... O barulho é que se torna importante. Torna-se constante, na verdade, e isso é bom. Você dorme. Você acorda. Os rostos se revezam na sua frente, mas os sorrisos são sempre iguais. Sorrisos que prometem um dia glorioso, carregado de símbolos que lhe atravessarão por anos a fio. Mas, lógico, isso não acontece. Está fora de seus planos. O conforto é mais importante. Você decide ler um livro. Melhor, você decide escrever um livro. Um livro que todos irão ler. Um livro sobre dias inteiros vividos na frente da televisão. Um livro sobre suas vidas nubladas.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
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