quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Chuva Cai No Pára-Brisa Do Carro Quando Estamos Longe de Casa

Bang, bang. Foi assim, com um impacto duro e seco. Eu olhei pelo retrovisor e de repente a porta se abriu. Com a maquiagem borrada ela sempre foi mais interessante. Ficamos em silêncio alguns minutos, antes de sair pelas ruas escutando os ruídos da madrugada, vendo a Lua feita-de-papel estampada no céu, num abuso insolente. Enquanto isso ela examinava as unhas, nervosa demais para pensar. O que se passava em sua tumultuada alma? Passional do seu jeito, me pediu para estacionar em qualquer lugar, e caminharmos um pouco. O que eu peço é só um pouco do seu calor pra mim, ela sussurrou quando já estávamos mais próximos, confidentes provisórios de nossas fraquezas expostas. Engraçado como a bebida faz você caminhar com passos calculados, comentei meio sorrindo. Foi o bastante para ela chorar baixinho com os braços me apertando o corpo, com medo talvez de simplesmente desaparecer sem deixar rastro. Com medo de virar poeira cósmica, perdida entre as estrelas. Sem ninguém que a ouvisse, sem promessas para cumprir.

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