A noite é uma tela em tinta rubra como o sangue. A noite é um desvario que permanence por todos estes anos. Quando me mudei para cá, não me tinha percebido. Mas certa madrugada, a insônia, pôs-me de pé à janela olhando para o alto. Surpreendi-me. Então passei a fazê-lo com certa constância para averiguar se não seria sonho. Deveras...! Lá no céu a lua empalidece ainda mais, constrangida talvez pelo vermelho pulsante. Às vezes oculta-se, tirando meu sossego. Porque sim, temorizo-me com a idéia de que o satélite canse de nós e nunca mais volte. Os poetas já não a compararam com uma mulher caprichosa? Então. Bem me faz o acaso, ao afastar essas teorias da cabeça. O barulho dos gatos a revirarem o lixo, dos carros furtivos, das pessoas dormindo. O mundo continua lá fora, enquanto queixo-me com perturbações lunares. Talvez careça aí o tédio que me ausenta do calor humano. Ou do calor que me ausenta de mim próprio. Fatos obscuros, quem sabe, como o céu desta cidade.
sábado, 12 de abril de 2008
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