quarta-feira, 11 de junho de 2008

Life In Technicolor


Ouvi Coldplay pelo primeira vez por insistência de amigos. Era o ano de 2001, e existia toda aquela onda em torno de Yellow e Troble entre minha turma, que andava meio enfadada dos mesmos sons que curtíamos então. Só que o disco não me pegou e vivi na verdade minha fase com Stereophonics, tudo por causa do excelente Performance And Cocktails, que pegara emprestado. Mas não tardou as coisas mudarem. Mudei de cidade no ano seguinte, e na minha nova escola conheci quem gostava mesmo do Parachutes. Foi bacana dar uma nova chance a pequenos clássicos como Don't Panic e High Speed, embora Shiver fosse minha favorita. E foi justamente em 2002 que A Rush Of Blood To The Head saiu. E, como sabem, foi justamente com esse disco que o Coldplay se tornou o que é hoje: vendagem expressiva, hits radiofônicos; acabou conhecido do grande público. Se estivesse escrevendo um livro, esse seria o ponto ideal para escrever "fim". O lado interessante da história termina aqui. Porque depois veio a fama e o sucesso e o enquadramento no mainstream e o ego de Chris Martin. O fato é que a tour do disco novo foi extensa, rendeu um DVD ao vivo e revelou a ambição que virou sinônimo de deboche e ironia sobre a banda: o Coldplay queria ser U2. É um pouco engraçado isso, pois outros grupos contemporâneos mostraram-se dispostos a conseguir o mesmo, a exemplo do The Killers. Para mim, esse desejo é meio ambíguo, mas enfim, esperava que tal vontade não afetasse a música que fariam em diante, já que seus últimos sucessos, como Clocks, apontavam para algo mais, digamos, distante do intimismo e crueza dos primeiros singles. Lá se foram 3 anos até a chegada de X & Y, o terceiro de estúdio na carreira deles. De cara criei uma ligação especial com o disco por uma série de acontecimentos na minha vida, que na minha cabeça me pareciam bem transpostos nas músicas. De alguma forma estava tudo lá, e quando ouvia What If, Square One ou Talk, me sentia mais imerso nos meus problemas e dúvidas do que nunca. Lógico, isso me fez pensar que Chris Martin e sua turma tinham produzido uma obra-prima, um álbum magistral e antológico. Mas essa opinião não foi compartilhada por todos. Ao contrário, boa parte da crítica decidiu bater no trabalho de todas as formas, o que obviamente não afetou as vendas nem o número de público por show. O disco anterior tinha blindado a banda. Com o tempo fui enxergando no X & Y novas dobras, novas expressões que me passaram batido nas audições tocadas pela introspecção. Não, não era uma obra de gênio. Mas continuava bom. Cheguei a percebê-lo apenas como uma continuação preguiçosa do A Rush Of Blood To The Head, uma evolução mínima que se descarregava em detalhes por cada faixa. No fundo, o Coldplay apenas se transfigurava a cada lançamento. O que esse pensamento capta de essencial vale para a interpretação que o quarto disco, com lançamento previsto para o dia 17 de junho mas previamente vazado na internet, impõe. Viva La Vida Or Death And All His Friends veio à luz anunciado por várias notícias que saíram nos últimos meses. Desde a escolha do produtor Brian Eno, passando pelas novas influências até a descrição de algumas músicas feitas pelo próprios músicos, tudo saía na imprensa. Mas a escolha do título, e a razão que levaram Martin a associar Frida Kahlo à sonoridade que rondava o estúdio nas gravações pareceu o fato mais intrigante. Mesmo aos que aproveitaram a citação para satirizar o que vinha pela frente, não havia quem arriscasse com exatidão como seriam as músicas. A verdade é que as mudanças anunciadas vieram, mas ainda tímidas. Ao menos não na intensidade que a banda poderia oferecer, se assim quisesse. Sim, há mudanças rítmicas em boa parte do álbum, novas texturas partindo da primeira faixa, Life In Technicolor, e que se extendem nas subsequentes, com ligações sutis entre elas. Na introdução de novos instrumentos e novas batidas, o grupo foi cauteloso, mas não sufoca a melodia de belos temas com camadas sobrepostas. Está tudo lá, exigindo apenas uma auscultação mais atenta. Quando ofereceram o primeiro single, Violet Hill, para download gratuito em seu site oficial, a imprensa e os fãs chegaram a supor que o disco seguiria a sua linha. Com sua guitarra suja e batida maciça impondo-se, marcante, a canção encarna uma das facetas em que escolheram investir. A mão do produtor mostrou-se precisa em induzir menos do que realmente existe, sem entretanto perder a autenticidade. O interessante é que não decepciona de verdade, não importa se quem esperava mais do mesmo ou aguardava mudanças que o colocassem num novo patamar. Incluso na última categoria, fiquei afoito, vergonhosamente afoito quando o baixei e ouvi pela primeira vez. Fiquei, confesso, ignorando mais o que o disco trazia e menos minhas expectativas. Mas ele me pegou, afinal. Sem dúvida, os tons que permeiam o disco são mais vivos, dando razão à comparação de Martin. As notas revelam-se e se contraem num plano de fuga que, surpreedentemente, não cheira à indecisão. As cartas são dadas na medida em que as novas experimentações foram absorvidas. Transfigurando-se nos nuances como sempre quis, o Coldplay mostra fôlego para tentar novos espaços sem arriscar perder os fãs, tal qual o U2. E com essa pequena ousadia segue agradando, inclusive a mim.



Em tempo: a sensação de proximidade com as músicas repete-se mais uma vez comigo. Talvez cada disco deles apareça no momento certo, vai saber...

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