Olhava para o céu opaco de agosto enquanto caminhava entre os carros. O mesmo percurso de antes, mas eu não me sentia igual. Olhava para os nomes estranhos que agora ocupavam as fachadas dos prédios velhos do centro e tentava encaixar o meu passado na retina, como se pudesse sobrepor a memória a tudo o que via. E assim a cidade foi perdendo o sentido, até se desfazer numa sombra formada de sua própria história. Os anos traçavam minha imaginação e mais longe eu fui, onde não existia objeto ou causa: o estigma dos desafortunados, arrastando-se pelas ruas. Não percebia o espaço que ocupava, anulado pela pressa com que desviavam-se de mim. Parecia que todas as vidas eram tão urgentes... Desesperadamente necessárias para esse universo compacto que tentei assimilar por algumas horas. Mas qual sentido havia nessa busca de um passado que se alterou quantas vezes eu o perscrutava? Não seria na velha loja de tecidos que permanecia inalterada, como uma relíquia dos tempos, entre duas praças, que encontraria minha verdade. Seria talvez longe daqui, em algum lugar onde eu ainda faça parte do processo. Algum lugar de lugar nenhum?
[Texto escrito em 9 de agosto de 2007]
[Texto escrito em 9 de agosto de 2007]
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