Observava, do porto, o rio barrento, seduzido pelo rumor das águas. Na ponte as pessoas paravam de quando em vez e olhavam para baixo, assustadas. O rio sobe há semanas, prenhe das chuvas. O cais antigo ainda em movimento, com pessoas saindo dos barcos em silêncio. Disseram por perto que o volume era ainda maior, e que abaixava lentamente. Parnaíba se rendia ao rio, irmão gêmeo a tolher pessoas em suas casas com a enchente. Há muito já não se dependia dele para viver, vender, viajar. Os mais velhos ainda resmungam sobre o tempo em que ali, no porto, girava a renda e o futuro das gentes. Hoje está tudo perdido - perdido. Canoas saem sem brumo para a pesca pequena, barcos para o passeio de turistas, e o resto se move por outro meio. Às vezes encontro em Parnaíba esse encantamento de cidade ribeirinha muito próprio da região do Amazonas, quando tememos, mesmo que por instinto, o dia em que as águas desafiarem o homem e tomarem a sua terra, subindo numa paciência sem tempo; chamando o homem para si e o escondendo no leito de lama, absorvendo, inalando, até que sejamos rio também.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
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