terça-feira, 20 de maio de 2008

Something To Talk About [Parte Seis]

Não sei, às vezes penso o pior das pessoas. No geral, tenho a imagem mais podre do ser humano, mesmo. Acho-o capaz das piores mesquinharias, prendendo-se à coisa pouca, alheia. Dificilmente olha para si mesmo. O cinismo ou pobreza de espírito impede, vai saber. De forma que me pego tarde da noite recordando esses acontecimentos do dia que na hora parecem não ter importância, mas depois, quando pensamos bem, fazem uma diferença danada. Nossa percepção é retardatária. O cérebro se condicionou a palavras-chave: dinheiro, emprego e, no caso dos homens, mulher. Bundas e um belo par de seios chamam a atenção, também como concurso com salário inicial de 3.000 reais. Claro, a malícia do mundo pede isso misturado com outras coisas. Um dos mandamentos sociais contemporâneos prega a exploração de terceiros, mesmo amigos. Usufruto e usura são padrões. Então a felicidade de toda hora é sentirmos espertos por ganharmos em cima de alguém, seja como for. Mas não é só isso que marca meu enfado com a criatura empoleirada e cheia de firulas, que se julga inteligente. Não. A raça humana é viciada pela falta de pudores. Talvez já nos sentimos livres por termos ultrapassado todos os limites esperados de decência e dignidade ao longo da História. Ou, melhor, "humanidade". O que se pretendia nomear assim deveria mudar de nome. Deveria ser "impossibilidade". Porque nos escapa a compreensão, a paciência, o bom senso, a caridade. Até o que considero normalidade foi violada. Ou cogitaria perfeitamente passível um pai que prende a filha por 24 anos em um porão, a estuprando diariamente? Exemplo isolado? Lógico que não. A maldade e intolerância começa no motorista de ônibus que não pára em determinado ponto por haver apenas um passageiro a subir. Ou o carro que não cede espaço em um cruzamento para outro que tenta entrar na pista movimentada. Poucos minutos a mais perto do sinal não mudam a vida de ninguém. Mas ninguém cede. E pergunto, isto está longe de nós? A progressão de atitude é questão de circustância. Mas a imundice é a mesma.

Nenhum comentário: