quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Filmes Na Noite Escura

Passo as madrugadas assistindo filme. Na solidão, percebo que meu silêncio sempre foi maior que o seu. É possível sentir isso. Tal como a dor inventada que na tela me parece bem familiar. Estive em tantos lugares, conheci muitas pessoas; soube de vidas que não conseguiria suportar. Por duas horas, este mundo é meu, ainda que me escape quando em vez, ao desviar minha atenção: todas as coisas estão no lugar, afinal; a existência é inexorável para o que permanece lá fora. Eu imagino sem jeito como seria o dia ao amanhecer diferente. Mas me sinto preso, limitado pelo o que a estória apresenta. Sem sujeitos vingativos ou garotas francesas confidentes: só as armas na mesa, descarregadas, voltadas para a noite. A voz estranha me lembra um retângulo; os objetos em cena eu os possuí de alguma forma, e assim vou reconstruindo minha memória, com pessoas e coisas que nunca estiveram nela. Como eu, provavelmente.

Entrevistas - Parte 2


Diretor francês Michel Gondry comenta filmes de sua carreira

da Folha de S.Paulo

Prolífico parece ser o termo adequado para definir o cineasta francês Michel Gondry, 44. Nas últimas semanas, o diretor de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" lançou um filme nos EUA, encerrou as gravações de outro e já anunciou seu próximo projeto.
O primeiro é "Be Kind Rewind", comédia apresentada no Festival Sundance e que encerrará o Festival de Berlim (de 7 a 17/2). Nela, Jack Black e Mos Def vivem uma dupla que, após apagar acidentalmente as fitas de uma locadora, passa a recriar os filmes destruídos (como "Robocop" e "Os Caça-Fantasmas") de forma mambembe.
A obra recém-filmada é o longa em episódios "Tôkyô!", em que ele assina uma das três histórias: a de uma garota que se transforma em uma cadeira.
O próximo filme será "The Return of the Ice Kings" (a volta dos reis do gelo), no qual alguns garotos inventam um tipo de água especial --quem a bebe ouve uma música.
Enquanto o diretor faz tudo isso lá fora, sua obra aqui no Brasil ainda é pouco vista. "Sonhando Acordado", seu filme de 2006 com Gael García Bernal, só passou em festivais, está comprado por uma distribuidora, mas não tem previsão de lançamento. "Be Kind Rewind" chegou a ter a estréia no país anunciada para março, mas foi reprogramado para maio.
Na conversa com a Folha, por telefone, durante as filmagens de "Tôkyô!" na cidade do título, Gondry falou de seus filmes e de outros, como o brasileiro "O Outro Lado da Rua".



Folha - "Be Kind Rewind" parece ser seu filme mais acessível, uma típica comédia hollywoodiana. É isso?
Gondry - [Reticente] Ahn, é. Quando você assistir, vai ver que não é uma comédia direta, não são piadas tradicionais. Não quero parecer crítico, gosto desse tipo de comédia, mas não é meu mundo. "Be Kind Rewind" pertence à mesma linha dos meus outros filmes.
Folha - E como o sr. teve a idéia para o filme?
Gondry -É um tipo de utopia. Imaginei como seria se as pessoas fizessem filmes caseiros usando o que estivesse disponível na vizinhança, criando sua própria história e dividindo-a com a comunidade. Os personagens começam fazendo remakes até serem proibidos pelo FBI e pelos estúdios. Então, eles passam a filmar a história da cidade e um filme sobre [o jazzista] Fats Waller [1904-1943], porque acreditam que Waller morava no prédio deles.
Folha - Como foi o trabalho com Jack Black e Mos Def?
Gondry - É um bom time. Jack Black tem um "timing" forte de comédia e é muito sensível. Mos é bem engraçado; há uma dinâmica entre eles. Também trabalhamos com Mia Farrow e Danny Glover, o que foi ótimo.
Folha - Seria esse o seu filme menos pessoal?
Gondry - Sim, é mais sobre uma comunidade. Depois de trabalhar com Dave Chappelle em "Bloc Party" [sobre uma festa comunitária no Brooklyn, em NY], fiquei mais interessado no porquê de as pessoas gostarem de ficar juntas, manterem os laços de comunidade.
Folha - O sr. disse que usou suas próprias emoções como um laboratório para experimentar em "Sonhando Acordado". Como foi isso?
Gondry - Minha imaginação está muito ligada a como me sinto. Na filmagem de "Sonhando...", isso foi mais evidente, porque eu falava de emoções e frustrações que vivia no set. A pessoa que provocava algumas dessas emoções estava envolvida na filmagem, era quem fazia os bonecos que aparecem no filme [Lauri Faggioni], e sua personalidade serviu de inspiração para a personagem Stéphanie [Charlotte Gainsbourg].
Folha - Deve ter sido uma experiência problemática, não?
Gondry - Sim. Eu estava sofrendo essa rejeição e ela continuava. Decidi ir a fundo nisso, porque era o que explorava no filme. Não tentei me proteger.
Folha - O sr. usou como cenário o prédio onde viveu em Paris?
Gondry - Sim, o mesmo prédio, outro apartamento, mas idêntico. E a mãe do meu filho, que é a estilista do filme, Florence Fontaine, ainda vive lá. Achei que isso ia me dar uma sensação mais estranha do que deu, na verdade. Foi uma experiência muito positiva.
Folha - "Sonhando Acordado" saiu como o sr. imaginava?
Gondry - Já o vi muitas vezes, mais que qualquer outro filme que tenha feito, acho que por ele ser muito pessoal. Quando vejo Charlotte e Gael [García Bernal] encenando coisas que vivi, me sinto menos solitário.
Folha - Como o sr. o posiciona em sua filmografia?
Gondry - Acho que é como o primeiro disco de uma banda, em que você põe tudo o que o coração sente. É genuíno, posso me defender de qualquer coisa que seja dita contra ele. É algo emotivo. Olhando hoje, talvez eu pudesse ser mais objetivo, mais cínico, talvez tenha sido um pouco ingênuo ao filmá-lo, mas não me arrependo porque não quero fazer filmes cínicos.
Folha - Tanto "Brilho Eterno..." quanto "Sonhando Acordado" exploram relacionamentos falhos. Por que o tema lhe é caro?
Gondry - Não acho que seja só para mim. Fazer um relacionamento funcionar é uma das coisas mais difíceis da vida. Muitos psicólogos dizem que você precisa estar satisfeito consigo mesmo antes de entrar numa relação, mas não concordo com isso, acho que fomos feitos para estar com alguém. Mas isso vem com muitas dificuldades, que podem se tornar a parte mais importante da sua vida.
Folha - Há também um desencontro lingüístico em "Sonhando Acordado", os personagens falam línguas diferentes. Por que isso?
Gondry - Queria um filme sobre alguém que não se sente em casa na terra natal. Como foi o Gael, fiz a ligação da história com o México. A maioria dos meus relacionamentos foi em outra língua, o que trouxe limitações e liberdades na hora de expressar meus sentimentos, e muitas dessas experiências de desencontros verbais ficaram registradas na minha mente.
Folha - Seus filmes têm uma dose de humor e, não raro, insanidade. Quão importante é isso para o sr.?
Gondry - O humor é muito importante na vida e nos relacionamentos. Sem humor as coisas tendem a dar errado em algum momento e, se você leva tudo muito a sério, irá se sentir humilhado. Se você brocha, por exemplo, ou se encontra em alguma situação embaraçosa, só dá para contornar com humor.
Folha - Essa exposição de sua vida que o sr. faz nos filmes não gera reclamações de pessoas próximas?
Gondry - Sou sempre muito cuidadoso para não magoar as pessoas. Não gosto de assistir a filmes perversos, mesmo que não representem o ponto de vista do diretor. Não gosto de zombaria nem de ironia, gosto de humor e de tolices. Não gosto de filmes baseados em vinganças, motivo pelo qual não sou fã de Shakespeare.
Folha - No que sua vida mudou depois de ganhar um Oscar?
Gondry - Hoje tenho uma bela estatueta sobre minha geladeira. Na verdade, é muito satisfatório, mas é preciso pôr em contexto: o Oscar foi de Charlie Kaufman [o roteirista, em parceria com Gondry], tive uma participação de uns 20%.
Folha - Mas lhe abriu portas?
Gondry - Não, não acho que tenha mudado muito.
Folha - Como foi sua relação com Kaufman?
Gondry - Foi incrível trabalhar com ele, é uma pessoa brilhante e temos muitas idéias em comum sobre os absurdos que vemos no mundo, especialmente em relacionamentos. Também uma visão geométrica da narrativa, algo de que gosto. Talvez ele seja um pouco mais pessimista do que eu. Certamente sou mais ingênuo.
Folha - Como andam as filmagens de "Tôkyô!"?
Gondry - Um processo de imersão. O filme tem dois outros episódios, de Leos Carax e Bong Joon-ho, que fez "O Hospedeiro". Minha história é baseada em uma HQ de Gabrielle Bell, sobre uma garota que se transforma em uma cadeira.
Folha - E qual o tom da história?
Gondry - Há um pouco de humor e de doçura, mas é triste no geral. É sobre uma garota que não sabe qual é seu propósito na vida e que se sente cada vez mais inútil, e acaba se transformando numa cadeira.
Folha - Qual a importância de sua cultura natal em seu cinema?
Gondry - Não tenho orgulho, no sentido político, de ser francês. Foi onde cresci, então, claro, deve ter me influenciado artisticamente. Estava bem interessado no surrealismo quando cresci, mas gosto muito de Charles Chaplin também. Certamente tenho alguma sensibilidade francesa, mas não tenho muito orgulho de ser francês. Não me importo com nacionalidades, mas com pessoas.
Folha - O que o sr. conhece de cinema brasileiro?
Gondry - Vi "Cidade de Deus", que me impressionou, apesar de eu não gostar de imagens de crianças com armas, ou de armas em geral. Se você põe uma arma na mão de alguém em um filme, consegue uma tensão e uma dinâmica imediatas, o que torna as coisas fáceis, mas sou um pouco contra isso. É claro que, em "Cidade...", aparentemente é próximo da realidade, então serve a um propósito. Vi esses dias outro filme de que gostei, sobre uma senhora que ajuda a polícia a resolver crimes. Ela vê, de sua janela, um sujeito matar a mulher. Sabe o título? ["O Outro Lado da Rua", informa o repórter] Gostei muito, a atriz [Fernanda Montenegro] era maravilhosa.
Folha - O sr. já visitou o Brasil?
Gondry - Não. Mas fiquei fascinado com Brasília por causa de um filme francês chamado "O Homem do Rio", com [Jean Paul] Belmondo, em que ele vai a Brasília quando ela está em construção. Acho que a cidade não está funcionando como foi planejada, mas me fascina essa utopia de conceber uma cidade a partir do nada, é algo mágico.

Entrevistas - Parte 1




Dois gênios apreciados aqui no blog. Ian McEwan e Michel Gondry. O primeiro entrevistado enquanto participa de festival literário na Índia; o segundo enquanto filma sua mais nova produção. Comecemos com McEwan.


Com novos fãs, Ian McEwan tenta fugir de culto à celebridade


Por Rina Chandran


O escritor britânico Ian McEwan sente-se incômodo com o culto a escritores célebres, mas se alegra com o fato de novos leitores buscarem seus livros depois de assistir a versões deles no cinema.
"O trabalho de escrever é bastante monótono, de modo que parece estranho transformar em celebridades aqueles que o praticam", disse o autor durante o Festival de Literatura de Jaipur, no oeste da Índia.
"É estranho. Se eu fosse uma atriz de 22 anos, estaria me divertindo, mas sou um escritor de 60."
Autor de romances aclamados como "Amsterdam" e "A Criança no Tempo", McEwan vem tendo recentemente o que descreve como uma fase desagradável sob os refletores da mídia.
Em 2006, ele foi obrigado a desmentir sugestões de que teria plagiado o trabalho de outra pessoa. Dois meses mais tarde, voltou a chamar a atenção da mídia quando se reencontrou com um irmão do qual vivera afastado por anos.
Agora, a adaptação para o cinema de "Reparação", seu romance da 2ª Guerra Mundial sobre dois amantes separados pelo conflito e por uma traição familiar, conquistou os maiores prêmios do Globo de Ouro e novamente está submetendo McEwan à atenção do público.
Apesar de sua ambivalência em relação à fama, McEwan, visto como um dos mais importantes autores britânicos da atualidade, disse que se sente encorajado pelo grande número de novos leitores atraídos pelas adaptações cinematográficas de romances.
"Em minha experiência limitada, 'Desejo e Reparação' vem atraindo para o livro muitos leitores que nunca tinham ouvido falar do livro ou de mim."
Hoje trabalhando em "alguma coisa" que trata das mudanças climáticas, que McEwan observou em primeira mão durante uma visita feita ao Ártico na companhia de uma equipe de cientistas, o escritor disse que seu maior medo é ficar sem idéias.
"Se temos grandes idéias ou não é realmente uma questão do acaso. Meu maior medo é que a fonte de idéias seque -- que eu não tenha nada mais a dizer, mas continue escrevendo, mesmo assim", confessou.



Fonte: UOL

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Subterranean Homesick Alien


Pense em uma tarde nublada e como as pessoas reagem às nuvens no céu. Em como ficam em suas casas, sem nadar para fazer e sem lugar para onde ir, pensando em suas vidas. Uma hora e a televisão ligada, uma forma estranha de companhia, com os comerciais cada vez mais demorados. Uma hora e vemos coisas inúteis na nossa frente; vemos nosso silêncio na janela. Você vai e decide ligar para a pessoa que não encontra há meses, esquecendo como é seu rosto. A pessoa atende e fica surpresa, mas não sabe bem o que falar. Você lembra do tempo em que era jovem, e isso não significa mais nada para ela. O constrangimento é tanto que você acha melhor se despedir e desligar, antes que se sinta realmente embaraçado. Minutos depois está de volta ao seu sossego na frente da televisão, ela pelo menos disfarça sua simpatia com estranhos. A televisão arranca seu falso interesse justamente como você faria em uma mesa com amigos de infância que agora perguntam simplesmente o que você anda fazendo. O que você faz não interessa realmente a elas, assim como a televisão não se incomoda se você prepara o jantar enquanto ela fala para a sala vazia. Mas o som... O barulho é que se torna importante. Torna-se constante, na verdade, e isso é bom. Você dorme. Você acorda. Os rostos se revezam na sua frente, mas os sorrisos são sempre iguais. Sorrisos que prometem um dia glorioso, carregado de símbolos que lhe atravessarão por anos a fio. Mas, lógico, isso não acontece. Está fora de seus planos. O conforto é mais importante. Você decide ler um livro. Melhor, você decide escrever um livro. Um livro que todos irão ler. Um livro sobre dias inteiros vividos na frente da televisão. Um livro sobre suas vidas nubladas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sing

A cidade é uma terra suja de lazeres
com prazeres que me esquecem totalmente.
Seriam as letras luminosas de um anúncio qualquer
presságio para as formas do novo sonho?
Campos cobertos pelo mais belo concreto
que os corações acelerados derramam ao alvorecer.

1979

"Shakedown 1979, cool kids never have the time
On a live wire right up off the street"


Em 1 º de janeiro de 1979, são estabelecidas relações diplomáticas entre a República Popular da China e os EUA.
No mesmo dia, o exército vietnamita invade o Camboja.
O ayatollah Komheini regressa a Teerã, capital do Irã, em 1º de fevereiro.
Em 17 do mesmo mês, a China invade o Vietnã, para apoiar os cambojanos.
Em 27 de março, a OPEP aumenta em 9% o preço do barril de petróleo.
Em 5 de abril, o ditador Pol Pot é derrubado, acabando com seu regime de terror, instalado através das forças do Khmer Vermelho.
Em 11 de abril, foi a vez da queda do ditador da Uganda, Idi Amin, responsável por diversos genocídios.
Em junho, o papa João Paulo II visita sua terra natal, a Polônia.
Em 16 de julho, Saddan Hussein assume todo o poder no Iraque.
4 dias depois, os sandinistas tomam o poder na Nicarágua.
Em 14 de agosto, O Marrocos anexa o deserto do Saara.
No dia 3 de setembro é iniciada a VI Conferência dos Países Não-Alinhados em Cuba, com a presença de 97 países. O movimento está intimamente ligado à ideologia da Guerra Fria.
A embaixada americana em Teerã é invadida no dia 4 de novembro.
A União Soviética invade o Afeganistão em 26 de dezembro de 1979. Os EUA preparam guerrilheiros para combater a invasão, entre eles, Osama Bin Laden.

domingo, 27 de janeiro de 2008

The Blackwell Tunes - Covers # 4

What are you running from?
Taking pills to get along
Creating walls to call your own
So no one catches you?drifting off and
Doing all the things that we all do
Let them wash away
All those yesterdays

Janeiro/Por Onde Estamos

Foi frio o teu sorriso, frio a gelar mãos, quando cheguei na tua casa sem avisar. Foi estranho, estranho de cortar coração, quando busquei teu beijo e perdi-me entre a chance e o não. Foi triste, triste como o sol de janeiro, quando teus olhos nada disseram às palavras amassada que falei.
E saí para encontrar nas notas de um violão entremuros a razão de teu mundo.

Too Young

Como sujeito às minhas teses de autodestruição, acabo não indo à festa que mudaria minha vida. Acabo não conhecendo a mulher que jogaria fora meus planos de uma existência tranquila e longe de paixões desenfreadas. Acabo, então, não partindo dez anos depois para uma viagem de busca espiritual que atravessaria cinco países e me traria de volta à unidade filosófica que permeou os primeiros anos passados no sossego da dúvida. Pensando bem, não foi um prejuízo tão grande assim. Retornamos sempre a algum começo, seja qual for.

Sob A Chuva Na Cidade

Quando o carro fazia a curva na saída da estrada, o céu revelou-se num assombro instantâneo de relâmpagos e lampejos que prolongou em dez segundos meu próximo pensamento. Com forma de luz, concluí, sem que ela percebesse do que se tratava. Ficamos em silêncio depois, abstraídos da paisagem urbana, apenas focados nas nuvens deslocando-se sobre a cidade, espalhando uma escuridão absurda para uma tarde tão assim: úmida pelas lágrimas deixadas para trás. Nas palavras já sem sentido, a chuva cai como alívio que desdenha do constrangimento pelo o que passa lá fora, numa distância segura do que se passa aqui dentro.

sábado, 26 de janeiro de 2008

No Surprises

Pude vê o rosto vincado pelas mágoas de Alice sem o desejo de dor que entrara em nossas vidas tempos atrás. Era o início de janeiro, o início de nossos dias em férias. Anotei seus lábios cerrados num desenho esquecido na mesa, enquanto as horas de luta corporal eram entrevistas na língua verbo que fervia. Como pude girar em tornos dos mesmos sentimentos por tantos anos? Alice era sombra de si própria, e marcava a nós. Como um plano, um sistema, uma forma qualquer de interesse duvidoso e propenso à reviravoltas, mesquinhas e inúteis. Como eu serei antes de morrer? Como seremos no último minutos de nossa existência vazia? Recuaremos um instante antes da derrota ou diremos com palavras hábeis o quanto estaremos felizes por acabar logo com tudo? Os fatos sendo enterrados por minhas conotações virais. Um segundo, um minuto, uma hora - por quanto tempo assim? Quando vi o rosto de Alice outra vez, já não era mais o mesmo.