domingo, 30 de dezembro de 2007

Hello Goodbye [Parte Dois]

O que me tenha áspero, doído, em plena manhã complacente e refeita pelas mesmas mãos que ousam, numa provocação, numa desilusão, de breves formas afins, como um urso dormindo sob orvalho que finda na relva nascente; como o horror da morte lembrada por vivos absortos na indiferença, na incompreensão: o que te traz até aqui, o que te põe de pé, o que te alimenta e celebra os muitos caminhos ignorados pela nossa presença. O que somos além de corações descompassados com o mundo à espera?

sábado, 29 de dezembro de 2007

Hello Goodbye [Parte Um]

Uma noite, uma bebida quente para o inverno, do beijo um amor, refazendo novos planos sempre adiados, para longe e mais longe, entrevendo nos gestos a poesia corporal.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Meus Poemas Preferidos # 1

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor, no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.


Carlos Drummond de Andrade

À Luz Do Dia [Prólogo]

Você entra e vê, rostos nada sérios, no balcão do bar mesa de sinuca um trago e a mancha no chão, você entra e vê, que falta pouco para o dia nascer, e antes que as sombras se dissipem por completo, nada atingirá você, nada será concreto plástico, transformado pelo poder do ópio. Alguns sentados falam da filosofia, da sua filosofia, das conexões neurais alimentando os corpos com idéias completamente abstratas antes do primeiro raio solar, o som baixo, um jazz qualquer. Antes que alguém lembre de Miles Davis, fazendo a engrenagem funcionar no anteplano falando de disfunção cultural crônica, você lembra e vê, que um outro dia começou assim.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Destruindo Os Mitos # 4

Há algum tempo venho planejando uma resenha prévia de algumas adaptações literárias para o cinema que estão planejadas para este ano e para o próximo: todas de livros muito especiais para mim, como Ensaio Sobre A Cegueira. Falaria dos filmes, da minha relação com essas famigeradas adaptações, de como sinto, no papel de leitor, essa transição das páginas para à película... Andava sem tempo ultimamente, e eis que, antes que o texto ficasse pronto, leio uma crítica de um dos filmes que comentaria. Nada positivo, diga-se. Se esta resenha, publicada no site Omelete, confrontou o filme com base nas minhas mesmas perspectivas, e encontrou resultado tão decepcionante, imagino que sirva como antecipação dos lançamentos que virão. O cinema, diga-se, acaba às vezes arruinando imagens ludicamente perfeitas em nossa memória.


O Amor nos Tempos do Cólera
Faltam entranhas à adaptação do belo romance de Gabriel García Márquez [24/12/2007]

Quando li pela primeira vez O Amor nos Tempos do Cólera, um amigo que me emprestou o romance avisou categórico: "Cem Anos de Solidão é incrível, mas o próprio Gabriel García Márquez disse que este é o livro que ele 'escreveu com as entranhas'".
Se o colombiano prêmio Nobel de literatura realmente declarou isso ou não, não sei - e a história é boa demais para ser desmentida por uma eventual busca no Google. Gosto dela assim. De qualquer forma, o que falta ao filme que adapta o livro é justamente isso... "entranhas".
Mike Newell (O sorriso de Mona Lisa, Harry Potter e o cálice de fogo) é um diretor razoável, mas a passagem da apaixonada obra, supostamente inspirado pela história real do amor dos pais do escritor, às telonas é burocrática. "World Movie" demais. Talvez até assustada com a responsabilidade de transformar um dos maiores romances de todos os tempos em filme.
Numa primeira análise, salva-se a fotografia de Affonso Beato, que, como já era esperado, é linda, brilhante, com uma reconstituição de época competente (as tomadas externas de Cartagena são especialmente belas). Mas mesmo ela cai no lugar-comum dos papagaios, bananas e trepadeiras. Coisa pra inglês ver. Literalmente. Afinal, o filme é todo falado em "inglês exótico", com sotaque carregado, em detrimento do espanhol - língua falada por boa parte do elenco, como John Leguizamo (Terra dos Mortos), Hector Elizondo (O Diário da Princesa 2), Benjamin Bratt (O lenhador) e Catalina Sandino Moreno (Maria cheia de graça), todos em papéis secundários. E mesmo quem não fala espanhol tem nas línguas latinas seu idioma, como a brasileira Fernanda Montenegro (Casa de Areia), que consegue brilhar em algumas pequenas cenas como a mãe do personagem principal. Espanhol mesmo só na decente trilha sonora, especialmente composta pela conterrânea de Garcia Márquez Shakira, num tom completamente distinto de sua obra pop/rock habitual.
No papel do casal de protagonistas - Fermina Daza, amor perdido do apaixonado Florentino Ariza, que dedica 50 anos de sua vida a resgatá-la - estão Javier Bardem (Segunda-feira ao Sol) e a italiana Giovanna Mezzogiorno (O último beijo). A atriz não faz feio, convence em todas as fases da vida da personagem. Mas Bardem, pela primeira vez em sua carreira, parece deslocado, um pouco constrangido até. O homenzarrão que fez chorar em Mar adentro, que assusta em Onde os Fracos Não Têm Vez e causa repulsa em Sombras de Goya, aqui simplesmente não encontra o tom. O choro é fingido, o alento do sexo com estranhas é mal explorado e a dor de amor não é sentida, o que tira a força de todo o filme. O amor, força motriz da história, dessa forma parece mero capricho.
Garcia Márquez relutou por anos em ceder os direitos para a adaptação. Foi finalmente convencido depois dos produtores jurarem fidelidade à obra. Mas fidelidade em Hollywood não significa necessariamente entendimento à proposta. A adaptação de Ronald Harwood (O Pianista) mantém os elementos principais (supostamente o próprio Márquez revisou o texto) mas a falta de personalidade e sensibilidade do diretor limou todas as sutilezas, o erotismo, a trama intrincada e a profundidade dos personagens. O resultado é um mingauzinho leve... bem mastigadinho, coisa pra quem não tem entranhas mesmo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

The Blackwell Tunes - Covers # 3

I have a love
I have a love for this world
A kind of love that will break my heart
A kind of love that reconstructs and remodels the past
That adds the dryness to the dry August grass
That adds the sunshine to the magnifying glass
And makes me fight for something that just can't last

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Plastic Hearts

Fico e veio pensando, já de longe:
novos nortes para o mesmo paradigma.
Este concreto que me quebra os ossos
tornando o ar nos pulmões mais fresco
como o fogo purificado das boas ações.
Você me descansaria em seus olhos?
Fecharia as portas antes de dormir?
Todas as portas, para eu não entrar
e entregar minha surpresa nos detalhes
que arranham seu rosto
nas noites de frio.
Quem eu seria por obra do acaso
no filme que faz de sua vida?
Talvez o vilão sem lutar
no alçapão da memória
os bons fluídos que ignora, entrementes.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Destruindo Os Mitos # 3

A fé, em si, não importa. E sim o que fazem com ela. Inclusive orgia. Duas matérias publicadas no portal UOL.
Juiz condena Universal a indenizar viúva que doou carro por engano
da Folha Online

O juiz Jeová Sardinha de Moraes, da 7ª Vara Cível de Goiânia, condenou a Igreja Universal do Reino de Deus a indenizar em R$ 10 mil uma viúva que disse ter sido pressionada a doar seu carro à instituição e que depois, ao se arrepender, foi agredida e humilhada. Cabe recurso.
Segundo o TJ (Tribunal de Justiça) de Goiás, no processo, a viúva disse que a filha começou a freqüentar da igreja em 2005, após a morte do pai, e que logo passou a ser pressionada a fazer "doações exacerbadas", "sob a promessa de retribuição em dobro".
De acordo com a viúva, a moça chegou a vender utensílios domésticos e móveis --inclusive a cama em que dormia-- para doar mais dinheiro à igreja e que, em meio a isso, doou também o carro da mãe. Segundo a viúva, ela a convenceu a assinar um documento de transferência em branco sob o argumento de que iria vendê-lo.
Depois de perceber o golpe, a viúva foi à igreja reivindicar o carro, mas acabou "maltratada, agredida fisicamente e exposta à humilhação", ainda segundo o TJ.
Em sua decisão, Moraes considerou que a má-fé da Universal é incontestável, pois aceitou um carro de quem não era proprietária. Na sentença, ele ressalta que a filha disse ter sido pressionada pelos pastores a convencer a mãe a assinar o documento em branco. Para ele, a viúva tem direito à indenização por danos morais ainda mais pela reação dos integrantes da Universal ao pedido de devolução do carro.
Pastor do ES prega que cada homem deve ter sete mulheres
Da Redação
Em São Paulo

Baseado nas palavras da Bíblia, o pastor Justino Apolinário de Oliveira, 50, que atua em Vila Nova de Colares, no Espírito Santo, defende que cada homem possa ter sete mulheres. O pastor, que pertence à pequena igreja conhecida como Tabernáculo, cita uma passagem bíblica, do profeta Isaías, para defender a prática. Em entrevista ao jornal "A Tribuna", Oliveira afirmou que já manteve relações extraconjugais após uma suposta revelação que lhe veio durante um sonho. "Só liguei e disse: 'Olha, estou vendo desse jeito, você aceita?' Se aceitar, vou até seu pai para conversar com ele'. E ela aceitou", lembrou Oliveira, que vive com esta nova companheira há quase três anos após sua ex-mulher o abandonar. TrocasUma dona-de-casa de 24 anos, que mora em Vila Nova de Colares e segue a doutrina da mesma igreja, admitiu que teve relações sexuais com o pastor. Casada há sete anos e mãe de quatro filhos, ela contou à reportagem de "A Tribuna" que seu marido concordou e o pastor teria mandado duas mulheres para o companheiro dela "não ficar sozinho".Ela disse que dormiu na mesma cama com o pastor e sua mulher, mas que nos momentos íntimos os dois ficavam sozinhos. "Não senti prazer. Fui tudo pelo espírito. Foi de Deus", disse a dona-de-casa.Pela cidade, alguns fiéis discordaram da suposta troca de casais e abandonaram a igreja. Um deles foi o porteiro Carlos Robson dos Santos, 46: "Ele dizia que estava tudo na Bíblia. Falava, ainda, que os homens tinham que ter sete mulheres virgens ou viúvas", contou.Passagens da BíbliaO relacionamento do homem com mais de uma mulher aparece em trechos do Velho Testamento. Mas pastores alertam que a interpretação deve levar em conta o contexto histórico e cultural das épocas.O presidente da Associação de Pastores Evangélicos de Vitória, Abílio Rodrigues, condena a prática. "Quando se fala em sete mulheres para cada homem, no livro de Isaías, é uma profecia específica para o povo de Israel, que iria viver um tempo de guerra, em que não haveria homens para casarem com as mulheres. Não se pode firmar uma doutrina em cima disso. O apóstolo Paulo explica que o pastor tem que ser marido de uma só mulher", afirmou.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

I Bought A Gun, I Kill Myself [Capítulo 1]

Quando eu tocava Dylan, sozinho, achava que o amplificador mudava tudo. Ficava meio impreciso, mas funcionava. Eu olhava para o poster na parede, e era como se ele consentisse. Então ia mais fundo. Cada nota, um crime perpetrado. Ouvia repetidas vezes nos fones para me certificar. Quando a sessão terminava, estava exausto. Queria beber, e nada mais. Mas no terceiro copo, as idéias vinham novamente. Letras arranjadas pela atmosfera, dos que esqueciam a si mesmos nos fundos do bar. O homem silencioso, com o caderno aberto à sua frente. O que quer que fosse, aquilo me dizia respeito também. Mas como poderia chegar a ele? Sem fazer barulho, sem respirar... Em casa, as idéias já não funcionavam da mesma maneira. Ficava com os bolsos amarrotados de passagens a ser trabalhadas, sem ordem. Lembrava do caderno. O que estava escrito, afinal? Pensava nele, pontuando minha insônia, meu estado de ver as coisas, indo longe, muito longe. Como um maldito vidente, embora não entendesse as revelações.

The Blackwell Tunes - Covers # 2

So, so you think you can tell
Heaven from Hell
Blue skys from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
And hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish
How I wish you were here
We're just two lost souls
Swimmin' in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

The Blackwell Tunes - Demos # 3

O que for na verdade
será apenas parte do show
A grande fuga
de algum lugar perto daqui

Como posso na idade
assumir o que não sou
partilhando a vida suja
que faz estar e não sentir?

sábado, 1 de dezembro de 2007

The Blackwell Tunes - Demos # 2

Como nos demos bem
no seu jogo de infâncias
desenhadas em cartas de tarô
deixei de lado meus enganos
e segui pelo rio um desamor
que pôs fim em mim.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

The Blackwell Tunes - Covers # 1

Love me two times, baby
Love me twice today
Love me two times, girl
I'm goin' away

Love me two times, girl
One for tomorrow
One just for today
Love me two times
I'm goin' away

Love me one time
I could not speak
Love me one time
Yeah, my knees got weak

Love me two times, girl
Last me all through the week
Love me two times
I'm goin' away
Love me two times
I'm goin' away

Love me one time
I could not speak
Love me one time
Yeah, my knees got weak

Love me two times, girl
Last me all through the week
Love me two times
I'm goin' away
Love me two times
I'm goin' away

Love me two times, baby
Love me twice today
Love me two times, girl
I'm goin' away

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

The Blackwell Tunes - Demos # 1

Você nunca morre de verdade
se está jovem o bastante
Você nunca morre de verdade
se está jovem o bastante
E entender
como se vive longe de si.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Destruindo Os Mitos # 2

Matéria publicada no site Omelete. Você acha que os tempos estão mudando - ou não.

Em um papo que acontece regularmente com a Billboard, o baixista linguarudo do Kiss, Gene Simmons, falou um pouco sobre o presente e futuro da banda. Simmons disse que o Kiss vai fazer 15 shows nos Estados Unidos, acompanhando o campeonato de Fórmula Indy, e tem mais seis datas na Austrália e Nova Zelândia, tudo isso para dar apoio ao lançamento do terceiro DVD da Kissology, pacote de pelo menos dez DVDs que sairão nos próximos anos e pretendem contar a história da banda.
Quando perguntado sobre a possibilidade do Kiss voltar a estúdio em um futuro próximo, ele praticamente disse para os fãs perderem as esperanças. E a culpa é de quem baixa música ilegalmente pela Internet. Em suas palavras: "A indústria fonográfica está uma grande bagunça. Eu previ isso quando a garotada começou a baixar músicas de graça, disse que eles eram uns ladrões. Eu disse a todo selo e gravadora com os quais falei que eles haviam acendido o pavio de sua própria bomba e que ela explodiria embaixo deles e os mandaria para a rua".
"Não há nada em mim que queira entrar em estúdio e gravar novas músicas", continuou. "Como você vai comercializá-la? Como você será pago por ela se as pessoas podem obtê-la de graça? Eu lançarei um box set de Gene Simmons chamado Monster, uma coletânea de 150 músicas inéditas. E ano que vem faremos o mesmo com material do Kiss. Mas o fato é que a indústria fonográfica não tem a mínima idéia de como fazer dinheiro. E é culpa deles mesmos por deixarem as raposas entrarem no galinheiro e depois ficar pensando no porquê de não haver mais ovos ou galinhas. Cada guri de colégio, cada um desses folgados deveria ser processado até sumir da face da Terra. [A justiça] deveria ter tomado seus carros e casas logo no começo. Isso não me afeta de verdade, mas imagine a situação de uma banda nova, com o sonho de se apresentar ao vivo e gravar seu próprio álbum. Elas podem esquecer isso."
Questionado sobre as novas maneiras procuradas por bandas como Radiohead e Trent Reznor de comercializar suas músicas, Simmons continuou taxativo: "Isso não conta. Você não pode usar uma pessoa como exceção. E esse não é um modelo de negócios que funcione. Eu abro uma loja e digo 'entre e pague o quanto quiser'. Você está doido? Acredita mesmo que esse modelo de negócios funcione?".
O ícone do Kiss também não acredita que seja possível uma banda viver apenas de shows e merchandising, deixando que sua música seja baixada de graça. "Bom, esse é o erro mais estúpido que se pode cometer. A parte mais importante é a música. Sem isso, pra que se preocupar? Até mesmo a idéia de dar música de graça torna mais fácil fazê-lo. A única razão do ouro ser caro é porque todos concordamos com isso. Não há uma razão lógica para isso, exceto que todos concordamos e aceitamos a idéia de que o ouro custe uma certa quantia de dinheiro. Assim que você der às pessoas uma idéia que se desvie disso, há caos e anarquia. E é isso o que está acontecendo [com a indústria fonográfica]".
É bom lembrar que o Kiss é um dos maiores exemplos de enriquecimento com merchandising da indústria musical, tendo colocado a marca em praticamente todos os produtos possíveis e imagináveis, de camisinhas a caixões. Segundo o próprio Simmons, apenas companhias como a Disney e a LucasFilms batem o Kiss nesse quesito. Então, se Gene Simmons diz que uma banda não consegue sobreviver apenas à base de shows, talvez ele tenha alguma razão. Ou seu padrão financeiro de "sobrevivência" talvez esteja alto demais.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Válvulas Incandescentes # 5

Deixe-me sangrar. Deixe-me sangrar mais um pouco. Deixe e verá que o futuro provável será fumaça em seus olhos. Seus dedos finos como lâminas farão o resto. Eu não me importo com o que mais faça. Tenho meus cavalos, meus bravos cavalos para alimentar, e isto basta no momento. Os livros e rosas que me traz são para a ilusão do corpo.

sábado, 17 de novembro de 2007

Passa A Hora Passarinho [Diana]

A foto da princesa morta
[estampada no jornal]
Foi parar na lata do lixo
Na calçada corrida por meninos
Na gaiola dos passarinhos
Como os que Quintana previu.

Encontraria em seus sonhos
Um compasso sem igual
[na melodia e na beleza]
Transmitindo a beleza rival
De sua própria condição,
Marcando a hora de seu retorno?

Válvulas Incandescentes # 4

Quando o dia começa em fúria porque a noite inteira passou em clara escuridão (clara percepção), você não consegue pensar coisas realmente edificantes. Você distorce para os lados como se estivesse pendurado no abismo, fascinado pela idéia da queda. E nada do que veja e do que ouça ou fale pode resgatar a mente dessa confusão passageira, paisagem interminável. Poderia admitir? Os meus erros, a minha frustração, na medida em que o coração aceita e submete cada reação ao óbvio arrependimento. Porque os planos estão fugindo do controle. Porque já não se sabe bem como o amor pode deixar uma tarde assim, tão triste... Longe de um estado de espírito em que esteja seguro.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Destruindo Os Mitos # 1

Matéria publicada na Folha de S. Paulo


Biografia mostra lado amargo do criador de Snoopy
Por Raquel Cozer



Do telhado de sua casinha, no início dos anos 70, Snoopy batucava na máquina de escrever: "Docinho, sentiu minha falta?". As cartas de amor eram o começo da prolífica fase do beagle como escritor nas tiras da série "Peanuts". Eram também declarações do cartunista americano Charles Schulz (1922-2000) para uma moça por quem se apaixonara antes de se separar da primeira mulher. A transposição do romance de Schulz para os desenhos foi apenas uma das descobertas que o escritor norte-americano David Michaelis, 50, fez após seis anos mergulhado na vida e na obra do criador de Snoopy e Charlie Brown. Ela está em meio às 650 páginas da biografia "Schulz and Peanuts: A Biography", lançada mês passado nos EUA e sem previsão de lançamento no Brasil.
O cartunista, que completaria 85 anos no próximo dia 26, tinha o costume de reproduzir situações exatas de sua vida nos desenhos. "Ele nunca escondeu que havia muito de si nas histórias, mas é surpreendente a quantidade de recados que deixou nas tiras", diz o autor à Folha, por telefone, de Nova York.
Michaelis entrevistou mais de 200 parentes e amigos e se debruçou nas 17.897 tiras criadas pelo artista ao longo de 50 anos, hoje nos arquivos da United Media, que detém os direitos de "Peanuts".
O Schulz que resultou dessa pesquisa é amargo e sarcástico, capaz de guardar rancores por décadas. Michaelis constatou casos já conhecidos, como o de que Donna Johnson, uma ex-colega que rejeitou um pedido de casamento de Schulz, inspirou a Garotinha Ruiva, o amor não-correspondido de Charlie.
Mas descobriu, também, outras motivações. Lucy, sempre mandona e egoísta, dividia com Charlie Brown muito do que o cartunista vivia em casa com sua primeira mulher, Joyce. O casamento dava o tom da relação de Lucy com Schroeder --ela, sempre pedindo atenção; ele, envolvido com sua arte. Tais conclusões causaram mal-estar na família de Schulz, que ajudara Michaelis desde o primeiro contato, em 2000, três meses após a morte do cartunista. Ao responder ao e-mail do escritor, a viúva, Jean Clyde, contou que uma das últimas leituras de Schulz fora a biografia do ilustrador N.C. Wyeth -de autoria de Michaelis. "Era o voto de confiança de que precisava", avalia.
Jean garantiu acesso a cartas e documentos. Mas, quando o livro ficou pronto, ela e outros parentes renegaram a imagem que encontraram. Schulz, argumentaram, era alegre e divertido. "Dei a eles a chance de fazer correções, mas o fato é que a família não tem distanciamento para julgar a vida de alguém que ama", diz Michaelis.
Filho de um barbeiro alemão e de uma dona-de-casa de família norueguesa, Schulz levou para as tiras o cenário de distanciamento no qual foi criado. Em "Peanuts", a indiferença, mais do que a rejeição, é a resposta mais comum ao amor.
Nada que, segundo Michaelis, não pudesse ser reconhecido na atitude de Dena, mãe de Schulz, a quem a biografia descreve como uma pessoa "distante, evasiva". Dena morreu com câncer um dia antes de Schulz, convocado para a Segunda Guerra, partir para o quartel. Sua última --e traumática-- frase para o filho, "Nós provavelmente nunca mais vamos nos ver", seria reproduzida num diálogo em que Marcie e Patty Pimentinha falam sobre Charlie Brown.

SCHULZ AND PEANUTS: A BIOGRAPHY
Autor: David MichaelisEditora: HarperCollins

domingo, 11 de novembro de 2007

Depois Das Dez

Um disco velho, armário e livros
dormem lá fora
sob o encanto do sereno.
Eu pego as nuvens, se faço ou tento,
amainar para os lados de cá
na passagem da hora.

Válvulas Incandescentes # 3

Circunstancial foi o pedido de perdão que nunca veio. Com sorrisos amarelos estampados nas figuras, eles cercaram a mesa e procuraram ser gentis. Mas por que me engano? Em tudo o som de uma nota só, repartida na boêmia do desejo: não vou ceder, muito menos por você. E assim fica tarde pra viver do jeito que sempre quis, indefensável na dureza da terra, cultivando sossego.

sábado, 10 de novembro de 2007

Válvulas Incandescentes # 2

Nada mais longe da verdade: quando enxergamos a destreza dos que parecem superar-se na demência, ágeis como touros, nos damos conta que essas vicissitudes estão longe de serem superadas. Palavras duras vêm à boca, na incontrolável verborragia da revolta. O que esperam na sua pífia exclusão dos fatos? O que pensam explorar além da ira e relativismo: das emoções, das lembranças; da própria condição humana? Pois que me espanta a sua pobreza como indivíduos. Mas, onde haja qualquer resposta, não me convém encontrá-la. Os interesses, agora, são outros.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Válvulas Incandescentes # 1

Porque será sempre assim: você e eu, algumas notas, a melodia decrescente, e minha insatisfação de cada dia. Farei mudanças raivosas no arranjo, serei ridículo, serei ontem; e por todas as horas da semana. Como não pude prever o que era óbvio na sua tatuagem do calcanhar? Entre os projetos, desenhos aleatórios, sua sanha me esquadriando a noite inteira, e antes que pudesse dormir um pouco, as unhas marcando na sombra azul as minhas costas, fazendo eu pensar, até quando, até onde. Quando puder, eu desisto, abro mão do seu jeito, e vou pra vida à tarde trabalhar, na montagem e manutenção de corações solitários.