terça-feira, 17 de junho de 2008

Off He Goes

Sem idéias.

Sem palavras.

Sem vontade.



Isto termina por enquanto aqui.

Aos que passam, olá e até quem sabe quando.

domingo, 15 de junho de 2008

Life In Technicolor [Epílogo]

Fiz algumas alterações na versão anterior do texto, postada dias atrás e a publiquei em outro sítio, devidamente acompanhada de gravuras e o mais recente clipe, como pode ser conferido aqui.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Step Into My World


A cidade renova-se em planos constantemente. Planos assimétricos, mas que buscam se completar dentro de sua lógica. Observa-se uma avenida em toda sua extensão. Por quantas ruas é cortada? Quantos sinais e faixas de pedestres e pistas que permitam ultrapassagem, além da própria linha que segue, contornando as quadras com pequenas interrupções para retornos. As luzes realçam sombras que a cidade, como espaço pretensamente organizado, não vê. O terreno baldio entre uma loja e um prédio residencial numa área valorizada, as marquises que servem como abrigo para mendigos, os buracos próximos do semáforo, o material de construção espalhado na calçada por vândalos juvenis. Administrar uma cidade é pensá-la em termos presentes e futuros. Como esses problemas passam desapercebidos? Porque se não resolvidos, só tendem ao crescimento em todas as vertentes. Planejamentos estruturais funcionam no macroespaço, mas ignoram o que se sucede em cada esquina. Os projetos não sobrevivem às ruínas do alicerce. E mesmo que as saliências peremptórias da realidade socioeconômica sejam soterradas pela ignorância permissiva, por quanto tempo as metas tracejadas são viáveis? Até onde o futuro pode ser considerado, de forma a nos ser subserviente e restrito pelo o que ditamos agora? Ou as revoluções que vejo não se manterão em pé após serem ignoradas de maneira tão acintosa... A cegueira pública sempre se interpôs no curso da História. E assim a assistimos outra vez.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Past In Present

Revivi o dessasossego de uma lembrança muito distante, que surgiu com tintas obscuras diante de meus olhos. Passava pela porta de um colégio quando aconteceu. Uma criança com olhar triste à espera de alguém para buscá-la. Se essa fosse a única razão de sua expressão desolada, me ofereceria num mundo ideal para deixá-la em casa. Mas senti que havia algo além. Havia devaneios sem nome, uma sensação de cansaço que parece não ter fim... Como vivia nesta idade. Entre o presente muito vivo e estranho e o futuro cercado de uma atmosfera perigosa, em que os rostos conhecidos viravam máscaras de terror. Nunca lidei de maneira satisfatória com esses anseios, e talvez por isso não me eram muito frequentes os questionamentos. Mas o tempo respondeu algumas expectativas, outras não, e a contemplação firmou-se em novos planos, mais profundos como as coisas próprias de cada idade. Só que o rosto daquela criança, retornou tudo. Retornou a mim a sensação de problemas não resolvidos e a certeza de que somos frágeis diante da insurreição do inconsciente, incompreendido sempre. E por todos esses anos já vividos, vou cada vez mais longe nas respostas.

The Blackwell Tunes - Covers # 8


Love, Love, Love. Love, Love, Love. Love, Love, Love
There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say but you can learn how
to play the game. It's easy
Nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can do but you can learn how
to be you in time. It's easy

All you need is love. All you need is love.
All you need is love, love. Love is all you need.
All you need is love. All you need is love.
All you need is love, love. Love is all you need.

Nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
Nowhere you can be that isn't where you're meant to be. It's easy

All you need is love. All you need is love.
All you need is love, love. Love is all you need.
All you need is love (All together, now!) All
you need is love. (Everybody!)
All you need is love, love. Love is all you
need (love is all you need)

Yee-hai!
Oh yeah!
She loves you, yeah yeah yeah
She loves you, yeah yeah yeah

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Life In Technicolor


Ouvi Coldplay pelo primeira vez por insistência de amigos. Era o ano de 2001, e existia toda aquela onda em torno de Yellow e Troble entre minha turma, que andava meio enfadada dos mesmos sons que curtíamos então. Só que o disco não me pegou e vivi na verdade minha fase com Stereophonics, tudo por causa do excelente Performance And Cocktails, que pegara emprestado. Mas não tardou as coisas mudarem. Mudei de cidade no ano seguinte, e na minha nova escola conheci quem gostava mesmo do Parachutes. Foi bacana dar uma nova chance a pequenos clássicos como Don't Panic e High Speed, embora Shiver fosse minha favorita. E foi justamente em 2002 que A Rush Of Blood To The Head saiu. E, como sabem, foi justamente com esse disco que o Coldplay se tornou o que é hoje: vendagem expressiva, hits radiofônicos; acabou conhecido do grande público. Se estivesse escrevendo um livro, esse seria o ponto ideal para escrever "fim". O lado interessante da história termina aqui. Porque depois veio a fama e o sucesso e o enquadramento no mainstream e o ego de Chris Martin. O fato é que a tour do disco novo foi extensa, rendeu um DVD ao vivo e revelou a ambição que virou sinônimo de deboche e ironia sobre a banda: o Coldplay queria ser U2. É um pouco engraçado isso, pois outros grupos contemporâneos mostraram-se dispostos a conseguir o mesmo, a exemplo do The Killers. Para mim, esse desejo é meio ambíguo, mas enfim, esperava que tal vontade não afetasse a música que fariam em diante, já que seus últimos sucessos, como Clocks, apontavam para algo mais, digamos, distante do intimismo e crueza dos primeiros singles. Lá se foram 3 anos até a chegada de X & Y, o terceiro de estúdio na carreira deles. De cara criei uma ligação especial com o disco por uma série de acontecimentos na minha vida, que na minha cabeça me pareciam bem transpostos nas músicas. De alguma forma estava tudo lá, e quando ouvia What If, Square One ou Talk, me sentia mais imerso nos meus problemas e dúvidas do que nunca. Lógico, isso me fez pensar que Chris Martin e sua turma tinham produzido uma obra-prima, um álbum magistral e antológico. Mas essa opinião não foi compartilhada por todos. Ao contrário, boa parte da crítica decidiu bater no trabalho de todas as formas, o que obviamente não afetou as vendas nem o número de público por show. O disco anterior tinha blindado a banda. Com o tempo fui enxergando no X & Y novas dobras, novas expressões que me passaram batido nas audições tocadas pela introspecção. Não, não era uma obra de gênio. Mas continuava bom. Cheguei a percebê-lo apenas como uma continuação preguiçosa do A Rush Of Blood To The Head, uma evolução mínima que se descarregava em detalhes por cada faixa. No fundo, o Coldplay apenas se transfigurava a cada lançamento. O que esse pensamento capta de essencial vale para a interpretação que o quarto disco, com lançamento previsto para o dia 17 de junho mas previamente vazado na internet, impõe. Viva La Vida Or Death And All His Friends veio à luz anunciado por várias notícias que saíram nos últimos meses. Desde a escolha do produtor Brian Eno, passando pelas novas influências até a descrição de algumas músicas feitas pelo próprios músicos, tudo saía na imprensa. Mas a escolha do título, e a razão que levaram Martin a associar Frida Kahlo à sonoridade que rondava o estúdio nas gravações pareceu o fato mais intrigante. Mesmo aos que aproveitaram a citação para satirizar o que vinha pela frente, não havia quem arriscasse com exatidão como seriam as músicas. A verdade é que as mudanças anunciadas vieram, mas ainda tímidas. Ao menos não na intensidade que a banda poderia oferecer, se assim quisesse. Sim, há mudanças rítmicas em boa parte do álbum, novas texturas partindo da primeira faixa, Life In Technicolor, e que se extendem nas subsequentes, com ligações sutis entre elas. Na introdução de novos instrumentos e novas batidas, o grupo foi cauteloso, mas não sufoca a melodia de belos temas com camadas sobrepostas. Está tudo lá, exigindo apenas uma auscultação mais atenta. Quando ofereceram o primeiro single, Violet Hill, para download gratuito em seu site oficial, a imprensa e os fãs chegaram a supor que o disco seguiria a sua linha. Com sua guitarra suja e batida maciça impondo-se, marcante, a canção encarna uma das facetas em que escolheram investir. A mão do produtor mostrou-se precisa em induzir menos do que realmente existe, sem entretanto perder a autenticidade. O interessante é que não decepciona de verdade, não importa se quem esperava mais do mesmo ou aguardava mudanças que o colocassem num novo patamar. Incluso na última categoria, fiquei afoito, vergonhosamente afoito quando o baixei e ouvi pela primeira vez. Fiquei, confesso, ignorando mais o que o disco trazia e menos minhas expectativas. Mas ele me pegou, afinal. Sem dúvida, os tons que permeiam o disco são mais vivos, dando razão à comparação de Martin. As notas revelam-se e se contraem num plano de fuga que, surpreedentemente, não cheira à indecisão. As cartas são dadas na medida em que as novas experimentações foram absorvidas. Transfigurando-se nos nuances como sempre quis, o Coldplay mostra fôlego para tentar novos espaços sem arriscar perder os fãs, tal qual o U2. E com essa pequena ousadia segue agradando, inclusive a mim.



Em tempo: a sensação de proximidade com as músicas repete-se mais uma vez comigo. Talvez cada disco deles apareça no momento certo, vai saber...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

On The Sly

Para um homem e seu tempo é difícil lidar com tudo que aconteceu antes e depois de qualquer memória. Com tudo que houvesse antes da presença do verbo, da certeza do corpo, do silêncio do mundo. Ou haveria? Para o homem e seu tempo, entrementes o individualismo e suas extensões o porão na vasta vida de incertezas para o agora, distinto de escolhas que não lhe coube tomar. Sobre[tudo] o nada.



domingo, 8 de junho de 2008

Sunday Morning Call [Parte Dois]


Escrevi uma resenha sobre o último livro do Nick Hornby. Depois que foi publicada, comecei a achar que poderia tê-la escrito de outro jeito. Não sei, de repente algumas passagens me soaram bem resumidas, e isso talvez não estimule muito a ler quem não conhece o autor. Condensei muitas coisas em poucas linhas. Sim, eu sei que dificilmente alguém o procure a partir desse livro, até por ser o menos indicado para entrar no seu universo ficcional, mas enfim... Queria que o interesse fosse genuíno, de qualquer forma. E ele é bem bacana, afinal. Bem, aí vai a matéria, postada em outro sítio:


"Talvez o escritor mais pop do mundo, em todo o poder desta expressão, Nick Hornby aporta nas livrarias brasileiras com o seu mais novo lançamento, Slam, voltado para o universo juvenil, tratando de um tema nada amistoso: gravidez na adolescência.

Escritor marcante pela verve irônica e proximidade de seus personagens com a realidade contemporânea, já teve três de suas obras adaptadas ao cinema, como Alta Fidelidade e Um Grande Garoto, todas com sucesso. Com sua fórmula cheia de citações musicais e sentimentos familiares a nossa geração, Hornby criou um público cativo para seus livros, ainda que tenha produzido textos controversos, a exemplo de Uma Longa Queda, de teor adulto e carregado, que também está tomando o caminho das telonas.

Agora, voltando seu trabalho para um público mais jovem, o autor inglês traça a vida de um adolescente que vê suas perspectivas mudarem com a gravidez da namorada. O tratamento dado não chega a ser leve, mas passa longe de ser uma compilação didática do tema ou uma lição moralista sobre os riscos do sexo sem prevenção. Até porque esse tom soaria dissonante de sua obra.

Os conflitos vividos pelo personagem principal, Sam, e sua namorada Alicia surgem genuínos diante da complexa situação que enfrentam, com problemas difíceis de lidar para sua idade, 16 anos. Apaixonado por skate e sem grandes preocupações com o futuro, Sam vê seu mundo mudar drasticamente com o filho que se avizinha. Procurando ajuda com seu “amigo” Tony Hawke [ou melhor, com o pôster do famoso skatista pregado na parede de seu quarto e com quem julga conversar], o protagonista abre espaço para questionamentos sobre mudanças em sua vida e na realidade a sua volta. Afinal, precisa assimilar as angústias e cobranças que crescem junto com a barriga da namorada, e lidar com a nova postura que as mudanças impõem.

Em seus melhores momentos, Hornby repete neste livro a qualidade que o consagrou: falar um pouco de quem o lê e se identifica nas peripécias imaginadas por ele. É até um lugar-comum reconhecer-se em personagens como Will e Rob Fleming. Embora utilize recursos duvidosos para antecipar as agruras de seu novo protagonista, no fundo trata de uma pessoa comum com um problema cada vez mais comum para lidar. E que vive um cotidiano reconhecível: SMS, X-Box, Green Day, Jennifer Aniston e Starbucks.

O autor estabelece um diálogo honesto com os elementos mencionados, tornando desconcertante algumas passagens por serem antes críveis que cômicas. É capaz de basicamente contar a mesma estória várias vezes e ainda assim serem sempre imprevisíveis, pois como cada um de nós, seus personagens levam tombos e quedas na vida. O importante é saber como se levantam. E disso Nick Hornby mostrou que sabe falar como poucos, seja para uma geração ou para outra."

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Closing Scene

Até onde me lembro, sempre tive uma trilha sonora para cada dia da minha vida. Às vezes penso que meus headphones são uma extensão do meu próprio corpo. Antigamente, no tempo de colégio, andava com meu discman na mochila, limitado ainda pela disponibilidade da minha discografia "física", ou seja, pelos discos que comprava. Não eram muitos, e a maioria das mesmas bandas, pois sempre gostei de comprar todos os álbuns de um grupo que eu goste. Gostava de sentar no pátio ouvindo minhas favoritas enquanto a aula não começava. Algumas bandas que curtia na adolescência como Oasis e Dinosaur Jr ainda escuto, mas outras como Aerosmith e Guns 'N' Roses perderam definitivamente espaço em qualquer tracklist que eu faça. De qualquer forma, foi nessa época que minha comunicação com o resto do mundo foi mudando. Os phones são poderosos meios de isolamento, porque dificilmente alguém perde tempo insistindo em conversar com quem parece longe demais de qualquer lugar. Sim, porque a música me transporta de uma forma meio... transcendental no pensamento, se é que algum de vocês que estejam me lendo agora imaginem como isso acontece. É como se eu criasse imagens e intuísse percepções sobre elas partindo do som que esteja rolando nos meus ouvidos. Ou na minha cabeça mesmo, porque muitas vezes acontece de eu escutar um disco ou uma música sem necessariamente ouví-lo, mas isso é outra história. Enfim, foi assim que aconteceu comigo: a música se tornou tão presente no meu cotidiano que passei a relacionar eventos e datas ao que estava escutando então. Essa associação foi criando um enorme acervo sonoro na minha memória com arranjos e combinações infindáveis. Bandas como The Beatles e Pearl Jam já listam tantos indicativos temporais que juntos, já responderiam por uns cinco anos da minha vida. Logicamente, não no espaço-tempo contínuo, mas acho que deu pra entender. E, com o advento do mp3 player, foi que a revolução mesmo aconteceu. Ou bagunça, como preferir. Imagine que minhas limitações técnicas mencionadas, a do cd com média de 12 a 15 faixas, foram subitamente descartadas para a possibilidade de 100, 130 ou mais músicas de uma só vez, dependendo da capacidade de armazenamento do aparelho. Sim, um espanto. Bastava colocar uns 6 discos na sequência que preferisse, ou mesmo só as músicas que mais gostasse de cada um, e sair contente pelas ruas ignorando os ruídos chatos da cidade. E, o mais importante, não dependia dos discos que comprasse. O significado de baixar um disco tornou-se superlativo com esses "tocadores de mp3", porque agora carregava-se o arquivo digital para onde quiséssemos e ouvir quando desse vontade. E a crescente expansão da internet, seus recursos e sua velocidade, trouxe o acesso a material apenas vislumbrado antigamente, a menos por mim. Combinação perfeita. Pra completar, o cenário musical contemporâneo se enche de novidades num ritmo que as gravadoras nem de longe conseguem acompanhar. Para que esperar o lançamento de um álbum no Brasil, provavelmente saindo meses depois do resto do mundo, quando antes de qualquer lançamento oficial ele já está disponível no blog ou site mais próximo? De repente, você percebe que faz download de maneira quase compulsiva, querendo conhecer bandas ou artistas que, no esquema antigo de cd vendido na loja e por um preço pouco amistoso, não teriam a menor chance de serem ouvidas. Perdiam a preferência para os já conhecidos. No final das contas, a realidade passou a ser movida a música. Esperar ônibus se tornou menos sacal, pelo menos. Também fazer compras no supermercado ou qualquer exercício como caminhar. Para tudo isso existe uma trilha sonora como disse, e que varia a qualquer momento. Quando você está totalmente acostumado a esse estilo de vida, é muito ruim quando sai dele abruptamente. Muito ruim mesmo. Foi o que me aconteceu na última sexta. Fui dormir ouvindo o último lançamento do Metric [que, diga-se, funciona muito bem para essas horas] e acordei com meu phone pifado. Não sei bem como aconteceu. Talvez tenha dado algum puxão durante o sono, sei lá. O fato é que ele não funciona mais. Fui na loja e a marca que gosto de usar estava em falta, com previsão de chegada de novo estoque em 15 dias. Pensei: que terror. Mas tudo bem, seriam duas semanas em que voltaria à realidade de uma forma bastante estranha, qual seja, ouvindo o som do mundo. Conversas, carros, propagandas, eventos, portas, pedintes, enfim, tudo o que participa da cidade e que me era alheio há tanto tempo. No começo foi algo próximo de uma reeducação cognitiva. Lidar e apreender o que estava em curso ao meu redor. A primeira conclusão a que cheguei foi que o barulho das ruas me incomoda mais que qualquer coisa que eu não goste de escutar. Até porque, e essa é a grande ironia, fazem parte do ambiente. Os camelôs colocam DVDs piratas de bandas de forró a toda altura em suas banquinhas, o que é extremamente escabroso. Mas aqui isso não afasta as pessoas. A cultura daqui aprecia essa perturbação em que se distingue somente algo do tipo "sou cabra safado" e "você não vale nada". Têm pedidos de esmolas que se prolongam por várias esquinas, em maior ou menos grau de penitência. Tem o comércio popular com suas ofertas propagadas num alto-falante mono, pelo vendedor de dicção péssima. E os templos evangélicos, todos iguais na gritaria em que se transformam os cultos vespertinos. Parecem pregar por coação. Mas o pior são, sem dúvida, os ônibus. Nem vou mencioar os que ligam o rádio mal sintonizados em estações de música brega. Diriam que estou apelando. Falo mesmo dos freios sem manutenção que, em constante uso, produzem um ruído agudo mais incômodo que choro de bebê. Da sensação de desmonte iminente que o ônibus passa ao acelerar ou cair num buraco. Parece que a frota é renovada com lata velha. O único lado bom do transporte coletivo nessas horas é que você participa involutariamente das conversas alheias. Ouve-se diálogos entrecortados, às vezes iniciado ainda na parada e que não chega ao fim antes da descida no ponto pretendido. O resto você tem de adivinhar. Aí você percebe a matéria humana, em suas reclamações do trabalho, dos problemas familiares, de algum acaso ou acontecimento excepcional na vida de um desconhecido. É o momento em que me aproximo dos outros sem precisar interagir com ninguém. Você apenas senta e escuta o que dizem no assento da frente. Tenta adivinhar que livro comentam, qual o nome da garota que deixou o cara tão impressionado. Isso é bacana. Não me tirem por intrometido. Não é pela vontade de saber da vida alheia. De forma alguma. Até porque o grande lance é o que contam, e não quem fala. É conhecer histórias, de livros sendo escritos agora, o que no fundo cada um de nós é. É assimilar melhor o que acontece dentro de cada um, para que cada rosto perca a indiferença em que se mascara e que é tão desinteressante. Isso é que me fará falta de verdade quando eu comprar uns phones novos e voltar ao isolamento musical.

terça-feira, 3 de junho de 2008

The Day Today

Todas as pessoas preechendo o dia com a fumaça de seus cigarros acesos pela manhã esquecem o rádio ligado na cozinha falando sobre as últimas notícias da noite anterior. O dia começa com os outros apressados em seus carros, alguns de passagem para a avenida que abraça o rio, indo caminhar. No pensamento que povoa essas primeiras horas iluminadas por um sol tímido estão os encontros especiais que não acontecem por quilômetros de distância. Encontros imaginados pelo olhar, pelo cheiro, pelo toque. Mesas de café adivinhadas com romantismo descansado, enfeitadas pelo desejo que se volta no coração. Abraços prolongados pela vontade do corpo, na intimidade da paixão. Por instantes, os amantes são felizes em sua insatisfação,
dragados pela ilusão.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Playground Love

Eram encontros noturnos
que disfarçavam meus sonhos de prazer,
sempre carregados pela eletricidade do ar.
Eram além dos muros
beijos cheios de calor que nos faziam esquecer
o descompasso dos corações em amar.

domingo, 1 de junho de 2008

Sunday Morning Call [Parte Um]

Farei-me entender em poucas palavras por enquanto. Os cinco melhores discos para começar um domingo e que descobri recentemente:

1.Rilo Kiley - Under The Blacklight
2.Stars - Set Yourself On Fire
3.Russian Red - I Love Your Glasses
4.Broken Social Scene - You Forgot It In People
5.This Is Ivy League - This Is Ivy League

Cause = Time

Em que devemos consumir nossa existência? No que devemos gastar nosso tempo? O que realmente é significativo a ponto de representar um sentido para nossas ações? O que me faria perder o sentimento de vazio que percorre certas horas do dia? Tornar-me-ia um completo traço mecânico se essa representasse a razão. Um indivíduo amarrado na rotina que esvazie seu cérebro. Nós temos leis humanas e naturais que permitem isso. Leis físicas, que ultrapassem qualquer barreira axiológica imposta. Mas algo intervém. Minha consciência crítica me impede de ser assim. Talvez minha incosciência seja crítica também e de acordo. Eu sou o jaguar rondando a presa que adivinha pelas sombras na floresta. Sou Londres evacuando seus prédios e escritórios pelo medo paranóico de mais um atentado. Quem entende Londres? Não interagimos com a menor das cidades. Apenas passamos por ela. As cidades, em seus conceitos decimais de organização social, são estranhas pela manutenção do espaço sem tempo. Como um salvo-conduto. Quem pode prever as distrações? Mas são elas que substanciam a divagação elementar. Você precisa pegar um ônibus para chegar em algum lugar, por exemplo. Ler um livro para realizar determinado trabalho. Fechar os olhos para pensar melhor. Beber, comer, dormir. "I was the sound before the letters", disse L. Campbell. Por isso eu nunca entendo. Por isso continuo ignorando a resposta.