segunda-feira, 26 de maio de 2008

Storytelling

Tenho inúmeros projetos literários na gaveta. Ou melhor, numa pasta aqui no computador. Falha minha dizer isso, ou quase, já que até pouco tempo atrás eu escrevia tudo à mão, num caderno da faculdade desviado de suas funções. Ao menos do último que me lembro. Escrevi em cadernos e agendas minha vida inteira, e muitos deles estão espalhados por aqui e na casa de meus pais. Às vezes gosto de lê-los e considerar o quão medíocre são meus textos de outrora, principalmente os anteriores aos meus 17 anos. Sim, porque costumo dividir meus textos de acordo com a idade em que os escrevi, ou etapa de estudo em que estava envolvido então: colégio, faculdade, etc. De qualquer forma, nenhum desses projetos foi levado adiante. Preguiça, inércia, incapacidade de desenvolvê-los a meu gosto, seja o que for, não foram adiante. Alguns estão resumidos a poucas linhas de contexto. Para outros, escrevi uma pequena sinopse, de mais ou menos 10 páginas. No fundo, meus pretensos romances já gerariam uma coletânea de contos por si só. E isso, apesar de ser uma brincadeira, não me deixa nada contente. Várias vezes tentei trabalhá-los conforme o planejado. Mas meu poder de sintaxe parece ser muito forte, pois não consigo modelar os capítulos de forma mínima satisfatória. O alcance da linguagem em certo período me parece dizer tudo o que seja relevante, matéria que em outras mãos se transformariam em 20, 30 páginas. Se eu assim fizesse, seria apenas embromação. Escritores que admiro enormemente e que gostaria que escrevessem meus livros: Mario Vargas Llosa, Ian McEwan, Edgard Telles Ribeiro, Milton Hatoum. Logicamente, nunca se dariam a esse trabalho. Ademais, a argila é minha. Quem tem que fazer o vaso sou eu. Renoir não delegou a idéia de seus quadros para outrem. Enfim, essas idéias vaidosamente grandiosas passam pela minha cabeça certos instantes. Quando pego minhas sinopses procurando uma solução, sempre considero a hipótese da coletânea de contos. Mas me incomodo bastante com isso. São muitas idéias par condensar em poucas páginas. Idéias que vislumbrei detalhadas em 200 e poucas páginas, sendo lidas e consideradas por pessoas que realmente as apreciem. Sabe, um livo de contos seria até possível, mas não com estes textos. Eles nasceram para ser grandes. Mas com tantos em mãos e nenhum forte e saudavelmente crescendo, sinto-me como uma mulher na eterna expectativa de ser mãe e perdendo um tempo precioso com tentativas fracassadas. Quero um livro feito pela força e inquietude da juventude, algo que me aproximasse de Rimbaud e tantos que expiaram o mundo na mais tenra idade. Haveria quem enxergasse a realidade através de meus olhos? Leitores meus, seria a glória. A concordância é a antítese que alimenta cada coração voltado à página em branco.

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