terça-feira, 7 de outubro de 2008

Don't Look Back in Anger

Meus amigos e inimigos, despeço-me aqui de vocês. Quando comecei este blog, tinha em mente a postagem de uma série de textos que viriam a ser [ou assim pretendiam] meu futuro romance, The Blackwell Tunes. Tanto assim o é pela experimentação estilística que marcou as primeiras postagens, totalmente inconsequentes nas suas pretensões. Mas a idéia foi crescendo e seguindo uma linha no estilo "olhar perdido de uma crônica anunciada". Falei de pessoas e lugares, da minha cidade e de outras. Falei de mim mesmo, que foi o que penso ser o que mais fiz. E falei do nada, de dias sem nada especial a acontecer, de matérias que arrisquei fazer e de notícias do mundo louco, cada vez mais louco, que está aí, rugindo com a besta do fim dos tempos. Enfim, o blog virou parte de minha vida e, espero, das suas também, meus amigos e inimigos. Mas fatos maiores a minha vontade me arrastaram para outros lados que, agora sei, não convêm mais a este ambiente. Dilacere seu coração e não saberá o que fazer a seguir. Pois este é o estado das coisas, e assim será de forma irreversível na sua própria lógica. Nada é igual depois que muda de alguma forma. Sinto tristeza por estar encerrando esta realidade fragmentária que alimentei por meses na mais absurda indiferença moral, porém não posso ignorar o resultado conquistado. Sou orgulhoso de cada catarse literária atingida. Espero que a sua verdade e o seu tempo tenham significado para alguém além de mim, embora isso não seja fundamental. O ponto é, encerrar as atividades do blog agora é inevitável pelo rumo que minha vida tomou desde junho, fugindo do contexto no qual abrigavam-se a memória e a linguagem aqui depositadas. Obrigado pelos comentários e incentivo recebidos. Abraço para todos e boa sorte. LIVE FOREVER.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

No More Empty Words [Parte Dois]

Ouvindo vozes no caminho da celebração. Ouvindo no caminho vozes da celebração. Ouvindo celebração no caminho das vozes. Nada por lugar. Lugar é nada. Eu sou tu és nós existimos. Existimos... Isso não é um abuso. São os olhares cínicos que me provocam isso. A vontade. A satisfação. A vontade de insatisfação premente vazando pela acidez da rotina. Digo outra vez.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

No More Empty Words [Parte Um]

Sim, eu cheguei perto. Bem mais perto. Tudo era escuro, é o que posso dizer. Ou você se interessaria por mais? Não vale a pena. É como estar morto, mas com os olhos abertos. Você vê e absorve, mas não diz palavra. Porque as palavras vão e vão, até que não exista mais nada. Recorra na memória à sensação de cair num abismo. Mais ou menos assim. A palavra diz, mas não traduz de fato o que a memória quer expressar. É como estar morto. Pronto. Você não entende os mortos até que esteja entre eles. Mesmo com seu corpo funcionando, embora esse seja o único canal de sua existência ao mundo exterior. O corpo é a expressão que falta à palavra, porque está lá, contorcido, irado, quebrado, dilacerado; o corpo não está, na verdade. O corpo, que seja. É um sinal agudo de extravagância em cores opacas. Você que o veja interprete as linhas transparentes nas palavras. Entende? Essa é a conexão. E como um parto, uma vinda inesperada, uma chegada entre nuvens escuras e tempestade, uma ressurreição propriamente, eu pude ver o que antes não enxergava, pude tocar o que antes não sentia, pude ter em mãos o que antes não entendia. Ainda que vacile e deixe resvalar para o chão. Mas não faz mal. O Verbo, como antepasto da iluminação divina, brotou com lisura nas mentes e corações a anunciar-me um princípe caído mas com boas intenções, e todos cerraram os lábios num sorriso quando fiz o que me era original. Pelos becos, para encontrar e saudar os que vinham, de partida. Mesmo os conhecidos, os olhos não me eram traços com algo vulgar: eram familiares, aconchegantes. Eram, percebi, meus próprios olhos. Olhava para dentro de mim, e reconheci alguma coisa. Foi assim que tudo aconteceu. Daí então, em passos largos, cruzei o caminho à maneira de uma casa de espelhos às inversas. Espectro soturno, recuperava um pouco a cada passagem. E embora haja pedaços ainda em alguns lugares, recuperei o essencial por hora. Retornei por fim à consciência na madrugada em que as palavras ficaram por um fio. Retornei. Fim.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Off He Goes

Sem idéias.

Sem palavras.

Sem vontade.



Isto termina por enquanto aqui.

Aos que passam, olá e até quem sabe quando.

domingo, 15 de junho de 2008

Life In Technicolor [Epílogo]

Fiz algumas alterações na versão anterior do texto, postada dias atrás e a publiquei em outro sítio, devidamente acompanhada de gravuras e o mais recente clipe, como pode ser conferido aqui.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Step Into My World


A cidade renova-se em planos constantemente. Planos assimétricos, mas que buscam se completar dentro de sua lógica. Observa-se uma avenida em toda sua extensão. Por quantas ruas é cortada? Quantos sinais e faixas de pedestres e pistas que permitam ultrapassagem, além da própria linha que segue, contornando as quadras com pequenas interrupções para retornos. As luzes realçam sombras que a cidade, como espaço pretensamente organizado, não vê. O terreno baldio entre uma loja e um prédio residencial numa área valorizada, as marquises que servem como abrigo para mendigos, os buracos próximos do semáforo, o material de construção espalhado na calçada por vândalos juvenis. Administrar uma cidade é pensá-la em termos presentes e futuros. Como esses problemas passam desapercebidos? Porque se não resolvidos, só tendem ao crescimento em todas as vertentes. Planejamentos estruturais funcionam no macroespaço, mas ignoram o que se sucede em cada esquina. Os projetos não sobrevivem às ruínas do alicerce. E mesmo que as saliências peremptórias da realidade socioeconômica sejam soterradas pela ignorância permissiva, por quanto tempo as metas tracejadas são viáveis? Até onde o futuro pode ser considerado, de forma a nos ser subserviente e restrito pelo o que ditamos agora? Ou as revoluções que vejo não se manterão em pé após serem ignoradas de maneira tão acintosa... A cegueira pública sempre se interpôs no curso da História. E assim a assistimos outra vez.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Past In Present

Revivi o dessasossego de uma lembrança muito distante, que surgiu com tintas obscuras diante de meus olhos. Passava pela porta de um colégio quando aconteceu. Uma criança com olhar triste à espera de alguém para buscá-la. Se essa fosse a única razão de sua expressão desolada, me ofereceria num mundo ideal para deixá-la em casa. Mas senti que havia algo além. Havia devaneios sem nome, uma sensação de cansaço que parece não ter fim... Como vivia nesta idade. Entre o presente muito vivo e estranho e o futuro cercado de uma atmosfera perigosa, em que os rostos conhecidos viravam máscaras de terror. Nunca lidei de maneira satisfatória com esses anseios, e talvez por isso não me eram muito frequentes os questionamentos. Mas o tempo respondeu algumas expectativas, outras não, e a contemplação firmou-se em novos planos, mais profundos como as coisas próprias de cada idade. Só que o rosto daquela criança, retornou tudo. Retornou a mim a sensação de problemas não resolvidos e a certeza de que somos frágeis diante da insurreição do inconsciente, incompreendido sempre. E por todos esses anos já vividos, vou cada vez mais longe nas respostas.

The Blackwell Tunes - Covers # 8


Love, Love, Love. Love, Love, Love. Love, Love, Love
There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say but you can learn how
to play the game. It's easy
Nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can do but you can learn how
to be you in time. It's easy

All you need is love. All you need is love.
All you need is love, love. Love is all you need.
All you need is love. All you need is love.
All you need is love, love. Love is all you need.

Nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
Nowhere you can be that isn't where you're meant to be. It's easy

All you need is love. All you need is love.
All you need is love, love. Love is all you need.
All you need is love (All together, now!) All
you need is love. (Everybody!)
All you need is love, love. Love is all you
need (love is all you need)

Yee-hai!
Oh yeah!
She loves you, yeah yeah yeah
She loves you, yeah yeah yeah

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Life In Technicolor


Ouvi Coldplay pelo primeira vez por insistência de amigos. Era o ano de 2001, e existia toda aquela onda em torno de Yellow e Troble entre minha turma, que andava meio enfadada dos mesmos sons que curtíamos então. Só que o disco não me pegou e vivi na verdade minha fase com Stereophonics, tudo por causa do excelente Performance And Cocktails, que pegara emprestado. Mas não tardou as coisas mudarem. Mudei de cidade no ano seguinte, e na minha nova escola conheci quem gostava mesmo do Parachutes. Foi bacana dar uma nova chance a pequenos clássicos como Don't Panic e High Speed, embora Shiver fosse minha favorita. E foi justamente em 2002 que A Rush Of Blood To The Head saiu. E, como sabem, foi justamente com esse disco que o Coldplay se tornou o que é hoje: vendagem expressiva, hits radiofônicos; acabou conhecido do grande público. Se estivesse escrevendo um livro, esse seria o ponto ideal para escrever "fim". O lado interessante da história termina aqui. Porque depois veio a fama e o sucesso e o enquadramento no mainstream e o ego de Chris Martin. O fato é que a tour do disco novo foi extensa, rendeu um DVD ao vivo e revelou a ambição que virou sinônimo de deboche e ironia sobre a banda: o Coldplay queria ser U2. É um pouco engraçado isso, pois outros grupos contemporâneos mostraram-se dispostos a conseguir o mesmo, a exemplo do The Killers. Para mim, esse desejo é meio ambíguo, mas enfim, esperava que tal vontade não afetasse a música que fariam em diante, já que seus últimos sucessos, como Clocks, apontavam para algo mais, digamos, distante do intimismo e crueza dos primeiros singles. Lá se foram 3 anos até a chegada de X & Y, o terceiro de estúdio na carreira deles. De cara criei uma ligação especial com o disco por uma série de acontecimentos na minha vida, que na minha cabeça me pareciam bem transpostos nas músicas. De alguma forma estava tudo lá, e quando ouvia What If, Square One ou Talk, me sentia mais imerso nos meus problemas e dúvidas do que nunca. Lógico, isso me fez pensar que Chris Martin e sua turma tinham produzido uma obra-prima, um álbum magistral e antológico. Mas essa opinião não foi compartilhada por todos. Ao contrário, boa parte da crítica decidiu bater no trabalho de todas as formas, o que obviamente não afetou as vendas nem o número de público por show. O disco anterior tinha blindado a banda. Com o tempo fui enxergando no X & Y novas dobras, novas expressões que me passaram batido nas audições tocadas pela introspecção. Não, não era uma obra de gênio. Mas continuava bom. Cheguei a percebê-lo apenas como uma continuação preguiçosa do A Rush Of Blood To The Head, uma evolução mínima que se descarregava em detalhes por cada faixa. No fundo, o Coldplay apenas se transfigurava a cada lançamento. O que esse pensamento capta de essencial vale para a interpretação que o quarto disco, com lançamento previsto para o dia 17 de junho mas previamente vazado na internet, impõe. Viva La Vida Or Death And All His Friends veio à luz anunciado por várias notícias que saíram nos últimos meses. Desde a escolha do produtor Brian Eno, passando pelas novas influências até a descrição de algumas músicas feitas pelo próprios músicos, tudo saía na imprensa. Mas a escolha do título, e a razão que levaram Martin a associar Frida Kahlo à sonoridade que rondava o estúdio nas gravações pareceu o fato mais intrigante. Mesmo aos que aproveitaram a citação para satirizar o que vinha pela frente, não havia quem arriscasse com exatidão como seriam as músicas. A verdade é que as mudanças anunciadas vieram, mas ainda tímidas. Ao menos não na intensidade que a banda poderia oferecer, se assim quisesse. Sim, há mudanças rítmicas em boa parte do álbum, novas texturas partindo da primeira faixa, Life In Technicolor, e que se extendem nas subsequentes, com ligações sutis entre elas. Na introdução de novos instrumentos e novas batidas, o grupo foi cauteloso, mas não sufoca a melodia de belos temas com camadas sobrepostas. Está tudo lá, exigindo apenas uma auscultação mais atenta. Quando ofereceram o primeiro single, Violet Hill, para download gratuito em seu site oficial, a imprensa e os fãs chegaram a supor que o disco seguiria a sua linha. Com sua guitarra suja e batida maciça impondo-se, marcante, a canção encarna uma das facetas em que escolheram investir. A mão do produtor mostrou-se precisa em induzir menos do que realmente existe, sem entretanto perder a autenticidade. O interessante é que não decepciona de verdade, não importa se quem esperava mais do mesmo ou aguardava mudanças que o colocassem num novo patamar. Incluso na última categoria, fiquei afoito, vergonhosamente afoito quando o baixei e ouvi pela primeira vez. Fiquei, confesso, ignorando mais o que o disco trazia e menos minhas expectativas. Mas ele me pegou, afinal. Sem dúvida, os tons que permeiam o disco são mais vivos, dando razão à comparação de Martin. As notas revelam-se e se contraem num plano de fuga que, surpreedentemente, não cheira à indecisão. As cartas são dadas na medida em que as novas experimentações foram absorvidas. Transfigurando-se nos nuances como sempre quis, o Coldplay mostra fôlego para tentar novos espaços sem arriscar perder os fãs, tal qual o U2. E com essa pequena ousadia segue agradando, inclusive a mim.



Em tempo: a sensação de proximidade com as músicas repete-se mais uma vez comigo. Talvez cada disco deles apareça no momento certo, vai saber...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

On The Sly

Para um homem e seu tempo é difícil lidar com tudo que aconteceu antes e depois de qualquer memória. Com tudo que houvesse antes da presença do verbo, da certeza do corpo, do silêncio do mundo. Ou haveria? Para o homem e seu tempo, entrementes o individualismo e suas extensões o porão na vasta vida de incertezas para o agora, distinto de escolhas que não lhe coube tomar. Sobre[tudo] o nada.



domingo, 8 de junho de 2008

Sunday Morning Call [Parte Dois]


Escrevi uma resenha sobre o último livro do Nick Hornby. Depois que foi publicada, comecei a achar que poderia tê-la escrito de outro jeito. Não sei, de repente algumas passagens me soaram bem resumidas, e isso talvez não estimule muito a ler quem não conhece o autor. Condensei muitas coisas em poucas linhas. Sim, eu sei que dificilmente alguém o procure a partir desse livro, até por ser o menos indicado para entrar no seu universo ficcional, mas enfim... Queria que o interesse fosse genuíno, de qualquer forma. E ele é bem bacana, afinal. Bem, aí vai a matéria, postada em outro sítio:


"Talvez o escritor mais pop do mundo, em todo o poder desta expressão, Nick Hornby aporta nas livrarias brasileiras com o seu mais novo lançamento, Slam, voltado para o universo juvenil, tratando de um tema nada amistoso: gravidez na adolescência.

Escritor marcante pela verve irônica e proximidade de seus personagens com a realidade contemporânea, já teve três de suas obras adaptadas ao cinema, como Alta Fidelidade e Um Grande Garoto, todas com sucesso. Com sua fórmula cheia de citações musicais e sentimentos familiares a nossa geração, Hornby criou um público cativo para seus livros, ainda que tenha produzido textos controversos, a exemplo de Uma Longa Queda, de teor adulto e carregado, que também está tomando o caminho das telonas.

Agora, voltando seu trabalho para um público mais jovem, o autor inglês traça a vida de um adolescente que vê suas perspectivas mudarem com a gravidez da namorada. O tratamento dado não chega a ser leve, mas passa longe de ser uma compilação didática do tema ou uma lição moralista sobre os riscos do sexo sem prevenção. Até porque esse tom soaria dissonante de sua obra.

Os conflitos vividos pelo personagem principal, Sam, e sua namorada Alicia surgem genuínos diante da complexa situação que enfrentam, com problemas difíceis de lidar para sua idade, 16 anos. Apaixonado por skate e sem grandes preocupações com o futuro, Sam vê seu mundo mudar drasticamente com o filho que se avizinha. Procurando ajuda com seu “amigo” Tony Hawke [ou melhor, com o pôster do famoso skatista pregado na parede de seu quarto e com quem julga conversar], o protagonista abre espaço para questionamentos sobre mudanças em sua vida e na realidade a sua volta. Afinal, precisa assimilar as angústias e cobranças que crescem junto com a barriga da namorada, e lidar com a nova postura que as mudanças impõem.

Em seus melhores momentos, Hornby repete neste livro a qualidade que o consagrou: falar um pouco de quem o lê e se identifica nas peripécias imaginadas por ele. É até um lugar-comum reconhecer-se em personagens como Will e Rob Fleming. Embora utilize recursos duvidosos para antecipar as agruras de seu novo protagonista, no fundo trata de uma pessoa comum com um problema cada vez mais comum para lidar. E que vive um cotidiano reconhecível: SMS, X-Box, Green Day, Jennifer Aniston e Starbucks.

O autor estabelece um diálogo honesto com os elementos mencionados, tornando desconcertante algumas passagens por serem antes críveis que cômicas. É capaz de basicamente contar a mesma estória várias vezes e ainda assim serem sempre imprevisíveis, pois como cada um de nós, seus personagens levam tombos e quedas na vida. O importante é saber como se levantam. E disso Nick Hornby mostrou que sabe falar como poucos, seja para uma geração ou para outra."

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Closing Scene

Até onde me lembro, sempre tive uma trilha sonora para cada dia da minha vida. Às vezes penso que meus headphones são uma extensão do meu próprio corpo. Antigamente, no tempo de colégio, andava com meu discman na mochila, limitado ainda pela disponibilidade da minha discografia "física", ou seja, pelos discos que comprava. Não eram muitos, e a maioria das mesmas bandas, pois sempre gostei de comprar todos os álbuns de um grupo que eu goste. Gostava de sentar no pátio ouvindo minhas favoritas enquanto a aula não começava. Algumas bandas que curtia na adolescência como Oasis e Dinosaur Jr ainda escuto, mas outras como Aerosmith e Guns 'N' Roses perderam definitivamente espaço em qualquer tracklist que eu faça. De qualquer forma, foi nessa época que minha comunicação com o resto do mundo foi mudando. Os phones são poderosos meios de isolamento, porque dificilmente alguém perde tempo insistindo em conversar com quem parece longe demais de qualquer lugar. Sim, porque a música me transporta de uma forma meio... transcendental no pensamento, se é que algum de vocês que estejam me lendo agora imaginem como isso acontece. É como se eu criasse imagens e intuísse percepções sobre elas partindo do som que esteja rolando nos meus ouvidos. Ou na minha cabeça mesmo, porque muitas vezes acontece de eu escutar um disco ou uma música sem necessariamente ouví-lo, mas isso é outra história. Enfim, foi assim que aconteceu comigo: a música se tornou tão presente no meu cotidiano que passei a relacionar eventos e datas ao que estava escutando então. Essa associação foi criando um enorme acervo sonoro na minha memória com arranjos e combinações infindáveis. Bandas como The Beatles e Pearl Jam já listam tantos indicativos temporais que juntos, já responderiam por uns cinco anos da minha vida. Logicamente, não no espaço-tempo contínuo, mas acho que deu pra entender. E, com o advento do mp3 player, foi que a revolução mesmo aconteceu. Ou bagunça, como preferir. Imagine que minhas limitações técnicas mencionadas, a do cd com média de 12 a 15 faixas, foram subitamente descartadas para a possibilidade de 100, 130 ou mais músicas de uma só vez, dependendo da capacidade de armazenamento do aparelho. Sim, um espanto. Bastava colocar uns 6 discos na sequência que preferisse, ou mesmo só as músicas que mais gostasse de cada um, e sair contente pelas ruas ignorando os ruídos chatos da cidade. E, o mais importante, não dependia dos discos que comprasse. O significado de baixar um disco tornou-se superlativo com esses "tocadores de mp3", porque agora carregava-se o arquivo digital para onde quiséssemos e ouvir quando desse vontade. E a crescente expansão da internet, seus recursos e sua velocidade, trouxe o acesso a material apenas vislumbrado antigamente, a menos por mim. Combinação perfeita. Pra completar, o cenário musical contemporâneo se enche de novidades num ritmo que as gravadoras nem de longe conseguem acompanhar. Para que esperar o lançamento de um álbum no Brasil, provavelmente saindo meses depois do resto do mundo, quando antes de qualquer lançamento oficial ele já está disponível no blog ou site mais próximo? De repente, você percebe que faz download de maneira quase compulsiva, querendo conhecer bandas ou artistas que, no esquema antigo de cd vendido na loja e por um preço pouco amistoso, não teriam a menor chance de serem ouvidas. Perdiam a preferência para os já conhecidos. No final das contas, a realidade passou a ser movida a música. Esperar ônibus se tornou menos sacal, pelo menos. Também fazer compras no supermercado ou qualquer exercício como caminhar. Para tudo isso existe uma trilha sonora como disse, e que varia a qualquer momento. Quando você está totalmente acostumado a esse estilo de vida, é muito ruim quando sai dele abruptamente. Muito ruim mesmo. Foi o que me aconteceu na última sexta. Fui dormir ouvindo o último lançamento do Metric [que, diga-se, funciona muito bem para essas horas] e acordei com meu phone pifado. Não sei bem como aconteceu. Talvez tenha dado algum puxão durante o sono, sei lá. O fato é que ele não funciona mais. Fui na loja e a marca que gosto de usar estava em falta, com previsão de chegada de novo estoque em 15 dias. Pensei: que terror. Mas tudo bem, seriam duas semanas em que voltaria à realidade de uma forma bastante estranha, qual seja, ouvindo o som do mundo. Conversas, carros, propagandas, eventos, portas, pedintes, enfim, tudo o que participa da cidade e que me era alheio há tanto tempo. No começo foi algo próximo de uma reeducação cognitiva. Lidar e apreender o que estava em curso ao meu redor. A primeira conclusão a que cheguei foi que o barulho das ruas me incomoda mais que qualquer coisa que eu não goste de escutar. Até porque, e essa é a grande ironia, fazem parte do ambiente. Os camelôs colocam DVDs piratas de bandas de forró a toda altura em suas banquinhas, o que é extremamente escabroso. Mas aqui isso não afasta as pessoas. A cultura daqui aprecia essa perturbação em que se distingue somente algo do tipo "sou cabra safado" e "você não vale nada". Têm pedidos de esmolas que se prolongam por várias esquinas, em maior ou menos grau de penitência. Tem o comércio popular com suas ofertas propagadas num alto-falante mono, pelo vendedor de dicção péssima. E os templos evangélicos, todos iguais na gritaria em que se transformam os cultos vespertinos. Parecem pregar por coação. Mas o pior são, sem dúvida, os ônibus. Nem vou mencioar os que ligam o rádio mal sintonizados em estações de música brega. Diriam que estou apelando. Falo mesmo dos freios sem manutenção que, em constante uso, produzem um ruído agudo mais incômodo que choro de bebê. Da sensação de desmonte iminente que o ônibus passa ao acelerar ou cair num buraco. Parece que a frota é renovada com lata velha. O único lado bom do transporte coletivo nessas horas é que você participa involutariamente das conversas alheias. Ouve-se diálogos entrecortados, às vezes iniciado ainda na parada e que não chega ao fim antes da descida no ponto pretendido. O resto você tem de adivinhar. Aí você percebe a matéria humana, em suas reclamações do trabalho, dos problemas familiares, de algum acaso ou acontecimento excepcional na vida de um desconhecido. É o momento em que me aproximo dos outros sem precisar interagir com ninguém. Você apenas senta e escuta o que dizem no assento da frente. Tenta adivinhar que livro comentam, qual o nome da garota que deixou o cara tão impressionado. Isso é bacana. Não me tirem por intrometido. Não é pela vontade de saber da vida alheia. De forma alguma. Até porque o grande lance é o que contam, e não quem fala. É conhecer histórias, de livros sendo escritos agora, o que no fundo cada um de nós é. É assimilar melhor o que acontece dentro de cada um, para que cada rosto perca a indiferença em que se mascara e que é tão desinteressante. Isso é que me fará falta de verdade quando eu comprar uns phones novos e voltar ao isolamento musical.

terça-feira, 3 de junho de 2008

The Day Today

Todas as pessoas preechendo o dia com a fumaça de seus cigarros acesos pela manhã esquecem o rádio ligado na cozinha falando sobre as últimas notícias da noite anterior. O dia começa com os outros apressados em seus carros, alguns de passagem para a avenida que abraça o rio, indo caminhar. No pensamento que povoa essas primeiras horas iluminadas por um sol tímido estão os encontros especiais que não acontecem por quilômetros de distância. Encontros imaginados pelo olhar, pelo cheiro, pelo toque. Mesas de café adivinhadas com romantismo descansado, enfeitadas pelo desejo que se volta no coração. Abraços prolongados pela vontade do corpo, na intimidade da paixão. Por instantes, os amantes são felizes em sua insatisfação,
dragados pela ilusão.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Playground Love

Eram encontros noturnos
que disfarçavam meus sonhos de prazer,
sempre carregados pela eletricidade do ar.
Eram além dos muros
beijos cheios de calor que nos faziam esquecer
o descompasso dos corações em amar.

domingo, 1 de junho de 2008

Sunday Morning Call [Parte Um]

Farei-me entender em poucas palavras por enquanto. Os cinco melhores discos para começar um domingo e que descobri recentemente:

1.Rilo Kiley - Under The Blacklight
2.Stars - Set Yourself On Fire
3.Russian Red - I Love Your Glasses
4.Broken Social Scene - You Forgot It In People
5.This Is Ivy League - This Is Ivy League

Cause = Time

Em que devemos consumir nossa existência? No que devemos gastar nosso tempo? O que realmente é significativo a ponto de representar um sentido para nossas ações? O que me faria perder o sentimento de vazio que percorre certas horas do dia? Tornar-me-ia um completo traço mecânico se essa representasse a razão. Um indivíduo amarrado na rotina que esvazie seu cérebro. Nós temos leis humanas e naturais que permitem isso. Leis físicas, que ultrapassem qualquer barreira axiológica imposta. Mas algo intervém. Minha consciência crítica me impede de ser assim. Talvez minha incosciência seja crítica também e de acordo. Eu sou o jaguar rondando a presa que adivinha pelas sombras na floresta. Sou Londres evacuando seus prédios e escritórios pelo medo paranóico de mais um atentado. Quem entende Londres? Não interagimos com a menor das cidades. Apenas passamos por ela. As cidades, em seus conceitos decimais de organização social, são estranhas pela manutenção do espaço sem tempo. Como um salvo-conduto. Quem pode prever as distrações? Mas são elas que substanciam a divagação elementar. Você precisa pegar um ônibus para chegar em algum lugar, por exemplo. Ler um livro para realizar determinado trabalho. Fechar os olhos para pensar melhor. Beber, comer, dormir. "I was the sound before the letters", disse L. Campbell. Por isso eu nunca entendo. Por isso continuo ignorando a resposta.

sábado, 31 de maio de 2008

This Is Hardcore

Meus amigos e inimigos, há vida fora do MSN. Há no ar que respiramos uma chamada para experimentar sapatos sem compromisso, um convite para evadir festas que se tornam tremedamente chatas, a liberdade de chutar a internet pra escanteio e ignorar os leaks do mais novo álbum do Death Cab For Cutie. Meus amigos e inimigos, há definições no cosmo que dissipam qualquer utilidade do orkut. São devaneios nominais que arrastam a massa para o telefone, a fim de ouvir a própria voz dqueles que já desconhecemos fisicamente pela falta de contato. As mudanças podem não vir em banda larga, mas farão sentir sua presença. Ao menos deixam marcas no coração condizentes com a elevação da pretensão mundana que somos capazes de produzir. Meus amigos e inimigos, há nos índices literários mais fascínio que a Wikipédia ou o Google podem produzir. Podem sentir isso com as mãos, em cada página virada, mas apenas se elas estiverem longe do teclado. Senão vejamos. Existiria caracteres tão íntimos quanto um abraço? Um beijo? Que emoticon seria mais explícito que olhos demasiadamente felizes pela nossa companhia? A realidade não é virtual. As cores de um belo dia solar não estão codificadas em pixel. Abracemos a insignifcância que o conteúdo de nossas palavras produzirá em um chat com desconhecidos sobre o conteúdo da televisão. Desista: jogos em rede tentam nos conquistar mas apenas a sinceridade do amor prevalece. Meus amigos e inimigos, ainda não precisamos de amores cibernéticos. A destruição pós-nuclear não aconteceu, de forma que não estamos inevitavelmente separados pela tela fria do computador num futuro apocalíptico em que homens se anulam diante das máquinas. Podemos ainda receber o calor de um sorriso que nos acolha de vez.

The Next Life [Parte Dois]

Perdi o contato com muitas pessoas durante a vida. Mais parece que me afasto dos outros que me aproximo, mas o contigente preciso das duas hipóteses não me é preciso. Apenas sei que a sensação de distanciamento é maior. Novas amizades, companhias, o que seja... Isso é raro. Penso muito ultimamente o que me levaria a tal estado de graça inversa com meus pares. Alguns pontos: sinceridade cortante às vezes. Ou alguém gosta de ouvir da boca de terceiros as reais intenções de seus atos, intenções estas escondidas de si próprias? Percebe-se pois então egoísta, mesquinho, mentiroso, invejoso ou cheio de rancor. É como o pus de uma ferida. Sabemos que está lá, e por causar asco, evitemos olhá-lo ou mesmo lembrar de sua existência. O pus de nossas relações sociais está sempe exposto, mas convenientemente deixado de lado. Ademais, desencanto-me com as pessoas. Acabam por fazer coisas que me desagradam ou cansam. Ou eu mesmo as canso ou desagrado. Como seria interessante aos olhos de outrem? Desfilo com congruência e equidade toda a leitura de uma vida, ainda work in progress, as músicas que povoam meu quotidiano, faço-me ouvinte, conselheiro, amigo. Acima de tudo, amigo. Sem significados. A amizade por si já traduz o que almejo dizer. Por que então...? Misteriosamente, o afastamento progide, e sem alento torna-se meu rosto uma imagem estranha para tantas pessoas. E me estranham também. Alguns acabam por fazer coisas completamente improváveis. Reduzem suas falas em uma nota só. Constragem a mim pela forma inócua de convivência, pela maneira como subestimam o que posso oferecer. Mas, por não estar aquém do que me provam, revolto-me, ludibriando-me com o que pensei conhecê-las. Mas o passado resta-se pouco. Muito pouco. Um quase nada ventilado por certas conversas, gestos velados, gratidão ocasional. Por tudo isso sempre chego à mesma conclusão: não conheço muitas pessoas honestas.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

The Blackwell Tunes - Covers # 7

I'm sick and tired of hearing things from
Uptight short sided narrow minded hypocritics
All i want is the truth, just give me some truth
I've had enough of reading things
By neurotic psykotic pigheaded politicians
All i want is the truth, just give me some truth
No short heared yellow bellied
Son of tricky dicky's
Gonna mother hubbard soft soap me
With just a pocket full of hopes
Its money for dope, money for rope
No short heared yellow bellied
Son of tricky dicky's
Gonna mother hubbard soft soap me
With just a pocket full of hopes
Its money for dope, money for rope
I'm sick to death of seing things from
Tight lipped colasilick mamas little chuvanist
All i want is the truth, just give me some truth
I've had enough of watching scenes from
Skezofronic ego centric peranoid primadonnas
All i want is the truth just give me some truth.....

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Storytelling

Tenho inúmeros projetos literários na gaveta. Ou melhor, numa pasta aqui no computador. Falha minha dizer isso, ou quase, já que até pouco tempo atrás eu escrevia tudo à mão, num caderno da faculdade desviado de suas funções. Ao menos do último que me lembro. Escrevi em cadernos e agendas minha vida inteira, e muitos deles estão espalhados por aqui e na casa de meus pais. Às vezes gosto de lê-los e considerar o quão medíocre são meus textos de outrora, principalmente os anteriores aos meus 17 anos. Sim, porque costumo dividir meus textos de acordo com a idade em que os escrevi, ou etapa de estudo em que estava envolvido então: colégio, faculdade, etc. De qualquer forma, nenhum desses projetos foi levado adiante. Preguiça, inércia, incapacidade de desenvolvê-los a meu gosto, seja o que for, não foram adiante. Alguns estão resumidos a poucas linhas de contexto. Para outros, escrevi uma pequena sinopse, de mais ou menos 10 páginas. No fundo, meus pretensos romances já gerariam uma coletânea de contos por si só. E isso, apesar de ser uma brincadeira, não me deixa nada contente. Várias vezes tentei trabalhá-los conforme o planejado. Mas meu poder de sintaxe parece ser muito forte, pois não consigo modelar os capítulos de forma mínima satisfatória. O alcance da linguagem em certo período me parece dizer tudo o que seja relevante, matéria que em outras mãos se transformariam em 20, 30 páginas. Se eu assim fizesse, seria apenas embromação. Escritores que admiro enormemente e que gostaria que escrevessem meus livros: Mario Vargas Llosa, Ian McEwan, Edgard Telles Ribeiro, Milton Hatoum. Logicamente, nunca se dariam a esse trabalho. Ademais, a argila é minha. Quem tem que fazer o vaso sou eu. Renoir não delegou a idéia de seus quadros para outrem. Enfim, essas idéias vaidosamente grandiosas passam pela minha cabeça certos instantes. Quando pego minhas sinopses procurando uma solução, sempre considero a hipótese da coletânea de contos. Mas me incomodo bastante com isso. São muitas idéias par condensar em poucas páginas. Idéias que vislumbrei detalhadas em 200 e poucas páginas, sendo lidas e consideradas por pessoas que realmente as apreciem. Sabe, um livo de contos seria até possível, mas não com estes textos. Eles nasceram para ser grandes. Mas com tantos em mãos e nenhum forte e saudavelmente crescendo, sinto-me como uma mulher na eterna expectativa de ser mãe e perdendo um tempo precioso com tentativas fracassadas. Quero um livro feito pela força e inquietude da juventude, algo que me aproximasse de Rimbaud e tantos que expiaram o mundo na mais tenra idade. Haveria quem enxergasse a realidade através de meus olhos? Leitores meus, seria a glória. A concordância é a antítese que alimenta cada coração voltado à página em branco.

domingo, 25 de maio de 2008

Lost [Parte Dois]

Algumas celas são invisíveis;
mesmo quando reconhecemos os rostos.
Se sinto-me próximo da saída,
talvez seja pelo silêncio deles.

sábado, 24 de maio de 2008

The Next Life [Parte Um]

Acordei me agarrando a qualquer rastro de vida que houvesse por perto. O que alcancei primeiro foi um celular. Estranha a sensação de segurança que um celular desperta. Peguei e fiquei alguns minutos decorando os números gravados na agenda. Seria extremamente libertador apagá-los, ou mesmo livrar-me do celular. Quantas pessoas no mundo teriam tido essa sensação ao mesmo tempo que eu? Quantas pessoas se sentem presas à vida, tentando sempre manter a unidade, quando deveriam despedaçar-se, começando tudo outra vez? Ou quem sabe não começar nada. Apenas mudar. Mudar com a frequência que a vida pede. A repetição gera o hábito. O hábito gera o costume. E o costume nos arrasa, tornando-nos previsíveis e amedrontados. O prazer está em cada nova experiência enfrentada... O prazer está no que exigimos de nós mesmos. Se escapamos disso, viramos inúteis tecnicamente. Lógico, não vemos as coisas desta maneira. Até porque dificilmente nos deparamos com desafios que realmente nos desperte a vontade de enfrentá-los. A maior parte do tempo é só burocracia, insatisfação, incoerência. O que mais poderia haver, pensamos. É só uma questão de nos manter vivos. Por isso gastamos muitas horas por dia trabalhando, pagando contas, comendo, criando os filhos, quando os há. E, no que resta, dormindo. A máquina cansada rejeita novos comandos. O dinheiro, as exigências sociais geradas por ele, os desejos para passamos a converter de acordo com a sua conveniência, isso nos destruiu. Dei-me conta que foi isto o que assustou quando acordei. Alguma imagem abstrata rondava meu incosciente, me atormentando com esta que é a vida antes da existência.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Time To Pretend

O que escrevo é uma droga, o que leio não é um filme, meu amor é um incenso que queima no silêncio da madrugada. Somos o que somos, e isso é pra valer. Porque não estou a fim de novas ideologias ou idolatrias ou fantasias ou seja lá o que você propor. Meu plano é outro: feche os olhos e se entregue sem medo a tudo o que não vê. Isso mesmo. O que parecer sinistro, hediondo, díspare... Esse é o seu destino. Isso é o que deve almejar. Que sentido teriam as coisas fáceis, já conhecidas? Isso é conforto, apenas. O que, obviamente, é inútil. O que nos faz sangrar é o que nos faz crescer. O que nos fere, nos opõe, nos machuca, isso é interessante. O que nos faz abrir os olhos cansados, seja pelo espanto, astúcia ou malícia. O resto é apenas fingimento deste mundo moderno.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Something To Talk About [Parte Seis]

Não sei, às vezes penso o pior das pessoas. No geral, tenho a imagem mais podre do ser humano, mesmo. Acho-o capaz das piores mesquinharias, prendendo-se à coisa pouca, alheia. Dificilmente olha para si mesmo. O cinismo ou pobreza de espírito impede, vai saber. De forma que me pego tarde da noite recordando esses acontecimentos do dia que na hora parecem não ter importância, mas depois, quando pensamos bem, fazem uma diferença danada. Nossa percepção é retardatária. O cérebro se condicionou a palavras-chave: dinheiro, emprego e, no caso dos homens, mulher. Bundas e um belo par de seios chamam a atenção, também como concurso com salário inicial de 3.000 reais. Claro, a malícia do mundo pede isso misturado com outras coisas. Um dos mandamentos sociais contemporâneos prega a exploração de terceiros, mesmo amigos. Usufruto e usura são padrões. Então a felicidade de toda hora é sentirmos espertos por ganharmos em cima de alguém, seja como for. Mas não é só isso que marca meu enfado com a criatura empoleirada e cheia de firulas, que se julga inteligente. Não. A raça humana é viciada pela falta de pudores. Talvez já nos sentimos livres por termos ultrapassado todos os limites esperados de decência e dignidade ao longo da História. Ou, melhor, "humanidade". O que se pretendia nomear assim deveria mudar de nome. Deveria ser "impossibilidade". Porque nos escapa a compreensão, a paciência, o bom senso, a caridade. Até o que considero normalidade foi violada. Ou cogitaria perfeitamente passível um pai que prende a filha por 24 anos em um porão, a estuprando diariamente? Exemplo isolado? Lógico que não. A maldade e intolerância começa no motorista de ônibus que não pára em determinado ponto por haver apenas um passageiro a subir. Ou o carro que não cede espaço em um cruzamento para outro que tenta entrar na pista movimentada. Poucos minutos a mais perto do sinal não mudam a vida de ninguém. Mas ninguém cede. E pergunto, isto está longe de nós? A progressão de atitude é questão de circustância. Mas a imundice é a mesma.

Something To Talk About [Parte Cinco]

Verão inverno verão inverno
verão que é inverno no verão.
[Chuvas]
Roupas molhadas nos varais do mundo,
roupas e rostos tristes em toda parte.
Ou é a tristeza que enxergo através de mim?

Something To Talk About [Parte Quatro]

Perguntas existencialistas oitentistas pessimistas. Respostas agressivas permissivas incisivas. Nossos diálogos. Eu o que ganho hoje perco no embate de amanhã. Feira, relógio lembra horário de ônibus, sono. Muito sono. As partes já não são iguais. E o desequilíbrio rompe as fibras do tecido do amor. Somos na véspera hedonistas, arrumando as malas em quartos separados, pelo bem do que vier. Se vier, fomos, antes, apenas nós.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Something To Talk About [Parte Três]

Nada é estático, tudo é movimento. Essa é a ordem mundial. Quais discos são realmente relevantes? Pensei rápido em uma lista, que mudará em meia hora. Assim são feitas as listas, com a intenção mais genuína de alterá-las. Esses cinco discos andam rondando minha cabeça agora:

1.The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
2.Suede - Suede
3.My Bloody Valentine - Isn't It Anything
4.Pulp - His 'N' Hers
5.Interpol - Antics




Vou acabar postando uma lista dessas por dia.

Something To Talk About [Parte Dois]

Mais uma matéria minha publicada em outro sítio. Agora, sobre o último filme do Richard Kelly. Pensando bem, eu bem que poderia ter usado mais uma vez o título "Destruindo Os Mitos" para nomear este post. Só lendo para entender. Enjoy it, clicando aqui.

Something To Talk About [Parte Um]

Amigos amigos, meus bons amigos,
como diz a canção,
we are together.
Seja aqui ou sempre,
são bem vindos no coração.
Porque deles se sabe,
a palavra certa virá
mesmo que esperemos ou não.

[Para Talita]

sexta-feira, 16 de maio de 2008

She's Not Dead [Parte Dois]

Subterfúgios verbais fazem parte do jogo. Começa assim. Ela olha e meio sem querer lembra que já conversamos antes. Sim, há alguns anos. Ela falava da sua coleção de discos e de como era feliz na companhia do amigo que morreu. Eu encontrei uma janela, pensei. Uma janela para alguma porta, embora não soubesse qual. De qualquer forma, era algo que valia ser explorado. E os meses e horas seguintes foram um deslumbramento só. Dos mais íntimos detalhes ao sonho da noite anterior. Então o interlúdio. Primeiro, breve, depois uma infinidade de contratempos, que pareciam cada vez mais desconexos. Entrevi os acontecimentos mais próximos. Os diálogos reprimidos. A razão omitida. A desafinar, quase. Recordei que os Beatles se separaram, afinal. O meu caso não poderia ser pior. Poderia ser, pior, o meu caso. O que não seria, se tivesse levado a sério minhas decisões. Por isso ela volta agora, mesmo já perdido o sentido. Porque o flashback é em banda larga, me pegando desprevinido. Okay, não seria legal se não fosse assim. E na verdade seria, se fosse em outro tempo. Mas os lugares e até as pessoas mudam. Histórias de amor só funcionam no cinema, e a minha vida não tem projeção. Ela volta, e deixa para pegar depois o que é dela. Como eu disse, interlúdio.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

She's Not Dead [Parte Um]

Não nunca jamais. Alguns minutos de conversa e toda a sensação de ânsia volta, mais forte. Eu preciso sair daqui. Preciso de um pouco de ar.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Lost [Parte Um]

O ruído a quebra a reverberação
Duas pontas da tensão que sugere
o indizível pelos olhos seus, sim.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

How Now [Parte Três]

Tudo bem, o fim do mundo está próximo. E eu preferi passar a tarde no cinema antes que me rendessem com uma arma em mãos. Antes que estourem minha cabeça e decorem as paredes de vermelho, me deixem explicar: não faço por mal. Eu simplesmente me perdi em algum ponto sem volta. Fechei os olhos e parti, ao lado da companhia silenciosa que a realidade agreste me sugere.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

How Now [Parte Dois]

Um tempo e um livro como hoje vêm em círculos. Nova adaptação. O espaço é pequeno, mas repete-se mesmo assim. Entre o quarto e a sala, dois metros de grandeza. No pesadelo que tive, sons vinham de lá. Distinguia vozes familiares, mas alguma coisa ficava de fora. Agora, não conta muito. Mas minutos antes... Não sei bem como aconteceu. Somente que me encontro aqui, e nem sempre é bom desse jeito. Nunca me recorre algum plano sincero. Enquanto.

terça-feira, 6 de maio de 2008

How Now [Parte Um]

Acordar e tomar café assistindo televisão. Esperar o ônibus pensando nas próximas horas. Outra vez. O que você faz de sua vida é decidido sem que perceba. Quando se dá conta, já passou. Isso não é propriamente a conclusão mais original. Sabe que é capaz de raciocinar algo inteligente e que chame a atenção das pessoas. Mas não o faz; está ocupado imaginando torturas para todos que o recriminam. Sim, seria interessante. Porém, não agora. Agora o melhor a fazer é anotar tudo o que dizem. Pode ser útil em outra vida.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Freeway

Sem dinheiro nos bolsos ou amor nas almas,
só resta esperar.
E que o trem não demore nas estações de dor.
Passe em estado de consciência alterada
pelos anos que virão como tespestade,
arrastando insistentes os meses do calendário.
A espera é longa, mas encerra antes da vida.

sábado, 3 de maio de 2008

The Blackwell Tunes - Covers # 6

They say it's your birthday
It's my birthday too, yea
They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy birthday to you
Yes we're going to a party, party
Yes we're going to a party, party
Yes we're going to a party, party
I would like you to dance (Birthday)
Take cha cha cha chance (Birthday)
I would like you to dance (Birthday)
Oh, yea
They say it's your birthday
It's my birthday too, yea
They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy Birthday to you

sexta-feira, 2 de maio de 2008

People In The City

"De modo que é assim que vivemos nossas vidas. Não importa quão profunda e fatal seja a perda, o quão importante fosse o que nos roubaram - que foi arrebatado de nossas mãos -, mesmo que mudemos completamente, com somente a camada externa da pele igual à de antes, continuamos a representar as nossas vidas dessa maneira, em silêncio. Aproximando-nos cada vez mais do fim da dimensão do tempo que nos foi estipulado, dando-lhe adeus enquanto vai minguando. Repetindo, quase sempre habilmente, as proezas sem fim do dia-a-dia. Deixando para trás uma sensação de vazio imensurável."
Trecho do livro "Minha Querida Sputnik", de Haruki Murakami.

End It On This

Organizando minha coleção de cds, encontro um disco que comprei há dez anos. Estava perdido entre o Elvis Costello e a Macy Gray. O álbum em questão não importa em si; digo apenas que envelheceu bem e ainda me soa forte e até atual como antes. Mas o que ele representa... Dez anos podem representar muito na vida do indivíduo, principalmente se ele, nesse ínterim, muda de cidade, entra na faculdade, se forma, e vive experiências de vida durante o curso universitário que o fazem enxergar a chamada realidade de uma forma diferente. Quando percebo que me vejo distante da pessoa que comprou esse cd, fico um pouco apreensivo da pessoa que serei daqui a dez anos. Porque me transformo pelo tempo através de percepções cada vez mais estranhas. E a próxima década será a provação do gênio que me tomou por tudo o que vivi até aqui. O que significa que saberei se estou certo pelas minhas escolhas. Simples, não? Se você não estiver receoso da resposta, talvez sim. Mas o mundo nos chama a propensas realizações que ignoram o resultado. Se vejo tudo sob minha ótica, Não há nada de errado. O problema é que a barbárie da solidão social não me atingiu como gostaria, retornando processos que preferiria ignorar. De volta ao ponto. Só uma certeza é válida por enquanto. A década vindoura perece sci-fi quando recordo que não me resolvi ainda com esta por completo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Everything In Its Right Place

Ontem fiz uma longa travessia da cidade. Saí para uma caminhada que poderia não ter volta, partindo pela avenida que tange o rio até a ponte iluminada. Prestava atenção nas pessoas, a maioria mais apressada que eu. Não sentia o cansaço, apenas uma dormência nos braços. Talvez morresse ali, na calçada, talvez fosse desviando dos outros enquanto a bateria do meu mp3 player durasse. Quem dizia o destino era a música. E por mais de uma hora, Radiohead escolhia por mim em que esquina virar. Subi a avenida que vai para o centro, ignorando as horas, o tumulto na parada de ônibus. Perto da estação do metrô, lembrei do show que um amigo havia comentado. Fui até lá. O volume das conversas competia com o som, não conseguia prestar atenção em nada. Apenas no movimento. Ruídos intistintos, o suor dos que avançavam para o palco, possuídos pela música. Uma boa terapia. Minhas pernas tremiam enquanto decidia-me pela volta repentina com as mãos descansando no bolso. Depois do cover que não reconheci qual, voltei para a rua, vendo risos, copos cheios, conversas animadas. Senti-me preso ao meu tempo, não ao meu lugar, e fiquei triste com isso. Meus passos estavam mais lentos, calculados. O centro esvaziava, assim como meus pensamentos. Esperava desligar minha atenção de tudo, restando apenas minha respiração. Àquela altura, a cidade e seus signos não importavam muito, apenas o sentimento de esgotamento e alienação que me levava de volta para casa.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Everybody's Gotta Learn Sometimes

Tento arrancar da cabeça um artigo sobre o último livro de Milton Hatoum há quase um mês. Sinto-me intimidado pela tarefa. Leitor voraz, vejo diante de uma tarefa nova: a de refletir em palavras o que me passa com as leituras feitas. Muito do que o livro transmite ao leitor é matéria subliminar, que revolve sentimentos e lembranças íntimas, jogando nova luz sobre a percepção que temos. Nunca se enxerga o mundo da mesma forma depois que lemos um bom livro. Mesmo os medíocres, que no mínimo acrescentam palavras ao nosso vocabulário. Em conversas informais, já dissertei sobre muitas obras, dando minha interpretação sem a audácia do caráter informativo que um artigo jornalístico impõe. Quem o lê, enxerga aí uma orientação que pode pender para cada lado. O papel fundamentado me retrai de maneira que a colocação cabível me escapa, talvez por haver muitas visões que penso em abordar. Preciso ser mais específico, objetivo, direto. Mas que livro me daria a tarefa de resenhá-lo se coubesse em diretrizes tão enfadonhas e permissivas? Hatoum, com certeza, não seria uma delas. Quem sabe me falte no ato de escrever o profissionalismo amador que o artigo pede e que o livro, ao surgir transbordando no texto, desvia-se do seu reflexo rumo à terceira margem, da imaginação que induz.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Serious [Parte Três]

Garoto de fina estampa passa horas à janela com o olhar perdido a fazer cálculos exagerados sobre a sociedade. Não há mais o que dizer. Suas atribuições são terrivelmente chatas e ele não consegue envolver-se nelas. Por isso os estranhos são interessantes: podem ter todas as vidas em uma só. Quem sabe? Ele olha e enxerga apenas roupas e expressões faciais de cansaço e divagação. Tudo cabe a cada um. Menos para ele, pois a imaginação é vasta no exterior sem que haja espaço para tanto. No máximo precisa de um caderno e de um punhado de livros arrumados no armário. O garoto bem sabe que o tempo é coeso e joga todas as armas contra ele, o forçando a correr mais e mais rápido. Mas pensa com terror o que lhe aconteceria se tornasse uma extensão da luta que trava intermitente. Já lhe sobram meios de transformar-se numa criatura sem coração, revelando o lado pueril de sonhar acordado soterrado na lembrança.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Serious [Parte Dois]

O mundo virou uma pista de dança
[tudo se move so slowly]
em que os mais agitados saltam universos
com os olhos fechados.
Eu sou outsider, sou o vento frio
que varre os campos.
O primeiro e derradeiro brilho do sol.
Não há quem me ponha fora daqui:
eu faço as regras, eu mudo as regras.
Sou revolucionariamente Lennon Woolf Kaufman e todos os outros em um só
um instante um passo em falso
um dia
eu sou
uoseu
eu

domingo, 27 de abril de 2008

Serious [Parte Um]

Quem passa aqui
Quem passa
Quem
Qeum
auqi
passa
além de mim?
Quem além aqui
passa de mim?

sábado, 26 de abril de 2008

Bring It On Down

Tentei listar meus discos preferidos, os livros que falam por mim, os filmes com os quais me identifico; tentei me encontrar em obras de outros. Seria um mosaico de minhas emoções em que faltasse os olhos. Ao cabo de horas, percebi que nada me levava à pretensão marcada. O que essa lista falaria de mim, no final? Seria necessária mesmo? Às vezes tenho essa vontade estranha de me traduzir, colocar pelo avesso o estômago e jogar pra fora tudo o que me corrói aqui dentro. Mas a transgressão enfrenta limites de linguagem, de metalinguagem. De interposição de corpos estranhos. Então a vontade inverte, e me abrigo na distância que proponho entre os discos e livros e filmes. Nunca estarei estampado neles, embora digam sobre quem imagino ser.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sad Transmission

Quando criança não ficava tempo suficiente sob a chuva. Terminava me abrigando antes que o corpo ficasse encharcado. Não recordo porque fazia isso. Talvez medo de adoecer. Quem sabe. Um dia, nos idos do antigo 3º ano do ensino médio, voltava para casa quando uma tempestade de verão me pegou pelo caminho. Decidi retardar os passos para que passasse pelo ritual. A chuva, naquele momento, me dizia alguma coisa que não compreendi de pronto. Como diria Alberto Caeiro, fiquei apenas molhado. Tantos anos! Hoje essa data me veio à mente quando uma outra chuva caiu em plena tarde de abril. Retornava para casa, como dantes. Mas a mente... Trabalha em outro plano. Muita coisa passou até aqui, por isso a chuva não caiu do mesmo jeito. Nem como ritual, nem como estado úmido da realidade. Ela chegou espelhando os sinais, reconhecíveis agora. Enquanto as pessoas corriam eu mergulhava numa leniência, colhia gentil as descobertas que a vida não refaz depois. A chuva provoca um estado de espírito desnorteado, inclusive aos que ficam tristes.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

I'll Try Anything Once [Parte Três]

Observava, do porto, o rio barrento, seduzido pelo rumor das águas. Na ponte as pessoas paravam de quando em vez e olhavam para baixo, assustadas. O rio sobe há semanas, prenhe das chuvas. O cais antigo ainda em movimento, com pessoas saindo dos barcos em silêncio. Disseram por perto que o volume era ainda maior, e que abaixava lentamente. Parnaíba se rendia ao rio, irmão gêmeo a tolher pessoas em suas casas com a enchente. Há muito já não se dependia dele para viver, vender, viajar. Os mais velhos ainda resmungam sobre o tempo em que ali, no porto, girava a renda e o futuro das gentes. Hoje está tudo perdido - perdido. Canoas saem sem brumo para a pesca pequena, barcos para o passeio de turistas, e o resto se move por outro meio. Às vezes encontro em Parnaíba esse encantamento de cidade ribeirinha muito próprio da região do Amazonas, quando tememos, mesmo que por instinto, o dia em que as águas desafiarem o homem e tomarem a sua terra, subindo numa paciência sem tempo; chamando o homem para si e o escondendo no leito de lama, absorvendo, inalando, até que sejamos rio também.

Hard To Explain

[Speech] Não tenho muita coisa para juntar, não tenho quase nada para deixar, minhas mãos sacodem a poeira da calça por costume porque na verdade estão bem limpas, a lavei ontem. Eu fico é sem saber para onde ir, o que fazer, onde me pôr, porque a prosa é boa mas não mata minha fome. Estou curioso, somente. Começo pela dança de ontem. Sim, parto daí, antes que a memória me falhe. Estava completamente sóbrio. Com uma ânsia me devorando por dentro, mas completamente sóbrio. Acho que tive outro desses ataques que lhe falei. Me pego agarrado com uma estátua, uma falange, um deus-assombração sem muito peso, mas farto como o mundo. Corri pelos cantos, fiquei sem graça, sem fôlego bem digo, ameaçando o vento. Cortei rápido as palavras, me escondi na escuridão antes de desaparecer. Horas... Não, minto, dias. Foi por quê? Difícil explicar.

terça-feira, 22 de abril de 2008

No Cars Go

De passagem pelo mundo que de repente pareceu ser feito de esquecimento e retorno. Os olhos duros e intrísecos de outro, devastando a atmosfera com o silêncio, sobre tudo refez o ar de revolta. Os sons dos carros cruzando o tempo lá de fora são a sinfonia para o fim em um minuto: olhe de relance que notará pela janela o que estou falando. As palavras são maliciosas quando querem.

I'll Try Anything Once [Parte Dois]

Falar da minha cidade? Tento: mas ela me escapa das mãos, da memória, da imaginação. A cidade que espelha água. A água turva do rio, fugindo para o mar. Sei que minha cidade não cresceu como esperava. Permaneceu tímida pelos limites da vida, e ficou a perder muitos de nós nos últimos anos. Onde Parnaíba me cabe? Ando pelas ruas, vejo alguns rostos conhecidos, o céu limpo da terça-feira, e me prendo na sugestão de que desviei-me do caminho, que de algum ponto já não passo mais. O sentimento dessa gente me estranha, talvez me rejeite como filho da terra. Filho fugido. Penso o que me posso fazer de Parnaíba.

Heart Of Glass [Parte Dois]

Nada de palavras nada de ações nada de pensamentos nada de sonhos nada de devaneios vida suja nudez de corpos revelação conspiração elevação provocação discussão constatação agressão verbal ou não. Não. Agora é lucidez sensatez da insensatez. Agora é o que quero o que vamos o que somos o que vemos o que verso o que Vênus. Sou claro límpido cristalino transparente transcrevendo transitório transcendental. Fora daqui.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Heart Of Glass [Parte Um]

Vou falar que não era pra ser assim. Vou falar de quê? Você não ouve ninguém, só o próprio umbigo que, diga-se, nunca foi lá muito sensato. Você é feia, megera, destrutiva. Você partiu em três tempos e retornou com um risinho de orgulho de quem nunca me deu toda atenção. Mas, paciência. Acabo voltando mesmo para jantar.

I'll Try Anything Once [Parte Um]

Interessante ensaio do Frei Betto sobre as celebrações litarárias do ano, notadamente sobre Machado de Assis e Guimarães Rosa. Enjoy it.

http://amaivos.uol.com.br/templates/amaivos/amaivos07/noticia/noticia.asp?cod_noticia=10190&cod_canal=53

domingo, 20 de abril de 2008

Deep Blue Day



Como deitar no chão e enxergar o mundo por esta perspectiva:
tudo indo, indo, profundo, profundo,
até acabar de vez.
No céu, rarefeito, só que tudo ao contrário.
Ou será que não?
Porque os sons, os sons estão em toda parte.
Sinfonia dos anjos pregados no telhado?
Ou o ar cortado pela mão de Deus que vem buscar.
A verdade mesmo não vem.
Somente a vontade.

Atlantic

A resposta está soprada no vento. Isso me veio há pouco, enquanto organizava meus livros. Pensei logo, que resposta? E não entendi de imediato. Fiquei olhando para os volumes de Falkner, achando que os caberia bem ao lado de Hemingway. Afinidade? Não, não seria este o recurso. Menos ainda estilístico. E a frase martelando na minha cabeça. Soprada no vento... Lembrei dos dias à beira-mar, quando tudo parecia possível. Naquele ano, os amigos e inimigos se reuniram em um só lugar, compartilharam da mesma noite fria e brindaram a chegada de algo novo que se anunciaria em nossos espíritos muito antes das ações de fato. Seria isto o que me incomodava agora? A certeza prenunciada finalmente impondo-se, num assombro? O certo é que mirei veredas que não me tiram do lugar.

sábado, 19 de abril de 2008

You've Never Lived A Day

Está escuro. Minha leitura nova não caminha, por idéias alheias ao Vargas Llosa. Como poderia dizer... Decifrei em meia dúzia de linhas no terceiro capítulo um rascunho de minha vida. Sim, um rascunho, haja vista não falarem propriamente de mim. Mas está lá. Minha primeira desilusão amorosa, meu segredo de maldade e minha impaciência. Por isso não pude evitar o riso. Como somos rasteiros! As emoções são reproduzidas em série, e afetam a todos. Uma similaridade que segue com algum fim. Só não percebo qual. Se não alcanço, com custo, minha individualidade entre todos, como ainda suponho experimentar algo que seja só meu? Sensações únicas são promoções de venda pela internet. Ao resto de nós só coube esperar.

Shine A Light

Matéria minha publicada em outro sítio sobre o recente lançamento de Martin Scorsese, um documentário intitulado Shine A Light, sobre os Rolling Stones. Enjoy it, clicando aqui.


quarta-feira, 16 de abril de 2008

I'll Try Anything Once [Prólogo]

Olhava para o céu opaco de agosto enquanto caminhava entre os carros. O mesmo percurso de antes, mas eu não me sentia igual. Olhava para os nomes estranhos que agora ocupavam as fachadas dos prédios velhos do centro e tentava encaixar o meu passado na retina, como se pudesse sobrepor a memória a tudo o que via. E assim a cidade foi perdendo o sentido, até se desfazer numa sombra formada de sua própria história. Os anos traçavam minha imaginação e mais longe eu fui, onde não existia objeto ou causa: o estigma dos desafortunados, arrastando-se pelas ruas. Não percebia o espaço que ocupava, anulado pela pressa com que desviavam-se de mim. Parecia que todas as vidas eram tão urgentes... Desesperadamente necessárias para esse universo compacto que tentei assimilar por algumas horas. Mas qual sentido havia nessa busca de um passado que se alterou quantas vezes eu o perscrutava? Não seria na velha loja de tecidos que permanecia inalterada, como uma relíquia dos tempos, entre duas praças, que encontraria minha verdade. Seria talvez longe daqui, em algum lugar onde eu ainda faça parte do processo. Algum lugar de lugar nenhum?

[Texto escrito em 9 de agosto de 2007]

terça-feira, 15 de abril de 2008

Running To Stand Still

A queda:
tropecei naturalmente em vírgulas e travessões
e pus-me de pé com a vergonha estampada em selo.
Mais adiante, ela me auxiliou de forma discreta.
Pensei por manter amor em segredo.
Não me contive: expus com minhas expressões cansadas
o que se passava, cá aqui dentro.
Ela sorriu.
Sorriu por uma infinidade de horas.
E quando respondeu, estava petrificado pelo vento.
Com cãibras nos lábios, a beijei,
um beijo como os seres imaginários dão no fundo do mar.
E, de mãos dadas, me recoloquei na estrada...
Sem jeito, com a certeza do nome encontrado na fé passada.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

After Hours

A tarde para mim é um intricado jogo de palavras. Algumas são ditas, outras caladas; e costuradas, sem nós, com a linha da saudade: permaneceria na vida quem somos se os rostos, congelados no destempero da vaidade, tornassem a vista para outra paragem? Talvez. Buscaríamos alguma espécie de vingança branda que nos deixasse incessantes e exaustivos pois, cansados, nos esconderíamos no conforto de uma trégua arranjada, antes de sermos devorados pelo anoitecer.

Waves

Recordo da voz francesa sussurrando no meu ouvido. Frases incompreesíveis. Depois o ruído da ligação. Ainda estaria naquela pensão barata? É um poeta que gosto muito, ela terminou. Para onde vamos, perguntei sem graça. Para o fim do mundo, meu amor. Espere, vou arrumar minhas malas. E nunca mais atendi o telefone.

sábado, 12 de abril de 2008

Four Years

A noite é uma tela em tinta rubra como o sangue. A noite é um desvario que permanence por todos estes anos. Quando me mudei para cá, não me tinha percebido. Mas certa madrugada, a insônia, pôs-me de pé à janela olhando para o alto. Surpreendi-me. Então passei a fazê-lo com certa constância para averiguar se não seria sonho. Deveras...! Lá no céu a lua empalidece ainda mais, constrangida talvez pelo vermelho pulsante. Às vezes oculta-se, tirando meu sossego. Porque sim, temorizo-me com a idéia de que o satélite canse de nós e nunca mais volte. Os poetas já não a compararam com uma mulher caprichosa? Então. Bem me faz o acaso, ao afastar essas teorias da cabeça. O barulho dos gatos a revirarem o lixo, dos carros furtivos, das pessoas dormindo. O mundo continua lá fora, enquanto queixo-me com perturbações lunares. Talvez careça aí o tédio que me ausenta do calor humano. Ou do calor que me ausenta de mim próprio. Fatos obscuros, quem sabe, como o céu desta cidade.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Blind

Transitando distante de minhas paisagens habituais, deparei-me com o estranho julgamento que as pessoas, de longe, impunham sobre mim. Olhavam de modo torto, a expressão paralisada, por cada momento que houvesse contato essencial. O que se passava em suas cabeças? Eu respondia avistando lugares invisíveis no céu, onde focava minha atenção. No meu tempo de menino, adivinhava formas nas nuvens. Agora, era como se elas voltassem para suas casas depois de um passeio que antes não teria fim. Lembrei de Bandeira, Quintana, Adélia Prado. Quis decifrar o extraordinário em matéria tão vulgar - ou não seria assim a infância entrando sem avisar no dia de sol que percebi outrora? Mas faltou talento, e sobrou abstrações, em face do amor comedido pela liberdade mais ingênua que vivi.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

I Just Can't Get Enough

Dormia no sofá e acordava com o gosto de cinza na boca. Ela amanhecia também. Chuvia noites inteiras. Mas sentia meu corpo seco, sem uma gota de atração. Quando punha os olhos no pé descalço que se aproximava, entendia a razão. Ela gostava de tentar. Sua melhor roupa, seu melhor jeito. E com que razão, perguntava eu? Nenhuma. Era maçante, até, explicar com palavras miúdas os vestígios em que me perdia, vastos como os caminhos para a interpretação de seus olhos. Tentava novamente. Mas as línguas se desencontravam. Dias a fio assim. Foi então que ensimesmei e, acompanhado pelas nuvens escuras no céu, parti logo cedo, mudo até em pensamento. Ela me perseguiu ao descobrir, sem perceber que buscava sossego no vazio dos braços desarmados. Depois de tudo, terminou com um bilhete. O papel estava em branco: já não me dizia mais nada.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

The City Limit [Parte Dois]

Acordei com a lembrança falsa de favores amorosos prestados por uma velha amiga. Não me sentia, entretanto, enganado pela memória. Apenas perscrutava o fluxo de imagens confusas, como se a noite anterior tivesse passado imersa em álcool e brilhantismo. Moças sorrindo, desconhecidos olhando torto para mim, a nave secular da soberba humana pairando sobre nossas cabeças, num revanchismo retórico. A cidade fora dos pátios gradeados repartia-se em duas; aludindo à figura mítica da hidra. Em pouco tempo, sombras tomaram o lugar de tudo o que via, até restar, no dia seguinte, meu rosto cansado, frágil pelas certezas ausentes. Quem estava lá, afinal? Somente um rosto recorria aos esforços contra a amnésia temporal, um rosto familiar, inclusive aos apelos de afago passageiro. Mais uma história que não terminou na minha vida, deixada em aberto para um futuro talvez. Ela me resguardou do desgaste que a noite impôs aos que avançaram contra si mesmos? Era constrangedor perguntar. Mais: era intimidador. Como não podia sublinhar de minha demência etílica, fiquei divagando, ainda deitado. Uma larga hora se passou. A manhã ia alta, e eu entregue ao que pude ter feito, ao que não pude fazer, elementar na hipótese sensual.

[Texto escrito em 14 de outubro de 2007]

The City Limit [Parte Um]

O som da guitarra está muito alto. Eu olho para as cabeças pendentes como se entendessem a mensagem, e fico perdido por alguns segundos entre os outros. Calma. É só um show. A guitarra distorcida faz parte do clima. Não se perca. Beber, já naquela hora, não fazia mais sentido. Mas ainda assim eu continuei, transitando entre as pessoas, encontrando amigos, que conversavam gritando no meu ouvido. Eu ouço vozes, mas não sei de quem são. Quando a música chegou ao fim, a seguinte foi anunciada pelo vocalista com um grunhido no microfone. Às vezes eu penso se tudo o que me lembro não passa de uma alucinação. Se não estaria em outro lugar, outro plano, em outra mente? In Rainbows. Sim, eu sei. Não, ainda não. Hoje estava com vontade mesmo de ouvir In Limbo. Não percebem. O novo é o velho transvertido nos suaves tons da revolução tecnológica. Você vai acordar amanhã e não lembrar de mais nada. Até lá, vai ignorar minhas opiniões. Elas não são para divertir. Isso você já tem no palco, nos últimos acordes. Não quer ouvir sobre algo que não esteja aqui. As pessoas. Aqui, buscam uma postura mais rock ‘n’ roll. Surpresa: o rock não existe. Tudo o que vemos aqui não é real. Lógico, não é fácil perceber. Porque quando estamos entretidos demais com o movimento... O raciocínio não pára em ponto algum. Apenas se desloca pelo tempo, no vórtice da beleza sonora. Quantos se sentem transmutados no lirismo selvagem, pulsando o inconsciente inexplorado? Entre o sono e a insônia, o tédio e a loucura, a verdade e a ventura. Um caos que se desloca com a saída para a noite quente.

[Texto escrito em 13 de outubro de 2007]

Times Like These

Nunca mais diga o que viveremos outra vez. É tudo obra do acaso; do silêncio que impomos ao som que fazemos. Planos me soam muito previsíveis. Prefiro instar minha própria distração por alguma forma de aventura nova. O que esperava? As horas caminham fora do eixo, fazem loop e caem no nosso colo meio sem querer. Quando ponho meus lábios em contato com os seus, não espero mais que um beijo. O que vem daí, já recebo de mente aberta. O mesmo digo dos encontros diurnos: quando outros fazem a sesta, eu cumprimento os deuses da patifeira em plena ganância dos instintos. Porquanto aspiro o ar viciado de promessas da manhã, espero que transborde de seu estômago ou coração e cérebro toda a fúria que a paixão presente exige.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Instant Karma!

Conheci um cara. Pediu trocado para cigarros. Alimento para o câncer, ele disse. Um tremendo clichê, mas joguei umas moedas e sentei para ouvir sua história. Estranhos entram em nossas vidas a cada dia e deixam rastros insondáveis. Perderia o ônibus mas, pensando bem, haveria tempo bastante. Então ele resmungou: tudo começou com uma mulher. Cheirava cocaína todas as quintas, na casa de amigos que davam festas para ter sexo fácil. Numa dessas, estava lá, ouvindo música eletrônica e mirando seus olhos azuis. Depois descobriria que eram falsos. No começo só transava drogas leves. Mas por causa dela pediu até um pico. Auge da loucura. Quando começaram, passavam dias trancados num quarto sujo de hotel, um quarto que era só deles. Dias, alimentando um ao outro. Um do outro. Com os meses, ela parecia ter mais resistência. Já ele estava completamente mergulhado no vício. Queria entrar pelas suas axilas depiladas, pelas covas da bochecha. Cheirava seu cabelo depois do sexo e entrava em transe. Dias sem igual. Então, de repente, ela passou a abusar do escuro. Voltaram às festas, aos amigos em comum. Não estava satisfeito, naturalmente. Procurava seus lábios, mas não os encontrava; estavam tensos. Seu desespero de paixão vulgar ficou estampado na cara. Ela dava as cartas, e pedia mais. Um carro emprestado e a viagem sem volta para o paraíso sem nome. Ele nunca conseguiu superar. Já usara todas as palavras do Verbo para ofender sua própria decência. Sem ela, as festas acabaram. As pessoas falavam entre si sobre o caso, acharam melhor afastá-lo de seu mundo. Agora, ele terminou, me enveneno para a morte, sem pressa. Aprecia na rua muitos tipos? Sim, e, no fundo, todos me lembram ela. Mas sei que há os capazes de coisa pior.

domingo, 6 de abril de 2008

Amputations

O rosto arrastado pelas esquinas como máscara da morte não me sai da cabeça. Penso nos olhos embotados e perco a fome, o sono. Não durmo há dias. O sangue marcado nos lábios entreabertos manchou a beira do asfalto e sempre que passo, olho com repugnância e tentação. Aquela mancha me alimenta de alguma coisa. Bem sei que desconheço intimamente qualquer tendência suicida. Mas de outro modo... Vasculhei minha correspondência dos anos anteriores: nada. Nenhuma pista. Ao menos nenhum amor antigo me espreita com subterfúgios. Também, todas as paixões estão resolvidas, não existe o que possa me intrigar nelas. Haveria reciprocidade no jeito em que enxergo a vida? Porque só assim para que eu possa pensar em uma mensagem sublimar. Vejamos: acordo, tomo banho, depois café, e saio para o trabalho. Pausa para almoço. Segundo turno do trabalho. Depois meu novo curso noturno. Retorno para casa, inverto a rotina matinal e então durmo. Onde está o elemento humano? O que me aproxima dos demais? Compartilhamos a mesma rotina ao menos. Muitos vivem e morrem assim. Haveriam de assimilar a mesma reação que tenho caso vissem a mancha de sangue no asfalto? Caso tivessem visto o rosto sendo arrastado... Não me sinto mais seguro a respeito disso. E essa ignorância me deixa bastante desconfortável. A quem recorrer? Todos que conheço dispõem dos mesmos recursos ridículos que eu para enfrentar meu problema. Às vezes nem sinto meu sangue correndo nas veias.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Keep Up

Quando pareço perdido, é porque realmente o estou. Pus os pés na mais clara evidência de desconforto sob a mesa, olhando ao redor, acuado. Mirei longe, lá no rio em enchente, pela janela, pensando em meu prazer. Os dedos coçavam. E como ora eu diria isso na frente de tanta gente? Na frente dessa gente que se ocupa com as menores coisas, as mais insignificantes, mas que estão faladas tanto quanto a cheia do rio. As águas prenhes são o curso de uma viagem que dura horas, na poeira da memória. E a memória duraria tanto? Quem sabe. Ela toma veredas tão estranhas, se desorienta, se contrai, se revela. É o nosso retrato. Às vezes somos confusos de forma que realmente desperta a vontade de saber um pouco mais. Mas quem entraria a saber isso? É muito complicado, é vasto, como as margens a abraçarem cada vez mais terra, a ficarem mais longe entre si, deparando com fastio a nossa indolência em admirar o medo, e pensar satisfeitos que é assim, e por direito. As margens de um rio que ameaça nos comer, devorar todas as plantas e homens. Encarariam o desatino?

quinta-feira, 6 de março de 2008

The Way It Is

Alguns romanos dormiam quando a cidade foi tomada pelo fogo. O imperador observava o espelho refletindo sua retina desgastada, e nada sabia. Pensava apenas na própria sorte, numa projeção amarga do futuro. Um futuro que nunca lhe aconteceu de fato. Surpreenderia-se Nero com a inversão de papéis que se operaria após o incêndio? Saberia que os palácios mais suscetíveis são os construídos nos limites da compreensão humana?

Se Eu No Seu Olhar, Afinal [Hélice]

Porque me desfaz de um jeito
que eu não posso opor -
sutileza na forma de prazer
[com os lábios pregados no meu]
diverte-se em espasmos coloridos
retardando a condição
de abrigo para a noite escura
que nos cerca, como agora.
É engraçado como o instantâneo
revelado me deixa tão exposto
às artimanhas tão próprias
de você, um vício perdido
para meu mal.
E eu me pergunto;
onde caí, onde fui parar?
Pensamentos revestidos de chumbo
não produzem, estranhamente,
o som metálico quando arrastados
pelo asfalto: são desfacelados
quando seus olhos os penetram
e os buscam, na vigília do amor...
Seria esse o nome de sua insensatez?
Incontrolável eu me torno
rondando signos para a corrupção
proposta em seu nome.
Amor, se isto há, se guarda nos dentes,
marcando a língua;
não na aspereza libidinosa,
mas na intimidade dos laços atados:
como suas mãos e anéis
anunciando um confronto
um conforto um estorvo
de não estar mais aqui
e ser apenas um rascunho na memória.
Há saída, de outra forma?

quarta-feira, 5 de março de 2008

The Genius Of P. Schrader

- Eu tenho... É que eu tenho... Tenho...
- Está deprimido? Acontece com todo mundo.
- Sim, estou muito deprimido, muito... Eu queria poder realmente... Fazer alguma coisa.
- Com a vida de taxista, quer dizer?
- Bem... Não, é... Não sei. Eu só queria poder... Realmente... Eu queria... Ando tendo umas idéias bem ruins, eu...
- Bem, veja pelo seguinte lado... Quando um homem aceita um emprego... O emprego... Quer dizer... Se torna o que ele é. É como... Você faz uma coisa, você é aquilo. Eu guio táxi há 17 anos, 10 anos à noite... E não tenho táxi próprio. Sabe por quê? Porque não quero. Preciso ser o que eu quero... Trabalhar à noite num táxi de frota. Entendeu? Ao aceitar o emprego, você se torna o emprego. Um cara mora em Brooklyn, outro em Sutton Place... Um é advogado, o outro é médico... Um cara morre, outro sara, entende? Pessoas nascem. Eu invejo a sua juventude. Vá trepar. Encha a cara. Pode fazer o que quiser. Afinal, você não tem escolha. Estamos todos fodidos. Bem, mais ou menos.
- Isso é a coisa mais cretina que já ouvi.
- Não sou Bertrand Russell, sou um taxista, o que você quer? Nem sei do que você está falando, porra!
- Talvez eu também não saiba.
[Do filme Taxi Driver]

Come Back

Matéria minha, publicada em outro domínio, sobre os filmes do Rambo. Sim, eu entendo e gosto muito deles. Rambo, além de ser a metáfora perdida de Hollywood, é um excelente entretenimento. Enjoy it, clicando aqui.

domingo, 2 de março de 2008

The Killing Moon

Noite de erotismos inocentes, ela olha pela porta e sorri, na celebração da conquista feita. Segue numa comunicação gestual, em que o preço pelos seus lábios se mostra alto demais. O que mudaria àquela altura? Meus olhos marcavam num território domado o desejo iminente. E, avançando em passos lentos, mergulhava num delírio em que o tempo, fora de controle, prolongava-se sem alterar os arranjos da memória, fazendo daquele instante o mais prazeroso de todos.

sábado, 1 de março de 2008

Late In The Day

Foi como aconteceu: estava no meio do trânsito, esperando minha vez. Um caminhão atravessado atrapalhava tudo, ocupando duas esquinas e sem sair do lugar. Avançava aos poucos, e então parei por absoluta falta de espaço. E quando tirava os óculos e enxugava o suor do rosto, ela apareceu. Olhou de relance todos os carros e se pôs a atravessar a rua. Talvez nem tenha me percebido ali, no meio de toda confusão. Talvez nem tenha, é verdade, dado conta do meu olhar fixo e conturbado como os motoristas ao redor. Que o tráfego truncado piorasse, nem me aborreceria mais do que aquela visão inesperada. Porque ela veio e me tirou do sossego, da paz que estava há dias, e me atirou na lembrança suja que guardo sobre seu rosto, a voz que me soa agora irritante; até o cheiro de suor seco que vinha de sua pele quando me aparecia em casa voltou com força à narina. Precisava disso? Precisava confrontar o passado e minhas fraquezas de antes? Não. Mas ela veio das entranhas de um dia que me pareceu ruim e atravessou a rua, quase virando o rosto, mas não completamente, impondo-se completamente dispensável. Coisa pouca, que durou alguns segundos. Mas reabriu o desgaste interior, o ódio arrefecido sem objeto. Já vai tudo tão longe, por que ainda me prende isso?

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Bad Actors With Bad Habits

Os negativos estavam na estante, ao lado dos textos de Apollinaire. O cheiro de serragem por toda parte, e o silêncio absurdo da rua só serviu de pretexto para nossa fuga. O velho barco, encalhado na margem do rio, lembrava a estranheza do destino. Como fomos parar aqui, pensando nessas coisas...? Eu não sabia o que mais estava por vir. O amor começava pela nuca, com os dedos cavalgando a pressa. Fitava as águas rumando para o mar, e me continha. Se era para ser assim, que fosse um pouco diferente. A dez dias para encenação, você não recorda algumas falas. As mais circunstanciais. As outras, extensas, surgem até nos sonhos sombrios da manhã de vanguarda, quando, envenenado pelo ídolo de pedra, só pensei em dizer que não me importo com seu cabelo azul. Quem sabe uma carta febril, que prometo há tanto tempo, conserte um pouco o dia.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Nos Subúrbios Da Alma

Muitas vezes uma música me remete a uma lembrança que anula o presente: fico imerso por alguns instantes numa realidade só minha, construída com fragmentos intransponíveis à razão. Pertencem a um tempo e lugar que variam sempre, como se brincassem com meus enganos. Fico a navegar entre destroços da memória, antes que a melodia finde e leve consigo todo o seu significado para longe outra vez. Como acordes e versos de uma poesia aleatória podem captar tanto sentimento, cristalizando na superfície uma lembrança que se desfaz em outra e assim seguindo até os abismos da certeza? Nunca sei bem como tal processo começou com cada uma delas. Se acaso um momento da vida tenha ficado retido, feito um instantâneo, na breve passagem do riff melódico sobreposto pelo clima criado pelo teclado e que orienta toda a canção, acabo cedendo à tentação de fugir desse estigma sonoro, mesmo sabendo que jamais ficarei longe de tal prisão imaginária. Uma parte de mim termina presa a outra pessoa, que de algum modo se converte na sua própria obra. É estranho. Você sabe que ela estava completamente longe de sua natureza quando no processo de criação, mas mesmo assim uma ponte foi construída entre os dois mundos, sendo o meu refletido do primeiro. Ma como... Distanciamos do mundo de forma tão igual, como uma aproximação por instinto. Quando vê, percebe apenas, ainda que em silêncio, que não se está mais sozinho. E todo o egoísmo não convence sobre a originalidade de seu discurso. Sim, ele é familiar a outrem. Sua dúvida, sua solução, seu erro, sua percepção da vida interior, está tudo lá. E quando o processo se formula num momento de contato dos subúrbios da alma, a mágica se faz de maneira indelével. Mesmo que se sinta desvendado, denunciado, desmontado, desnudado, o seu universo não irá se opor ao cruzamento de impressões intimistas, versões oculares ou ocultas de desejos que não se pronunciam, de planos que não se realizam, de divagações que não se pavimentam pela solidão da tarde em hesitação.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Rock Vs. Amor

Meus amores são bem rock and roll, ela diz. Eu só conheci seu lado bossa nova, respondo. Contraditório, ela comenta, mas verdadeiro. E como mais poderia ser? Fiquei curioso para saber como é do outro jeito... Mas, agora, não haveria como. Quem sabe um dia, gosto de pensar. Mas a vida é tão breve, e que se o dia chegue... Ela entorta e afirma adorar rock tanto quanto chocolate, flores, vinho e gatos. O animal? Sim, os gatos. De todos os tipos. E me adora também. Não necessariamente nessa ordem. Eu já ficava ofendido por gatos tomarem a minha frente, então depois fiquei mesmo foi perdido. Porque todos somos mapas. Um dia eu acompanhei o seu mapa até um ponto. Quando vi, ele se estendia para além da plataforma. Eu já estava com frio e com sono. Voltei pra casa por um outro percurso, que cobria quase um terço do tamanho original. Estava um pouco rasgado nas pontas. Não sei mais por onde começa. Nem ela responde. Desaparece sempre no momento mais crucial da conversa.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Too Much Rain

O frio oblíquo que aflige as janelas já tomou parte de meus pensamentos, lentas abstrações sobre a sujeira que acumulamos aqui dentro, sem percebermos. A chuva escoa com uma nitidez física, enquanto a dor e toda a raiva tardia se torna espectral. Amanhã terei um dia que não ajudará em nada. Será como limpar a faca depois do trabalho árduo: a lâmina reflete nossas mãos que guardam o cheiro por um longo tempo, lembrando-nos, insignificantes, dos cantos escuros da alma no corpo.

Forma

Neste lugar
amo longe
nas sombras do mangue
fogo em pleno ar
com graça
e fome
tuas mãos móveis como areia
formam concha e escondem
a libido sem nome.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Try Again

A mesma rotina. Com as mesmas palavras. Para as mesmas pessoas. Onde me canso é minha revolta. Onde retardo é meu retorno. Como sempre, em todas as horas. Por que aqui as coisas caminham desse jeito? Que desolação. Ouço repetidas vezes a mesma música, perfurando meu ouvido. Talvez assim chegue à minha inconsciência e refaça, com notas, os planos que não encorajo. Numa tarde de inverno, cerraria as portas e pronto - jamais colocaria os pés novamente dentro de casa. Viajaria pelo mundo, com apenas uma mala na mão. Um caderno ao alcance, retratando a maldade, a beleza da maldade, a frieza da maldade, límpida e fresca como o sangue a jorrar de inúmeras cicatrizes. Os pés descalços sentindo a terra estrangeira. Pés que não pisariam mais na casa. Apenas o que houvesse do lado de fora. Seria vasta a paisagem, mais vasta que o espaço em que me ocupo. Com as mesmas pessoas. Na mesma rotina.

Retrato Em Preto-E-Branco

Com a fotografia nas mãos, me perguntava: o que revela esse olhar voltado para a lente da câmara, eternizado em preto-e-branco? Tudo ou quase nada? Talvez a pose ensaiada deixasse mais pistas, embora me fixasse nos lábios entreabertos. Vendo-a assim, serena, com uma passividade absurda, perco o fio da discórdia que tal sensação me oferece, ignorando os dez anos que se passou desde então. É um espaço de tempo paradoxal: quando a vejo, não percebo a sua passagem; como se as marcas físicas que se impõe a todos não a atingissem, apenas havendo o lastro da memória. Memória, diga-se, bastante vasta. Mas onde cada experiência se guarda ou se mostra é um mistério para mim. Conheci somente algumas, de relance, camufladas na linguagem usada e nas histórias que conta quando as lágrimas se tornam irreprimíveis. Os olhos, quando úmidos, dão um sentido de peso, de aniquilamento definitivo. Nessas horas, tento imaginar que força se imprime através deles, mantendo-os em expressão terminativa, de ultrapassagem de toda dor que se mantém oculta. Permanece à flor da pele por instantes, até que o viço fascinante de seu jeito se aninha nas dobras do corpo, me prendendo a atenção. Quantas coisas se perderam dentro do seu coração sincero, quantas se juntaram, se estenderam, se resgataram...? Dúvidas que a imagem estática de um retrato tirado há dez anos não responde. Sim, dez anos, e todas suas escolhas a trouxeram até aqui, instigante como uma paisagem, promovendo o que minha imaginação já perfez sobre a foto.
[Para Samara]

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

I Wake Up/It's A Long Time

O mundo me parece no mais completo silêncio agora. Ouço apenas minha própria respiração. As portas estão trancadas. Ninguém pode entrar. Mas olho de relance quando percebo com nitidez que me assusta a idéia de uma surdez repentina. Como saberia o real problema? De repente, desde o menor ruído se tornaria inexistente. Prendo a respiração. Não dói mais como antes. Quando acreditava tranquilo na ambivalência do amor. Certa vez, uma raiva marcada pelas tuas unhas na pele me deixou alguns minutos fora de transmissão. Seria absurdo: mas o ridículo em que me encontrava, com os olhos bem abertos, a boca como que a pronunciar uma palavra, mas com medo de como seria pronunciada. Fico atento ao menor sinal de que algo volte. Tuas unhas. Esse amor estranho. As sombras movendo-se pelos telhados e quintais. Agora sei, o silêncio é passageiro.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

The Blackwell Tunes - Covers # 5

If I only knew your name
I'd go from door to door
Searching all the crowded streets
For the place that I once saw

If I only knew your name
I'd go from door to door
Tell me have you seen the girl
I've met just once before

One Night of Love
Nothing more nothing less
One Night of Love
To put my head in a mess
Is that you on the bus?
Is that you on the train?
You wrote your number on my hand
And it came off in the rain

One Night of Love
Nothing more nothing less
One Night of Love
Has put my bed in a mess
Is that you on the bus?
Is that you on the train?
You wrote your number on my hand
And it came off in the rain

Young Love
Never seems to last
Far too young
Until they have a past
Playing games
People move so fast
You don't need eyes to see
If someones got a heart of glass

Young Love
Never seems to last
Far too young
Until they have a past
One night of love
Nothing more nothing less
One night of love
Has left my heart in a mess

One Morning

Descia as escadas com sono, alheio ao dia encoberto pelas nuvens. 7 horas da manhã. Quando o celular tocou, quase não o percebi. Fiquei tenso com as notícias que imaginei. Mas quando atendi a sua voz acalmou tudo. Falando todas as bobagens que são importantes para nós, pude enxergar mais longe: essa outra vida, que carregamos no coração.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Going Nowhere

Onde uma rua se torna praça e mercado, onde os pássaros em gaiolas arrancam as próprias penas e os cachorros comem os restos de carne e ossos, onde o vendedor boceja enquanto escuta a conversa da cliente, onde os carros passam em marcha lenta, desviando dos pedestres.
A hora passa.
Outra rua, novos olhares, da loja de consertos entulhada com televisores antigos, da pastelaria cheia de trabalhadores calados, da igreja evangélica ocupada apenas por um pastor, da biblioteca munincipal, exalando o cheiro de mofo.
Quase noite.
No antigo cais da cidade, uma pizzaria com poucos clientes, um pequeno museu fechado, uma loja de artigos velhos e usados, uma sorveteria com alguns turistas, uma senhora oferecendo artesanato, o velho galpão, perto da nova sede comercial da cidade. Depois, o rio.
01:27 am
Começa a chuver quando bêbados passam em bando, fazendo algazarra. O gato pulando o muro testemunha o instante em que os namorados se despedem pela última vez. Quem estará aqui outra vez, amanhã quem sabe? Um barulho longínquo remota ao tempo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Chuva Cai No Pára-Brisa Do Carro Quando Estamos Longe de Casa

Bang, bang. Foi assim, com um impacto duro e seco. Eu olhei pelo retrovisor e de repente a porta se abriu. Com a maquiagem borrada ela sempre foi mais interessante. Ficamos em silêncio alguns minutos, antes de sair pelas ruas escutando os ruídos da madrugada, vendo a Lua feita-de-papel estampada no céu, num abuso insolente. Enquanto isso ela examinava as unhas, nervosa demais para pensar. O que se passava em sua tumultuada alma? Passional do seu jeito, me pediu para estacionar em qualquer lugar, e caminharmos um pouco. O que eu peço é só um pouco do seu calor pra mim, ela sussurrou quando já estávamos mais próximos, confidentes provisórios de nossas fraquezas expostas. Engraçado como a bebida faz você caminhar com passos calculados, comentei meio sorrindo. Foi o bastante para ela chorar baixinho com os braços me apertando o corpo, com medo talvez de simplesmente desaparecer sem deixar rastro. Com medo de virar poeira cósmica, perdida entre as estrelas. Sem ninguém que a ouvisse, sem promessas para cumprir.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Yesterday Is Here

Passei o último quarto de hora lembrando de todas as pessoas ausentes. As que conheci e não lembro. As que se afastaram de alguma forma. As que simplesmente desapareceram. As que tomaram um caminho tão diferente do meu que se tornaram completamente desconhecidas. As que trazem dor só em lembrar. Pessoas: matéria indefinida. Como poderia falar delas? Como apresentar todo o amor e raiva e contestação e faz-de-conta. Que eu dissesse as verdades que vieram com cada uma delas, os enganos encontrados em cada coração. As imagens tão belas; de forma que qual seja o dia celebrado elas estarão aí, me dizendo o que fazer: cavar um poço bem fundo, onde enterre todas. Para que possam se apresentar novamente e recomeçar de outra maneira. O estômago, a alma, todo o resto, tecendo a fazenda imaginária das conversas vividas, dos sorrisos cúmplices, da estreiteza aguda imposta. As relações são duras, como pedras. Pedras a machucar a pele, alertando o corpo para os tempos vindouros: quando, quietos e vagos, nos aqueceremos na memória guardada para si.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Before I Knew

Um tempo atrás
decifrei num delírio urbano
as causas esquecidas pelo frio:
A chuva forte apagava os rostos
deixando apenas desenhos marcados no chão.
Os elementos corporais de insatisfação
deitavam nos olhos absortos
reflexos amarrados pelo cais do rio
como um jeito de dor tão mundano
dos que ignoram solidão e paz.