Quando criança não ficava tempo suficiente sob a chuva. Terminava me abrigando antes que o corpo ficasse encharcado. Não recordo porque fazia isso. Talvez medo de adoecer. Quem sabe. Um dia, nos idos do antigo 3º ano do ensino médio, voltava para casa quando uma tempestade de verão me pegou pelo caminho. Decidi retardar os passos para que passasse pelo ritual. A chuva, naquele momento, me dizia alguma coisa que não compreendi de pronto. Como diria Alberto Caeiro, fiquei apenas molhado. Tantos anos! Hoje essa data me veio à mente quando uma outra chuva caiu em plena tarde de abril. Retornava para casa, como dantes. Mas a mente... Trabalha em outro plano. Muita coisa passou até aqui, por isso a chuva não caiu do mesmo jeito. Nem como ritual, nem como estado úmido da realidade. Ela chegou espelhando os sinais, reconhecíveis agora. Enquanto as pessoas corriam eu mergulhava numa leniência, colhia gentil as descobertas que a vida não refaz depois. A chuva provoca um estado de espírito desnorteado, inclusive aos que ficam tristes.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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