O rosto arrastado pelas esquinas como máscara da morte não me sai da cabeça. Penso nos olhos embotados e perco a fome, o sono. Não durmo há dias. O sangue marcado nos lábios entreabertos manchou a beira do asfalto e sempre que passo, olho com repugnância e tentação. Aquela mancha me alimenta de alguma coisa. Bem sei que desconheço intimamente qualquer tendência suicida. Mas de outro modo... Vasculhei minha correspondência dos anos anteriores: nada. Nenhuma pista. Ao menos nenhum amor antigo me espreita com subterfúgios. Também, todas as paixões estão resolvidas, não existe o que possa me intrigar nelas. Haveria reciprocidade no jeito em que enxergo a vida? Porque só assim para que eu possa pensar em uma mensagem sublimar. Vejamos: acordo, tomo banho, depois café, e saio para o trabalho. Pausa para almoço. Segundo turno do trabalho. Depois meu novo curso noturno. Retorno para casa, inverto a rotina matinal e então durmo. Onde está o elemento humano? O que me aproxima dos demais? Compartilhamos a mesma rotina ao menos. Muitos vivem e morrem assim. Haveriam de assimilar a mesma reação que tenho caso vissem a mancha de sangue no asfalto? Caso tivessem visto o rosto sendo arrastado... Não me sinto mais seguro a respeito disso. E essa ignorância me deixa bastante desconfortável. A quem recorrer? Todos que conheço dispõem dos mesmos recursos ridículos que eu para enfrentar meu problema. Às vezes nem sinto meu sangue correndo nas veias.
domingo, 6 de abril de 2008
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