sábado, 31 de maio de 2008

This Is Hardcore

Meus amigos e inimigos, há vida fora do MSN. Há no ar que respiramos uma chamada para experimentar sapatos sem compromisso, um convite para evadir festas que se tornam tremedamente chatas, a liberdade de chutar a internet pra escanteio e ignorar os leaks do mais novo álbum do Death Cab For Cutie. Meus amigos e inimigos, há definições no cosmo que dissipam qualquer utilidade do orkut. São devaneios nominais que arrastam a massa para o telefone, a fim de ouvir a própria voz dqueles que já desconhecemos fisicamente pela falta de contato. As mudanças podem não vir em banda larga, mas farão sentir sua presença. Ao menos deixam marcas no coração condizentes com a elevação da pretensão mundana que somos capazes de produzir. Meus amigos e inimigos, há nos índices literários mais fascínio que a Wikipédia ou o Google podem produzir. Podem sentir isso com as mãos, em cada página virada, mas apenas se elas estiverem longe do teclado. Senão vejamos. Existiria caracteres tão íntimos quanto um abraço? Um beijo? Que emoticon seria mais explícito que olhos demasiadamente felizes pela nossa companhia? A realidade não é virtual. As cores de um belo dia solar não estão codificadas em pixel. Abracemos a insignifcância que o conteúdo de nossas palavras produzirá em um chat com desconhecidos sobre o conteúdo da televisão. Desista: jogos em rede tentam nos conquistar mas apenas a sinceridade do amor prevalece. Meus amigos e inimigos, ainda não precisamos de amores cibernéticos. A destruição pós-nuclear não aconteceu, de forma que não estamos inevitavelmente separados pela tela fria do computador num futuro apocalíptico em que homens se anulam diante das máquinas. Podemos ainda receber o calor de um sorriso que nos acolha de vez.

The Next Life [Parte Dois]

Perdi o contato com muitas pessoas durante a vida. Mais parece que me afasto dos outros que me aproximo, mas o contigente preciso das duas hipóteses não me é preciso. Apenas sei que a sensação de distanciamento é maior. Novas amizades, companhias, o que seja... Isso é raro. Penso muito ultimamente o que me levaria a tal estado de graça inversa com meus pares. Alguns pontos: sinceridade cortante às vezes. Ou alguém gosta de ouvir da boca de terceiros as reais intenções de seus atos, intenções estas escondidas de si próprias? Percebe-se pois então egoísta, mesquinho, mentiroso, invejoso ou cheio de rancor. É como o pus de uma ferida. Sabemos que está lá, e por causar asco, evitemos olhá-lo ou mesmo lembrar de sua existência. O pus de nossas relações sociais está sempe exposto, mas convenientemente deixado de lado. Ademais, desencanto-me com as pessoas. Acabam por fazer coisas que me desagradam ou cansam. Ou eu mesmo as canso ou desagrado. Como seria interessante aos olhos de outrem? Desfilo com congruência e equidade toda a leitura de uma vida, ainda work in progress, as músicas que povoam meu quotidiano, faço-me ouvinte, conselheiro, amigo. Acima de tudo, amigo. Sem significados. A amizade por si já traduz o que almejo dizer. Por que então...? Misteriosamente, o afastamento progide, e sem alento torna-se meu rosto uma imagem estranha para tantas pessoas. E me estranham também. Alguns acabam por fazer coisas completamente improváveis. Reduzem suas falas em uma nota só. Constragem a mim pela forma inócua de convivência, pela maneira como subestimam o que posso oferecer. Mas, por não estar aquém do que me provam, revolto-me, ludibriando-me com o que pensei conhecê-las. Mas o passado resta-se pouco. Muito pouco. Um quase nada ventilado por certas conversas, gestos velados, gratidão ocasional. Por tudo isso sempre chego à mesma conclusão: não conheço muitas pessoas honestas.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

The Blackwell Tunes - Covers # 7

I'm sick and tired of hearing things from
Uptight short sided narrow minded hypocritics
All i want is the truth, just give me some truth
I've had enough of reading things
By neurotic psykotic pigheaded politicians
All i want is the truth, just give me some truth
No short heared yellow bellied
Son of tricky dicky's
Gonna mother hubbard soft soap me
With just a pocket full of hopes
Its money for dope, money for rope
No short heared yellow bellied
Son of tricky dicky's
Gonna mother hubbard soft soap me
With just a pocket full of hopes
Its money for dope, money for rope
I'm sick to death of seing things from
Tight lipped colasilick mamas little chuvanist
All i want is the truth, just give me some truth
I've had enough of watching scenes from
Skezofronic ego centric peranoid primadonnas
All i want is the truth just give me some truth.....

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Storytelling

Tenho inúmeros projetos literários na gaveta. Ou melhor, numa pasta aqui no computador. Falha minha dizer isso, ou quase, já que até pouco tempo atrás eu escrevia tudo à mão, num caderno da faculdade desviado de suas funções. Ao menos do último que me lembro. Escrevi em cadernos e agendas minha vida inteira, e muitos deles estão espalhados por aqui e na casa de meus pais. Às vezes gosto de lê-los e considerar o quão medíocre são meus textos de outrora, principalmente os anteriores aos meus 17 anos. Sim, porque costumo dividir meus textos de acordo com a idade em que os escrevi, ou etapa de estudo em que estava envolvido então: colégio, faculdade, etc. De qualquer forma, nenhum desses projetos foi levado adiante. Preguiça, inércia, incapacidade de desenvolvê-los a meu gosto, seja o que for, não foram adiante. Alguns estão resumidos a poucas linhas de contexto. Para outros, escrevi uma pequena sinopse, de mais ou menos 10 páginas. No fundo, meus pretensos romances já gerariam uma coletânea de contos por si só. E isso, apesar de ser uma brincadeira, não me deixa nada contente. Várias vezes tentei trabalhá-los conforme o planejado. Mas meu poder de sintaxe parece ser muito forte, pois não consigo modelar os capítulos de forma mínima satisfatória. O alcance da linguagem em certo período me parece dizer tudo o que seja relevante, matéria que em outras mãos se transformariam em 20, 30 páginas. Se eu assim fizesse, seria apenas embromação. Escritores que admiro enormemente e que gostaria que escrevessem meus livros: Mario Vargas Llosa, Ian McEwan, Edgard Telles Ribeiro, Milton Hatoum. Logicamente, nunca se dariam a esse trabalho. Ademais, a argila é minha. Quem tem que fazer o vaso sou eu. Renoir não delegou a idéia de seus quadros para outrem. Enfim, essas idéias vaidosamente grandiosas passam pela minha cabeça certos instantes. Quando pego minhas sinopses procurando uma solução, sempre considero a hipótese da coletânea de contos. Mas me incomodo bastante com isso. São muitas idéias par condensar em poucas páginas. Idéias que vislumbrei detalhadas em 200 e poucas páginas, sendo lidas e consideradas por pessoas que realmente as apreciem. Sabe, um livo de contos seria até possível, mas não com estes textos. Eles nasceram para ser grandes. Mas com tantos em mãos e nenhum forte e saudavelmente crescendo, sinto-me como uma mulher na eterna expectativa de ser mãe e perdendo um tempo precioso com tentativas fracassadas. Quero um livro feito pela força e inquietude da juventude, algo que me aproximasse de Rimbaud e tantos que expiaram o mundo na mais tenra idade. Haveria quem enxergasse a realidade através de meus olhos? Leitores meus, seria a glória. A concordância é a antítese que alimenta cada coração voltado à página em branco.

domingo, 25 de maio de 2008

Lost [Parte Dois]

Algumas celas são invisíveis;
mesmo quando reconhecemos os rostos.
Se sinto-me próximo da saída,
talvez seja pelo silêncio deles.

sábado, 24 de maio de 2008

The Next Life [Parte Um]

Acordei me agarrando a qualquer rastro de vida que houvesse por perto. O que alcancei primeiro foi um celular. Estranha a sensação de segurança que um celular desperta. Peguei e fiquei alguns minutos decorando os números gravados na agenda. Seria extremamente libertador apagá-los, ou mesmo livrar-me do celular. Quantas pessoas no mundo teriam tido essa sensação ao mesmo tempo que eu? Quantas pessoas se sentem presas à vida, tentando sempre manter a unidade, quando deveriam despedaçar-se, começando tudo outra vez? Ou quem sabe não começar nada. Apenas mudar. Mudar com a frequência que a vida pede. A repetição gera o hábito. O hábito gera o costume. E o costume nos arrasa, tornando-nos previsíveis e amedrontados. O prazer está em cada nova experiência enfrentada... O prazer está no que exigimos de nós mesmos. Se escapamos disso, viramos inúteis tecnicamente. Lógico, não vemos as coisas desta maneira. Até porque dificilmente nos deparamos com desafios que realmente nos desperte a vontade de enfrentá-los. A maior parte do tempo é só burocracia, insatisfação, incoerência. O que mais poderia haver, pensamos. É só uma questão de nos manter vivos. Por isso gastamos muitas horas por dia trabalhando, pagando contas, comendo, criando os filhos, quando os há. E, no que resta, dormindo. A máquina cansada rejeita novos comandos. O dinheiro, as exigências sociais geradas por ele, os desejos para passamos a converter de acordo com a sua conveniência, isso nos destruiu. Dei-me conta que foi isto o que assustou quando acordei. Alguma imagem abstrata rondava meu incosciente, me atormentando com esta que é a vida antes da existência.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Time To Pretend

O que escrevo é uma droga, o que leio não é um filme, meu amor é um incenso que queima no silêncio da madrugada. Somos o que somos, e isso é pra valer. Porque não estou a fim de novas ideologias ou idolatrias ou fantasias ou seja lá o que você propor. Meu plano é outro: feche os olhos e se entregue sem medo a tudo o que não vê. Isso mesmo. O que parecer sinistro, hediondo, díspare... Esse é o seu destino. Isso é o que deve almejar. Que sentido teriam as coisas fáceis, já conhecidas? Isso é conforto, apenas. O que, obviamente, é inútil. O que nos faz sangrar é o que nos faz crescer. O que nos fere, nos opõe, nos machuca, isso é interessante. O que nos faz abrir os olhos cansados, seja pelo espanto, astúcia ou malícia. O resto é apenas fingimento deste mundo moderno.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Something To Talk About [Parte Seis]

Não sei, às vezes penso o pior das pessoas. No geral, tenho a imagem mais podre do ser humano, mesmo. Acho-o capaz das piores mesquinharias, prendendo-se à coisa pouca, alheia. Dificilmente olha para si mesmo. O cinismo ou pobreza de espírito impede, vai saber. De forma que me pego tarde da noite recordando esses acontecimentos do dia que na hora parecem não ter importância, mas depois, quando pensamos bem, fazem uma diferença danada. Nossa percepção é retardatária. O cérebro se condicionou a palavras-chave: dinheiro, emprego e, no caso dos homens, mulher. Bundas e um belo par de seios chamam a atenção, também como concurso com salário inicial de 3.000 reais. Claro, a malícia do mundo pede isso misturado com outras coisas. Um dos mandamentos sociais contemporâneos prega a exploração de terceiros, mesmo amigos. Usufruto e usura são padrões. Então a felicidade de toda hora é sentirmos espertos por ganharmos em cima de alguém, seja como for. Mas não é só isso que marca meu enfado com a criatura empoleirada e cheia de firulas, que se julga inteligente. Não. A raça humana é viciada pela falta de pudores. Talvez já nos sentimos livres por termos ultrapassado todos os limites esperados de decência e dignidade ao longo da História. Ou, melhor, "humanidade". O que se pretendia nomear assim deveria mudar de nome. Deveria ser "impossibilidade". Porque nos escapa a compreensão, a paciência, o bom senso, a caridade. Até o que considero normalidade foi violada. Ou cogitaria perfeitamente passível um pai que prende a filha por 24 anos em um porão, a estuprando diariamente? Exemplo isolado? Lógico que não. A maldade e intolerância começa no motorista de ônibus que não pára em determinado ponto por haver apenas um passageiro a subir. Ou o carro que não cede espaço em um cruzamento para outro que tenta entrar na pista movimentada. Poucos minutos a mais perto do sinal não mudam a vida de ninguém. Mas ninguém cede. E pergunto, isto está longe de nós? A progressão de atitude é questão de circustância. Mas a imundice é a mesma.

Something To Talk About [Parte Cinco]

Verão inverno verão inverno
verão que é inverno no verão.
[Chuvas]
Roupas molhadas nos varais do mundo,
roupas e rostos tristes em toda parte.
Ou é a tristeza que enxergo através de mim?

Something To Talk About [Parte Quatro]

Perguntas existencialistas oitentistas pessimistas. Respostas agressivas permissivas incisivas. Nossos diálogos. Eu o que ganho hoje perco no embate de amanhã. Feira, relógio lembra horário de ônibus, sono. Muito sono. As partes já não são iguais. E o desequilíbrio rompe as fibras do tecido do amor. Somos na véspera hedonistas, arrumando as malas em quartos separados, pelo bem do que vier. Se vier, fomos, antes, apenas nós.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Something To Talk About [Parte Três]

Nada é estático, tudo é movimento. Essa é a ordem mundial. Quais discos são realmente relevantes? Pensei rápido em uma lista, que mudará em meia hora. Assim são feitas as listas, com a intenção mais genuína de alterá-las. Esses cinco discos andam rondando minha cabeça agora:

1.The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
2.Suede - Suede
3.My Bloody Valentine - Isn't It Anything
4.Pulp - His 'N' Hers
5.Interpol - Antics




Vou acabar postando uma lista dessas por dia.

Something To Talk About [Parte Dois]

Mais uma matéria minha publicada em outro sítio. Agora, sobre o último filme do Richard Kelly. Pensando bem, eu bem que poderia ter usado mais uma vez o título "Destruindo Os Mitos" para nomear este post. Só lendo para entender. Enjoy it, clicando aqui.

Something To Talk About [Parte Um]

Amigos amigos, meus bons amigos,
como diz a canção,
we are together.
Seja aqui ou sempre,
são bem vindos no coração.
Porque deles se sabe,
a palavra certa virá
mesmo que esperemos ou não.

[Para Talita]

sexta-feira, 16 de maio de 2008

She's Not Dead [Parte Dois]

Subterfúgios verbais fazem parte do jogo. Começa assim. Ela olha e meio sem querer lembra que já conversamos antes. Sim, há alguns anos. Ela falava da sua coleção de discos e de como era feliz na companhia do amigo que morreu. Eu encontrei uma janela, pensei. Uma janela para alguma porta, embora não soubesse qual. De qualquer forma, era algo que valia ser explorado. E os meses e horas seguintes foram um deslumbramento só. Dos mais íntimos detalhes ao sonho da noite anterior. Então o interlúdio. Primeiro, breve, depois uma infinidade de contratempos, que pareciam cada vez mais desconexos. Entrevi os acontecimentos mais próximos. Os diálogos reprimidos. A razão omitida. A desafinar, quase. Recordei que os Beatles se separaram, afinal. O meu caso não poderia ser pior. Poderia ser, pior, o meu caso. O que não seria, se tivesse levado a sério minhas decisões. Por isso ela volta agora, mesmo já perdido o sentido. Porque o flashback é em banda larga, me pegando desprevinido. Okay, não seria legal se não fosse assim. E na verdade seria, se fosse em outro tempo. Mas os lugares e até as pessoas mudam. Histórias de amor só funcionam no cinema, e a minha vida não tem projeção. Ela volta, e deixa para pegar depois o que é dela. Como eu disse, interlúdio.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

She's Not Dead [Parte Um]

Não nunca jamais. Alguns minutos de conversa e toda a sensação de ânsia volta, mais forte. Eu preciso sair daqui. Preciso de um pouco de ar.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Lost [Parte Um]

O ruído a quebra a reverberação
Duas pontas da tensão que sugere
o indizível pelos olhos seus, sim.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

How Now [Parte Três]

Tudo bem, o fim do mundo está próximo. E eu preferi passar a tarde no cinema antes que me rendessem com uma arma em mãos. Antes que estourem minha cabeça e decorem as paredes de vermelho, me deixem explicar: não faço por mal. Eu simplesmente me perdi em algum ponto sem volta. Fechei os olhos e parti, ao lado da companhia silenciosa que a realidade agreste me sugere.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

How Now [Parte Dois]

Um tempo e um livro como hoje vêm em círculos. Nova adaptação. O espaço é pequeno, mas repete-se mesmo assim. Entre o quarto e a sala, dois metros de grandeza. No pesadelo que tive, sons vinham de lá. Distinguia vozes familiares, mas alguma coisa ficava de fora. Agora, não conta muito. Mas minutos antes... Não sei bem como aconteceu. Somente que me encontro aqui, e nem sempre é bom desse jeito. Nunca me recorre algum plano sincero. Enquanto.

terça-feira, 6 de maio de 2008

How Now [Parte Um]

Acordar e tomar café assistindo televisão. Esperar o ônibus pensando nas próximas horas. Outra vez. O que você faz de sua vida é decidido sem que perceba. Quando se dá conta, já passou. Isso não é propriamente a conclusão mais original. Sabe que é capaz de raciocinar algo inteligente e que chame a atenção das pessoas. Mas não o faz; está ocupado imaginando torturas para todos que o recriminam. Sim, seria interessante. Porém, não agora. Agora o melhor a fazer é anotar tudo o que dizem. Pode ser útil em outra vida.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Freeway

Sem dinheiro nos bolsos ou amor nas almas,
só resta esperar.
E que o trem não demore nas estações de dor.
Passe em estado de consciência alterada
pelos anos que virão como tespestade,
arrastando insistentes os meses do calendário.
A espera é longa, mas encerra antes da vida.

sábado, 3 de maio de 2008

The Blackwell Tunes - Covers # 6

They say it's your birthday
It's my birthday too, yea
They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy birthday to you
Yes we're going to a party, party
Yes we're going to a party, party
Yes we're going to a party, party
I would like you to dance (Birthday)
Take cha cha cha chance (Birthday)
I would like you to dance (Birthday)
Oh, yea
They say it's your birthday
It's my birthday too, yea
They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy Birthday to you

sexta-feira, 2 de maio de 2008

People In The City

"De modo que é assim que vivemos nossas vidas. Não importa quão profunda e fatal seja a perda, o quão importante fosse o que nos roubaram - que foi arrebatado de nossas mãos -, mesmo que mudemos completamente, com somente a camada externa da pele igual à de antes, continuamos a representar as nossas vidas dessa maneira, em silêncio. Aproximando-nos cada vez mais do fim da dimensão do tempo que nos foi estipulado, dando-lhe adeus enquanto vai minguando. Repetindo, quase sempre habilmente, as proezas sem fim do dia-a-dia. Deixando para trás uma sensação de vazio imensurável."
Trecho do livro "Minha Querida Sputnik", de Haruki Murakami.

End It On This

Organizando minha coleção de cds, encontro um disco que comprei há dez anos. Estava perdido entre o Elvis Costello e a Macy Gray. O álbum em questão não importa em si; digo apenas que envelheceu bem e ainda me soa forte e até atual como antes. Mas o que ele representa... Dez anos podem representar muito na vida do indivíduo, principalmente se ele, nesse ínterim, muda de cidade, entra na faculdade, se forma, e vive experiências de vida durante o curso universitário que o fazem enxergar a chamada realidade de uma forma diferente. Quando percebo que me vejo distante da pessoa que comprou esse cd, fico um pouco apreensivo da pessoa que serei daqui a dez anos. Porque me transformo pelo tempo através de percepções cada vez mais estranhas. E a próxima década será a provação do gênio que me tomou por tudo o que vivi até aqui. O que significa que saberei se estou certo pelas minhas escolhas. Simples, não? Se você não estiver receoso da resposta, talvez sim. Mas o mundo nos chama a propensas realizações que ignoram o resultado. Se vejo tudo sob minha ótica, Não há nada de errado. O problema é que a barbárie da solidão social não me atingiu como gostaria, retornando processos que preferiria ignorar. De volta ao ponto. Só uma certeza é válida por enquanto. A década vindoura perece sci-fi quando recordo que não me resolvi ainda com esta por completo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Everything In Its Right Place

Ontem fiz uma longa travessia da cidade. Saí para uma caminhada que poderia não ter volta, partindo pela avenida que tange o rio até a ponte iluminada. Prestava atenção nas pessoas, a maioria mais apressada que eu. Não sentia o cansaço, apenas uma dormência nos braços. Talvez morresse ali, na calçada, talvez fosse desviando dos outros enquanto a bateria do meu mp3 player durasse. Quem dizia o destino era a música. E por mais de uma hora, Radiohead escolhia por mim em que esquina virar. Subi a avenida que vai para o centro, ignorando as horas, o tumulto na parada de ônibus. Perto da estação do metrô, lembrei do show que um amigo havia comentado. Fui até lá. O volume das conversas competia com o som, não conseguia prestar atenção em nada. Apenas no movimento. Ruídos intistintos, o suor dos que avançavam para o palco, possuídos pela música. Uma boa terapia. Minhas pernas tremiam enquanto decidia-me pela volta repentina com as mãos descansando no bolso. Depois do cover que não reconheci qual, voltei para a rua, vendo risos, copos cheios, conversas animadas. Senti-me preso ao meu tempo, não ao meu lugar, e fiquei triste com isso. Meus passos estavam mais lentos, calculados. O centro esvaziava, assim como meus pensamentos. Esperava desligar minha atenção de tudo, restando apenas minha respiração. Àquela altura, a cidade e seus signos não importavam muito, apenas o sentimento de esgotamento e alienação que me levava de volta para casa.