Conheci um cara. Pediu trocado para cigarros. Alimento para o câncer, ele disse. Um tremendo clichê, mas joguei umas moedas e sentei para ouvir sua história. Estranhos entram em nossas vidas a cada dia e deixam rastros insondáveis. Perderia o ônibus mas, pensando bem, haveria tempo bastante. Então ele resmungou: tudo começou com uma mulher. Cheirava cocaína todas as quintas, na casa de amigos que davam festas para ter sexo fácil. Numa dessas, estava lá, ouvindo música eletrônica e mirando seus olhos azuis. Depois descobriria que eram falsos. No começo só transava drogas leves. Mas por causa dela pediu até um pico. Auge da loucura. Quando começaram, passavam dias trancados num quarto sujo de hotel, um quarto que era só deles. Dias, alimentando um ao outro. Um do outro. Com os meses, ela parecia ter mais resistência. Já ele estava completamente mergulhado no vício. Queria entrar pelas suas axilas depiladas, pelas covas da bochecha. Cheirava seu cabelo depois do sexo e entrava em transe. Dias sem igual. Então, de repente, ela passou a abusar do escuro. Voltaram às festas, aos amigos em comum. Não estava satisfeito, naturalmente. Procurava seus lábios, mas não os encontrava; estavam tensos. Seu desespero de paixão vulgar ficou estampado na cara. Ela dava as cartas, e pedia mais. Um carro emprestado e a viagem sem volta para o paraíso sem nome. Ele nunca conseguiu superar. Já usara todas as palavras do Verbo para ofender sua própria decência. Sem ela, as festas acabaram. As pessoas falavam entre si sobre o caso, acharam melhor afastá-lo de seu mundo. Agora, ele terminou, me enveneno para a morte, sem pressa. Aprecia na rua muitos tipos? Sim, e, no fundo, todos me lembram ela. Mas sei que há os capazes de coisa pior.
terça-feira, 8 de abril de 2008
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