Dormia no sofá e acordava com o gosto de cinza na boca. Ela amanhecia também. Chuvia noites inteiras. Mas sentia meu corpo seco, sem uma gota de atração. Quando punha os olhos no pé descalço que se aproximava, entendia a razão. Ela gostava de tentar. Sua melhor roupa, seu melhor jeito. E com que razão, perguntava eu? Nenhuma. Era maçante, até, explicar com palavras miúdas os vestígios em que me perdia, vastos como os caminhos para a interpretação de seus olhos. Tentava novamente. Mas as línguas se desencontravam. Dias a fio assim. Foi então que ensimesmei e, acompanhado pelas nuvens escuras no céu, parti logo cedo, mudo até em pensamento. Ela me perseguiu ao descobrir, sem perceber que buscava sossego no vazio dos braços desarmados. Depois de tudo, terminou com um bilhete. O papel estava em branco: já não me dizia mais nada.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
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Um comentário:
Otimo texto! Vc escreve muito bem... É jornalista ou entendi mal??
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