domingo, 30 de dezembro de 2007

Hello Goodbye [Parte Dois]

O que me tenha áspero, doído, em plena manhã complacente e refeita pelas mesmas mãos que ousam, numa provocação, numa desilusão, de breves formas afins, como um urso dormindo sob orvalho que finda na relva nascente; como o horror da morte lembrada por vivos absortos na indiferença, na incompreensão: o que te traz até aqui, o que te põe de pé, o que te alimenta e celebra os muitos caminhos ignorados pela nossa presença. O que somos além de corações descompassados com o mundo à espera?

sábado, 29 de dezembro de 2007

Hello Goodbye [Parte Um]

Uma noite, uma bebida quente para o inverno, do beijo um amor, refazendo novos planos sempre adiados, para longe e mais longe, entrevendo nos gestos a poesia corporal.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Meus Poemas Preferidos # 1

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor, no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.


Carlos Drummond de Andrade

À Luz Do Dia [Prólogo]

Você entra e vê, rostos nada sérios, no balcão do bar mesa de sinuca um trago e a mancha no chão, você entra e vê, que falta pouco para o dia nascer, e antes que as sombras se dissipem por completo, nada atingirá você, nada será concreto plástico, transformado pelo poder do ópio. Alguns sentados falam da filosofia, da sua filosofia, das conexões neurais alimentando os corpos com idéias completamente abstratas antes do primeiro raio solar, o som baixo, um jazz qualquer. Antes que alguém lembre de Miles Davis, fazendo a engrenagem funcionar no anteplano falando de disfunção cultural crônica, você lembra e vê, que um outro dia começou assim.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Destruindo Os Mitos # 4

Há algum tempo venho planejando uma resenha prévia de algumas adaptações literárias para o cinema que estão planejadas para este ano e para o próximo: todas de livros muito especiais para mim, como Ensaio Sobre A Cegueira. Falaria dos filmes, da minha relação com essas famigeradas adaptações, de como sinto, no papel de leitor, essa transição das páginas para à película... Andava sem tempo ultimamente, e eis que, antes que o texto ficasse pronto, leio uma crítica de um dos filmes que comentaria. Nada positivo, diga-se. Se esta resenha, publicada no site Omelete, confrontou o filme com base nas minhas mesmas perspectivas, e encontrou resultado tão decepcionante, imagino que sirva como antecipação dos lançamentos que virão. O cinema, diga-se, acaba às vezes arruinando imagens ludicamente perfeitas em nossa memória.


O Amor nos Tempos do Cólera
Faltam entranhas à adaptação do belo romance de Gabriel García Márquez [24/12/2007]

Quando li pela primeira vez O Amor nos Tempos do Cólera, um amigo que me emprestou o romance avisou categórico: "Cem Anos de Solidão é incrível, mas o próprio Gabriel García Márquez disse que este é o livro que ele 'escreveu com as entranhas'".
Se o colombiano prêmio Nobel de literatura realmente declarou isso ou não, não sei - e a história é boa demais para ser desmentida por uma eventual busca no Google. Gosto dela assim. De qualquer forma, o que falta ao filme que adapta o livro é justamente isso... "entranhas".
Mike Newell (O sorriso de Mona Lisa, Harry Potter e o cálice de fogo) é um diretor razoável, mas a passagem da apaixonada obra, supostamente inspirado pela história real do amor dos pais do escritor, às telonas é burocrática. "World Movie" demais. Talvez até assustada com a responsabilidade de transformar um dos maiores romances de todos os tempos em filme.
Numa primeira análise, salva-se a fotografia de Affonso Beato, que, como já era esperado, é linda, brilhante, com uma reconstituição de época competente (as tomadas externas de Cartagena são especialmente belas). Mas mesmo ela cai no lugar-comum dos papagaios, bananas e trepadeiras. Coisa pra inglês ver. Literalmente. Afinal, o filme é todo falado em "inglês exótico", com sotaque carregado, em detrimento do espanhol - língua falada por boa parte do elenco, como John Leguizamo (Terra dos Mortos), Hector Elizondo (O Diário da Princesa 2), Benjamin Bratt (O lenhador) e Catalina Sandino Moreno (Maria cheia de graça), todos em papéis secundários. E mesmo quem não fala espanhol tem nas línguas latinas seu idioma, como a brasileira Fernanda Montenegro (Casa de Areia), que consegue brilhar em algumas pequenas cenas como a mãe do personagem principal. Espanhol mesmo só na decente trilha sonora, especialmente composta pela conterrânea de Garcia Márquez Shakira, num tom completamente distinto de sua obra pop/rock habitual.
No papel do casal de protagonistas - Fermina Daza, amor perdido do apaixonado Florentino Ariza, que dedica 50 anos de sua vida a resgatá-la - estão Javier Bardem (Segunda-feira ao Sol) e a italiana Giovanna Mezzogiorno (O último beijo). A atriz não faz feio, convence em todas as fases da vida da personagem. Mas Bardem, pela primeira vez em sua carreira, parece deslocado, um pouco constrangido até. O homenzarrão que fez chorar em Mar adentro, que assusta em Onde os Fracos Não Têm Vez e causa repulsa em Sombras de Goya, aqui simplesmente não encontra o tom. O choro é fingido, o alento do sexo com estranhas é mal explorado e a dor de amor não é sentida, o que tira a força de todo o filme. O amor, força motriz da história, dessa forma parece mero capricho.
Garcia Márquez relutou por anos em ceder os direitos para a adaptação. Foi finalmente convencido depois dos produtores jurarem fidelidade à obra. Mas fidelidade em Hollywood não significa necessariamente entendimento à proposta. A adaptação de Ronald Harwood (O Pianista) mantém os elementos principais (supostamente o próprio Márquez revisou o texto) mas a falta de personalidade e sensibilidade do diretor limou todas as sutilezas, o erotismo, a trama intrincada e a profundidade dos personagens. O resultado é um mingauzinho leve... bem mastigadinho, coisa pra quem não tem entranhas mesmo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

The Blackwell Tunes - Covers # 3

I have a love
I have a love for this world
A kind of love that will break my heart
A kind of love that reconstructs and remodels the past
That adds the dryness to the dry August grass
That adds the sunshine to the magnifying glass
And makes me fight for something that just can't last

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Plastic Hearts

Fico e veio pensando, já de longe:
novos nortes para o mesmo paradigma.
Este concreto que me quebra os ossos
tornando o ar nos pulmões mais fresco
como o fogo purificado das boas ações.
Você me descansaria em seus olhos?
Fecharia as portas antes de dormir?
Todas as portas, para eu não entrar
e entregar minha surpresa nos detalhes
que arranham seu rosto
nas noites de frio.
Quem eu seria por obra do acaso
no filme que faz de sua vida?
Talvez o vilão sem lutar
no alçapão da memória
os bons fluídos que ignora, entrementes.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Destruindo Os Mitos # 3

A fé, em si, não importa. E sim o que fazem com ela. Inclusive orgia. Duas matérias publicadas no portal UOL.
Juiz condena Universal a indenizar viúva que doou carro por engano
da Folha Online

O juiz Jeová Sardinha de Moraes, da 7ª Vara Cível de Goiânia, condenou a Igreja Universal do Reino de Deus a indenizar em R$ 10 mil uma viúva que disse ter sido pressionada a doar seu carro à instituição e que depois, ao se arrepender, foi agredida e humilhada. Cabe recurso.
Segundo o TJ (Tribunal de Justiça) de Goiás, no processo, a viúva disse que a filha começou a freqüentar da igreja em 2005, após a morte do pai, e que logo passou a ser pressionada a fazer "doações exacerbadas", "sob a promessa de retribuição em dobro".
De acordo com a viúva, a moça chegou a vender utensílios domésticos e móveis --inclusive a cama em que dormia-- para doar mais dinheiro à igreja e que, em meio a isso, doou também o carro da mãe. Segundo a viúva, ela a convenceu a assinar um documento de transferência em branco sob o argumento de que iria vendê-lo.
Depois de perceber o golpe, a viúva foi à igreja reivindicar o carro, mas acabou "maltratada, agredida fisicamente e exposta à humilhação", ainda segundo o TJ.
Em sua decisão, Moraes considerou que a má-fé da Universal é incontestável, pois aceitou um carro de quem não era proprietária. Na sentença, ele ressalta que a filha disse ter sido pressionada pelos pastores a convencer a mãe a assinar o documento em branco. Para ele, a viúva tem direito à indenização por danos morais ainda mais pela reação dos integrantes da Universal ao pedido de devolução do carro.
Pastor do ES prega que cada homem deve ter sete mulheres
Da Redação
Em São Paulo

Baseado nas palavras da Bíblia, o pastor Justino Apolinário de Oliveira, 50, que atua em Vila Nova de Colares, no Espírito Santo, defende que cada homem possa ter sete mulheres. O pastor, que pertence à pequena igreja conhecida como Tabernáculo, cita uma passagem bíblica, do profeta Isaías, para defender a prática. Em entrevista ao jornal "A Tribuna", Oliveira afirmou que já manteve relações extraconjugais após uma suposta revelação que lhe veio durante um sonho. "Só liguei e disse: 'Olha, estou vendo desse jeito, você aceita?' Se aceitar, vou até seu pai para conversar com ele'. E ela aceitou", lembrou Oliveira, que vive com esta nova companheira há quase três anos após sua ex-mulher o abandonar. TrocasUma dona-de-casa de 24 anos, que mora em Vila Nova de Colares e segue a doutrina da mesma igreja, admitiu que teve relações sexuais com o pastor. Casada há sete anos e mãe de quatro filhos, ela contou à reportagem de "A Tribuna" que seu marido concordou e o pastor teria mandado duas mulheres para o companheiro dela "não ficar sozinho".Ela disse que dormiu na mesma cama com o pastor e sua mulher, mas que nos momentos íntimos os dois ficavam sozinhos. "Não senti prazer. Fui tudo pelo espírito. Foi de Deus", disse a dona-de-casa.Pela cidade, alguns fiéis discordaram da suposta troca de casais e abandonaram a igreja. Um deles foi o porteiro Carlos Robson dos Santos, 46: "Ele dizia que estava tudo na Bíblia. Falava, ainda, que os homens tinham que ter sete mulheres virgens ou viúvas", contou.Passagens da BíbliaO relacionamento do homem com mais de uma mulher aparece em trechos do Velho Testamento. Mas pastores alertam que a interpretação deve levar em conta o contexto histórico e cultural das épocas.O presidente da Associação de Pastores Evangélicos de Vitória, Abílio Rodrigues, condena a prática. "Quando se fala em sete mulheres para cada homem, no livro de Isaías, é uma profecia específica para o povo de Israel, que iria viver um tempo de guerra, em que não haveria homens para casarem com as mulheres. Não se pode firmar uma doutrina em cima disso. O apóstolo Paulo explica que o pastor tem que ser marido de uma só mulher", afirmou.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

I Bought A Gun, I Kill Myself [Capítulo 1]

Quando eu tocava Dylan, sozinho, achava que o amplificador mudava tudo. Ficava meio impreciso, mas funcionava. Eu olhava para o poster na parede, e era como se ele consentisse. Então ia mais fundo. Cada nota, um crime perpetrado. Ouvia repetidas vezes nos fones para me certificar. Quando a sessão terminava, estava exausto. Queria beber, e nada mais. Mas no terceiro copo, as idéias vinham novamente. Letras arranjadas pela atmosfera, dos que esqueciam a si mesmos nos fundos do bar. O homem silencioso, com o caderno aberto à sua frente. O que quer que fosse, aquilo me dizia respeito também. Mas como poderia chegar a ele? Sem fazer barulho, sem respirar... Em casa, as idéias já não funcionavam da mesma maneira. Ficava com os bolsos amarrotados de passagens a ser trabalhadas, sem ordem. Lembrava do caderno. O que estava escrito, afinal? Pensava nele, pontuando minha insônia, meu estado de ver as coisas, indo longe, muito longe. Como um maldito vidente, embora não entendesse as revelações.

The Blackwell Tunes - Covers # 2

So, so you think you can tell
Heaven from Hell
Blue skys from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
And hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish
How I wish you were here
We're just two lost souls
Swimmin' in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

The Blackwell Tunes - Demos # 3

O que for na verdade
será apenas parte do show
A grande fuga
de algum lugar perto daqui

Como posso na idade
assumir o que não sou
partilhando a vida suja
que faz estar e não sentir?

sábado, 1 de dezembro de 2007

The Blackwell Tunes - Demos # 2

Como nos demos bem
no seu jogo de infâncias
desenhadas em cartas de tarô
deixei de lado meus enganos
e segui pelo rio um desamor
que pôs fim em mim.